13 • Confusões em Areias de Pó

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- Pode sair daí, Macaque. Sei que está escondido aí. - Fanya fala em direção a um arbusto da frente da casa da amiga, que sacode e se abre revelando um primata negro.

- Sinto... sinto muito... - ele se desculpa, visivelmente transtornado.

- Cadê o Wukong? Ele não veio com você?

- Ele... ele...

Enquanto Macaque tenta responder algo, Mei surge de trás da amiga, se apoiando em muletas.

- Calma, Fany, vamos deixar o Macaque descansar primeiro, com certeza foi uma viagem bem longa e difícil, olha o estado dele.

Macaque está com pequenas escoriações espalhadas pelo corpo. Listras vermelhas se destacam no pelo escuro, o deixando parecido com um tigre.

- Foi mal - Fanya suspira. - Vou armar uma rede para você.

- O-obrigado.

- Vamos te deixar descansar mas saiba que estamos ansiosas para saber aonde ele está. Vocês são tão próximos que chega a ser estranho vê um e não ver o outro.

- Hum...

Assim que Macaque termina de tomar um banho no lago dos fundos da residência de Mei, Fanya o guia até um quarto de hóspedes.

- Está tudo pronto, armei de forma que fique bem perto do chão assim você não precisa se esforçar tanto para subir e descer.

- Ah... não sei nem como agradecer... - Macaque diz já deitado, enrolando a cauda no próprio corpo.

- Se puder falar aonde está aquele danado do Wukong... - Fanya começou a falar mas parou ao ouvir Macaque resonando, o encara e percebe que dorme - oh. Já dormiu. É, estava bem cansado mesmo...

Mei adentra o quarto e vê o yokai aproveitando a estadia.

- Não falei que ele estava cansado? Foi bem legal da sua parte armar essa rede para ele.

As duas saem do quarto, fechando a porta, conversam pelos corredores.

- Acho... acho que fui muito dura com eles... - Fanya diz baixinho. Mei a encara e percebe que lágrimas rolam no rosto da amiga.

- Não chore, você estava irritada...

- Aonde será que está o Wukong? Estou preocupada com ele.

- Com certeza ele e o Macaque brigaram e, por isso, estão separados.

- Isso tudo é culpa minha, não deveria ter brigado com eles!

- Fica calma, não adianta ficar assim! Tudo vai ficar bem, vamos atrás dele, ele não deve estar tão longe.

- Mas... e seus machucados?!

- Pfff! Isso não é nada para uma dragão! Vou ficar bem! Até parece que você não me conhece!

Mei adentra um quarto e mostra um frasco a yokai.

- Poção "Cura Rápida"?! - Fanya a encara com olhos como sóis, de tão grandes que estavam.

- Yeah, yeah!

- Não me diga que...

- É uma poção cuja receita é passada de geração para geração a milênios na minha família? Sim, está certíssima!

- Mas você mesmo disse que nunca usaria pois tem medo dos efeitos colaterais um tanto desconhecidos!

- Ah mas essa é uma emergência! Queremos saber se o Wukong está bem! Você não quer saber se ele está bem? - Mei vê Fanya assentir e prossegue. - Estamos preocupadas com ele, nada melhor do que ir atrás o quanto antes!

- Espero muito que ele não tenha se metido em encrenca... e que você não passe mal com essa poção!

- Vamos torcer para que tudo dê certo.

- Sim!

♤ ♤ ♤

Em uma caravana no deserto composta de 30 Kappas, um ser que é parte tartaruga, parte sapo, parte ave, um yokai fica impaciente.

- Cara... é sério. Você tem que me tirar daqui. É sério. - Wukong começa a pular para todos os lados dentro de uma gaiola tão pequena que mal cabe ele sentado.

- O que vou ganhar com uma praga como você a solta? - questiona um diabrete de três chifres que é escravo dos Kappas.

- Já chega! - Wukong consegue quebrar a gaiola, corre e morde todos que estão em sua frente. Uma gritaria se inicia, ninguém quer ser alvo do ex prisioneiro.

- Esse macaco é o demônio!

- Sinta a ira do todo poderoso GRANDE SÁBIO! Muah ha ha ha! - Wukong pula na cabeça dos Kappas e joga-os no chão, tenta enterrar meia dúzia na areia enquanto foge das mãos dos mais corajosos da caravana.

- Para! Para! Para!

- Macaco louco! Macaco louco! Corram!

- Bastardos! Isso! Corram mesmo! HAHAHAHAHA! - assim Wukong fica com boa parte da bagagem enquanto os donos fogem da ira do pequeno símio.

- Que horror, heim - uma pequena moça o encara.

- Mazoque?! - Wukong cai de cima dos despojos. - Q-quem é você, fedelha? Porque não está correndo com medo de mim?

- Fedelha? Fedelha? Você é um idiota por me chamar assim! Me respeite! Tenho 190 anos! Então não me chame assim!

- 190 anos? Que mentirosa! Com essa aparência, não deve passar dos 12, hehehe.

- Escuta aqui, seu saguizinho atrevido! Sou uma fada e por isso pareço mais jovem do que realmente sou.

- Tá, tá, tanto faz, tô nem aí - ele diz enquanto coça um lado do traseiro e boceja.

A fada estrala os dedos e uma gaiola prende Wukong.

- Pronto, minha parte já está feita - a fada limpa as palmas das mãos uma na outra com a maior satisfação, com um sorriso de orelha a orelha.

- Sua maluca! O que pensa que está fazendo?! Como ousa prender o Grande Sábio Igual ao Paraíso?!

- Você pediu por isso, seu saguizinho levado!

- Nyaaaaarhg! Me tira daqui! Vai se arrepender por isso! Estou falando sério!

- Ai você fala demais, sabia? Credo.

A fada estrala os dedos e a voz de Wukong desaparece. O Grande Sábio se desespera e começa a sacudir a gaiola para valer.

- Como consegue ter tanta energia assim? Só complica as coisas cada vez mais.

A fada estrala os dedos e aparece uma flor no topo da própria cabeça que exala sonífero. O yokai logo sucumbe ao sono.

- Finalmente vou poder te carregar sem problemas!

A fada pega na alça da gaiola e a coloca nas costas de um grifo, sobe nele logo em seguida. De dentro de uma bolsinha que sempre leva consigo, a fada puxa um pequeno espelho mágico que usa para se comunicar com os outros. O coloca na altura do rosto e fala na frente dele, toda sorrisos, orgulhosa da sua captura.

- Rainha Aranha? Já posso entregar o seu pedido? Consegui um símio místico que tanto queria! Ele é tão fofinho!

Wukong & MacaqueOnde histórias criam vida. Descubra agora