Eu Vou Cuidar de Você (COMPLETA)

II

- O que? - ela gritou. O destino não poderia ser tão filho da puta e fazer ela ficar presa ali com ele.

- O elevador parou, deve ter quebrado ou algo assim.

Não, não, não, não, não. Livie pensou.

- Nós temos que sair daqui. - a mulher começou a bater na porta e gritar por ajuda.

- Não adianta. Se for queda de energia vai voltar rápido mas eu acredito que seja falta de manutenção, esse prédio é antigo, não deve haver uma vistoria aqui há anos.

- E você, quem é? Um engenheiro, por acaso?

- Não, Sra. Irritante, apenas acompanhei meu irmão quando ele veio comprar o apartamento e ouvi o síndico dizer algo assim. - falou encostando-se na parede e sentando no chão. - Por que você não se acalma e senta? Isso pode demorar.

- Muito obrigada, prefiro ficar em pé. - Olívia bufou.

- Nossa, até que é bonitinha mas é uma babaca. - retrucou baixinho.

- O que você disse? - pelo visto não falou baixo o suficiente.

- Nada, eu não disse nada. Agora vê se cala a boca e para de me irritar.

Olívia preferiu não responder, não iria perder seu valiosíssimo tempo com esse ogro. Tirou o celular da bolsa e discou o número da prima. No segundo toque Emily atendeu já gritando:

- Onde diabos você está? Você disse que já estava descendo, estou de esperando fazem 5 minutos.

- Escuta. Eu fiquei presa no elevador, eu preciso que você me ajude.

- O quê? - Emmy indagou surpresa.

- Isso mesmo que você ouviu, a droga do elevador resolveu parar de funcionar comigo dentro e pra piorar o babaca do meu novo vizinho está aqui também, - fez questão de falar a última parte mais alto fazendo com que Eric ouvisse, arrancando um sorriso dele - eu preciso que você procure o porteiro ou o síndico e avise o que aconteceu, não aguento mais 5 minutos presa aqui.

- Tá, vou ver o que eu posso fazer. Aproveita aí. - falou num tom malicioso.

- Vai à merda. - falou rindo e desligou na cara da prima.

Passou mais de 10 minutos em pé, o silêncio já estava incomodando a ambos mas à Livie o incômodo mesmo era a dor nas pernas que ela estava sentindo por ficar tanto tempo em pé. Como quem não quer nada, ela foi escorregando na parede e sentou-se ao lado de Eric, que continuou calado por longos minutos.

- Me desculpa, - ele decidiu quebrar o silêncio - eu fui um grosso com você. De novo.

- Já é a segunda vez desde que nos conhecemos que você pisa na bola e pede desculpa. De novo. - ela respondeu.

- Eu não sei o que me dá. É porque você é muito irritante, tudo o que eu falo você vem com respostas atrevidas.

- Você acaba de me pedir desculpas e me chama de irritante e atrevida. Qual o seu problema?

- Qual o SEU problema? Eu te pedi desculpas, se não quiser aceitar tanto faz. - cruzou os braços parecendo uma criança quando a mãe não dá o brinquedo que ela pediu.

Após alguns segundos de silêncio os dois começaram a gargalhar, eram dois cabeças dura mesmo.

- Acho que começamos com o pé esquerdo, vamos tentar novamente. Meu nome é Eric Freitas, muito prazer. - falou estendendo a mão.

- Olívia Antunes, o prazer é todo e sempre meu. - segurou a mão estendida com um risinho malicioso.

- Então, o que você faz da vida? - Eric perguntou olhando pro teto, estava começando a fazer calor.

- Eu tenho uma confeitaria à duas quadras daqui. Sweet Pie, você deve conhecer. - fitou-o de lado. - E você?

- Já ouvi falar. Como eu já disse antes, sou clínico geral. Por falar nisso, era para eu estar dando plantão agora. - falou olhando o relógio e verificando as horas. Sua mãe iria mata-lo, era para ele já ter chegado com as roupinhas da Cat.

- Pelo visto, você vai se atrasar um pouquinho. - Livie falou fazendo graça.

- Pelo visto, eu não vou sair daqui nunca mais. - fitou o rosto da garota e viu que ela, assim como ele, estava começando a suar - Tá calor aqui, né?

- Muito. - a garota ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo pensar em alguma coisa e de repente tirou a blusa, deixando-o boquiaberto.

- Agora as coisas estão melhorando. - Eric falou esfregando as mãos uma na outra - Quer que eu tire a minha também, gatinha?

- Para de ser babaca. - Olívia o empurrou pelo ombro - Eric, meus olhos estão aqui em cima. - falou estapeando sua cabeça, o rapaz não conseguia desviar o olhar do sutiã branco de rendinha. E do que tinha dentro dele, claro.

- Desculpa, é impossível não olhar. - recebeu um grunhido de desaprovação como resposta - Só para você não ficar em desvantagem. - tirou também a camisa vermelha que vestia, deixando a vista seu tanquinho.

Puta merda, eu estou fodida. Livie começou a se abanar, sem desviar os olhos do tronco do homem.

- Olívia, meus olhos estão aqui em cima. - Eric imitou a fala dela de minutos atrás, a mulher levantou a cabeça olhando profundamente em seus olhos castanhos. E que olhos.

- Tá bom, chega de gracinhas. - respondeu emburrada.

- Calma, estressadinha, eu só estava brincando. - falou cutucando a barriga da mulher, fazendo cocegas.

Eric dobrou a camiseta, pegou a maletinha da Peppa Pig de Cat e guardou dentro. Olívia ao olhar a bolsa lembrou-se da menina.

- Como ela está?

- Triste, bastante triste. Apesar de ainda não entender o que aconteceu com os pais dela direito, ela sabe não os verá mais. É difícil ver minha garotinha que sempre foi tão feliz, tão sorridente, tristinha daquele jeito. - abaixou a cabeça ao lembrar-se da sobrinha, na última noite dormiu agarrada a ele após inúmeros pesadelos.

- Vai passar, eu sei como é. Já perdi minha mãe e não foi nada fácil, imagino na idade dela que ainda era tão dependente dos pais. - Livie sorriu ao lembrar-se da mãe, nunca superaria sua morte.

- Eu sei que vai passar mas está sendo bem difícil agora. - após alguns segundos tornou a falar. - A Cat me falou bastante de você, é Tia Livie pra cá, Tia Livie pra lá. Eu lembrei que você disse que cuidava dela quando meu irmão e minha cunhada precisavam, eu queria te perguntar se você pode voltar a fazer isso. Minha vida é uma loucura, cheia de consultas e plantões e eu não queria ficar alugando a minha mãe, ela já tem a vida dela. Pode ser?

- Claro que pode, eu amo cuidar da Catarina. Mas então, sua namorada não pode ficar com ela? - insinuou, precisava saber se ele era comprometido ou Deus a ajudasse, ela iria atacá-lo ali mesmo.

- Eu não tenho namorada. - Eric falou mexendo as sobrancelhas - E você?

- Graças à Deus, tô limpa. - respondeu zombeteira, levantando as mãos em forma de rendição.

Após uma longa troca de olhares, os dois foram se aproximando. Eric enroscou os dedos no cabelo dela e roçou seus narizes levemente, quando ia beijá-la o elevador deu um solavanco e começou a mover-se novamente, assustando os dois.

- Droga de elevador! - Livie suspirou alto e se levantou, ficou aguardando o elevador chegar ao térreo. Quando as portas se abriram, deram de cara com um senhor de meia idade que parecia ser o técnico, Emmy e Louisa.

- Parece que as coisas esquentaram por aqui, Lou. - Emily falou abrindo um sorriso parecido com o do Gato de Cheshire de Alice no País das Maravilhas.