Uma situação que preocupa.

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Eu sou uma garota de curiosidades.  
 
Puxa, como eu penso em coisas que merecem uma pesquisa. Por exemplo: avião tem buzina?  
 
Fiquei muito extasiada quando descobri que sim, eles têm. Mas, nada pode me fazer sair da fúria de titã que estou sentindo agora. Caminhando em passos passivos-agressivos, a única coisa que me impediu de atear fogo nesta faculdade foi o fato de eu estudar nela.   
 
Mas, nada me impede de atear fogo nos alunos.   
 
Não vou mentir, acho que me senti melhor com esse pensamento, mesmo que o fato de eu querer, mesmo, atear fogo por aqui – principalmente por causa do povo futriqueiro que, por onde eu passo, fofocam e me encaram sem nem tentar disfarçar – ser bem real. 

O que é preocupante.
 
Eu não sou tímida. Muito pelo contrário, sou um evento da natureza. Uma avalanche de sentimentos que, por alguma razão, é muito boazinha com quem não deve. Sou sociável, amigável, uma coisa legal. Me bota numa festa para ver se não faço amizade com uns 10 em 3 minutos. Dizem por aí, até, que eu sou um astro do pop.  
 
Mas, tudo tem um limite. E eu estou chegando perto do meu.   
 
Tudo bem, eu sei que a culpa é minha. Fui eu quem aceitou a ideia desse plano maluco, fui eu quem correu atrás do Sasuke e suas crias, fui eu quem aceitou o convite para a festa e conseguiu o que queria: as pessoas estão comentando. Isso é bom. Não deve demorar muito para o Sasori se doer e eu poder correr para bem longe de Sasuke, Kurama e Akatsuki.   
 
Vem aí tempos muito bons.   
 
Eu só não esperava que as pessoas seriam tão invasivas. Desde que cheguei no campus, todos os olhares pareceram se virar até mim e,  por um momento, eu odiei tudo e todos pela Kurama ser tão perto da faculdade. É claro que eu poderia ter pego outro caminho, um que eu não tivesse que atravessar o campus e tudo mais. Mas, acho que não mudaria tanta coisa, porque apesar de ter gente na faculdade, também teria gente na festa da Kurama e os olhares com certeza viriam da mesma maneira.
 
É uma coisa que não dá para fugir.  
 
— Apenas aja naturalmente. — Hinata soprou do meu lado, tranquila demais, enquanto se checava num espelho minúsculo.   
 
— É muito fácil para você falar. Aliás, por que você está tão calma? Não está ansiosa para falar com o Naruto?   
 
— Mais ou menos. Eu só prefiro não fazer disso um grande caso. — Senti um tom de ironia nessa frase, mas não liguei. Na verdade, eu senti inveja da coragem da Hyuuga. É isso o que eu quero para mim. — Você deveria fazer como eu: simplesmente fingir que não é grande coisa. 
 
— Mais uma vez, é muito fácil pra você falar. Todas as pessoas estão me encarando, conversando sobre mim... eu não sabia que era tão difícil assim ser popular. — Disse meio incomodada, notando outro grupo apontando discretamente para mim.  
 
Inferno de vida.  
 
— E você adora isso.   
 
— Adoro um pouquinho, sim. Mas, já está ficando desconfortável. — Estalei a língua, fazendo um gesto muito feio para um garoto que não parava de me encarar. — Viu? Eu acho bom que o pessoal já esteja fazendo fofoca, mas isso é demais.   
 
— Eu não acho que aquele garoto estava te olhando por você estar andando com o Sasuke. — Hinata retrucou se virando até mim, me olhando de cima a baixo e sorrindo em seguida. — Acho que ele preferia estar no lugar dele, na verdade.   
 
— Não entendi.   
 
— Não? — Vi quando ela guardou o espelho na bolsa. — Amiga, você está linda e é o momento. Tenho certeza de que não estão te olhando só por causa da Kurama. Digo, quem é que perderia a chance de ficar com uma garota linda e que agora é popular?  
 
Parei por um instante, gostando dessa nova perspectiva. Estão me encarando porque sou bonita?  
 
— Não é pra tanto. Estão me olhando porque devem me achar uma devassa por ter corrido de um líder de fraternidade para outro em duas semanas. — Disse por dizer, porque no fundo, eu decidi concordar com Hinata.  
 
Digo, não é de todo ruim que as pessoas comentem, mesmo. Se me acham bonita, hum, inusitado, mas tinha que acontecer alguma hora.   
 
Continuem.  
 
— Ah, se manca. — Quase fui agredida nesse meio tempo. — Estão te olhando porque você é gostosa. Acabou.  
 
— E quem disse que eu quero isso? Na verdade, isso daí é bem a sua cara, come quieto.  
 
— Faz mesmo, não é? — Hinata parou para pensar um pouquinho, e fiquei feliz por ela estar tentando. — De qualquer forma, hoje só tenho olhos para o Naruto.  
 
— Então, vai mesmo cair de boca nessa relação? — Retruquei de maneira automática, já que estava mais concentrada em observar as pessoas que estavam me encarando de volta.  
 
— Que relação? Vou com calma, mana. Um beijinho ali, outro aqui, e a mamãe fica feliz.  
 
— Acho muito bom, porém, eu ainda me preocupo. Só tenta não se assustar demais, tá bom? — Virei o rosto um pouco para encará-la com seriedade. Hinata me devolveu o olhar logo depois. — Não precisa ficar insegura, você já sabe que ele te quer. Só mantém a calma, eu vou estar do seu lado o tempo todo.  
 
A Hyuuga ainda continou algum tempo em silêncio, provavelmente tentando essa coisa de "pensar" de novo, só que dessa vez, no próprio mundinho dela. Eu fiquei calada e voltei a observar o campus com certa tremedeira, e logo depois descobri o porquê.  
 
Estávamos chegando perto do prédio da Kurama.  
 
— Sakura, vamos fazer um acordo? — De repente, Hinata parou no meio do caminho e me puxou junto. Quando a olhei, ela parecia bastante eufórica com alguma coisa, e foi impossível não pressentir algo ruim. Engoli em seco, respirei e tremi um pouco, para dar mais tensão para o momento. — Amiga, ambas somos mulheres sequeladas com problemas para resolver hoje, não somos? — Tive que concordar com ela. — Então... por que não colocamos um "incentivo" para terminarmos tudo hoje?  
 
— Como assim? — Perguntei eu, ingênua demais para ver a maldade por detrás dos olhos da Hyuuga.  
 
Essa é a diferença entre Hinata e Ino. A Hyuuga consegue disfarçar bem o seu mal. Ino nem tenta. Por isso é muito mais fácil ser amiga dela. 
 
— Vamos fazer um acordo. Eu me resolvo com o Naruto, e você tem que me prometer que vai se divertir hoje.  
 
— Eu vou me divertir hoje, Hinata.   
 
Eu tenho ótimos planos. Estava pensando em comer um bom sanduíche e tomar um suquinho de morango para iniciar a noite. Depois, iria jogar dominó com o porteiro e repetir o processo de comer quando desse.
 
Quero ficar a noite toda assim.  
 
— Não é exatamente sobre isso o que eu quis dizer, e você sabe. — Hinata aproximou seu rosto de mim, como se estivesse prestes a me contar um grande segredo. — Eu quero que você beba.  
 
— Jamais. — Foi o que eu respondi, curto e grossa.  
 
— Antes de você negar...  
 
— Eu já neguei. — Cruzei os braços, encarando bem o rosto feio dela. — E me surpreende você, que sabe de toda a minha história de vida, me induzir ao álcool.  
 
— É por isso mesmo que eu acho que você deveria experimentar hoje. Você precisar superar seu trauma.  
 
— Não preciso, não. Estou muito confortável traumatizada.  
 
— Menos. — Hinata bufou de tédio, imitando o meu gesto de cruzar os braços. — Só tenta experimentar, tá bom? Eu entendo todo o seu receio, mas ainda acho que você deveria se divertir hoje.  
 
— Eu vou me divertir.  
 
— Jogar baralho com o porteiro não é diversão! — Eu estava pensando em dominó mesmo, até porque não sei jogar baralho. Mas, preferi não dizer isso a Hinata. — E outra, faça isso como comemoração da vitória do seu plano. Hoje tudo isso aqui acaba, não é? Comemore.  
 
— Vou comemorar apenas quando Sasori cair do pedestal dele. — Estreitei os olhos na direção dela, sabendo bem que ela estava usando argumentos muito bons.  
 
— Então faça por mim, que vou me atirar ao lobo hoje. — Ela não parecia muito feliz ao dizer isso. — Me dá esse incentivo, amiga. Eu preciso saber que outra pessoa também está se ferrando enquanto eu me ferro. Vamos nos ferrar juntas!  
 
Mordi o interior do meu lábio, me sentindo tentada pela carinha de cachorro abandonado que Hinata sabe fazer bem.  
 
"Você precisa superar o seu trauma", o caralho que eu preciso. Estou muito de bem com a vida, o trauma é só um adereço. Porém, indo contra todas as fibras do meu corpo, eu soltei o ar que estava respirando e decidi que daria essa força para minha amiga.  
 
— Tá, eu faço. Mas, já adianto que eu não fico bêbada. — Retruquei, sendo atingida por um abraço apertado logo depois.  
 
— Obrigada, mana! — Foi tudo o que ela disse, antes de passarmos um tempinho abraçadas ali até voltarmos a caminhar em direção à Kurama.  
 
Ambas ficamos em silêncio durante o caminho, e eu preferi assim, porque quando olhei mais adiante, eu percebi que já estávamos perto demais.   
 
E eu preciso de um momento só meu para surtar.   
 
Quando nós estávamos oficialmente na rua do prédio do Sasuke, algo mudou. Se antes os olhares estavam me incomodando, agora eu conseguia mesmo senti-los queimar na minha pele. A rua estava infestada de carros e de pessoas, e todos ali, que não estavam bêbados o suficiente para perder os sentidos, se viraram na minha direção e me olharam com curiosidade. Outros com sorrisos disfarçados, e outros com uma careta no rosto.  
 
Em outras situações, eu me sentiria muito bem por estar sendo tratada como uma celebridade por todos. Acho que combina comigo. Porém, não era exatamente esse o efeito que eu queria causar. Fofoca, manos. Uma fofoquinha ali e aqui já era o suficiente.   
 
Agora, estou me sentindo um cãozinho que todo mundo quer fazer carinho.  
 
— Nossa... acho que você tem razão. É muita atenção para uma pessoa só. — Hinata soprou do meu lado baixinho, diminuindo os passos junto comigo antes de chegarmos na entrada.  
 
Acho que ambas queríamos dar uma pausa para respirar antes de entrarmos e encararmos nossos demônios, porém, fomos leigas demais. Quando penso que não, avistamos Suigetsu e Karin na entrada do condomínio e, assim que eles nos notaram ali, começaram a acenar e a gritar alto na nossa direção.  
 
Agora, o plano que era parar e dar uma pausa, não tinha mais chances de dar certo. Até porque Sui e Karin gritaram nossos nomes, e muitas pessoas se viraram para olhar.  
 
Puxa, que má sorte.  
 
— Realmente, é uma situação que preocupa. — Disse com pesar, quase chorando.   
 
Senti Hinata agarrar minha mão e a apertar de leve, me dando a coragem necessária para terminar de dar os passos restantes até os dois emos queridos, sempre atenta ao pessoal me encarando.  
 
Porém, pela primeira vez no dia, eu percebi que os olhares não demonstravam ser hostis como eu pensei que seriam. Pelo contrário, alguns me olhavam com um sorriso no rosto e olhos brilhando, como se eu fosse a pessoa mais interessante no planeta. Também, não muito depois, eu percebi alguns olhares semicerrados e lábios mordidos, piscadelas e até alguns sorrisos de canto de uns caras, o que acendeu uma chaminha de narcisismo dentro de mim.   
 
De repente, eu me lembrei do que Hinata disse sobre estarem me encarando por eu ser bonita e percebi que era bem real.  
 
Fiquei feliz, fiquei satisfeita, e quando cheguei até Karin e Sui, já era outra pessoa.  
 
Uma pessoa sorridente.  
 
— Suigetsu, Karin, queridos! Como vocês estão? — Fui a primeira a comprimentar eles, chegando até a fazer um pouco de pose para os meus telespectadores.  
 
— Estamos ótimos, principalmente agora que vocês duas chegaram para nós fazer companhia. — Karin parecia feliz e levemente embriagada quando veio me abraçar. Já Suigetsu ficou parado, mas me cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso. — Agora vem, vocês duas não têm tempo a perder! Daqui a pouco começam os desafios e nós temos que estar o mais bêbadas possível.   
 
— Desafios? — Interroguei, curiosa e querendo fugir furtivamente do assunto "embriaguez". 
 
— É um lance que acontece nas nossas festas. Nós inventamos várias gincanas e cada pessoa pode desafiar quem quiser. — Quem retrucou foi o Sui.
 
— Isso não é meio bárbaro? — Me senti uma idosa de 80 anos cujo tem certas opiniões polêmicas, mas tive que perguntar.  
 
— Isso é política. — Suigetsu deu de ombros. — É assim que funciona por aqui.  
 
— E aí, estão prontas para beber e brincar? — Karin perguntou animada.  
 
— Ah, na verdade... — Pude escutar o tom manhoso da Hyuuga bem do meu lado, tom esse que ela só usa quando está prestes a fazer algo que eu, com certeza, não vou gostar. Naquele instante, previ que algo estava errado. — Eu não vou poder ir com vocês. Tenho que resolver umas coisas por aí.   
 
Empalideci no mesmo instante, semicerrando os olhos até Hinata.   
 
Essa mana está maluca? Que isso? Será que ela não tem um pingo de preocupação comigo para me deixar sozinha com Suigetsu e Karin? Ainda mais quando os dois estão visivelmente bêbados?   
 
Digo, o que será de mim?  
 
Jaz, aqui, Sakura Haruno.   
 
— Que coisas? — Perguntei, usando um tom de voz que deixava muito bem claro que, se ela ousasse me deixar sozinha com esses dois devassos malucos, ela não veria o nascer do sol amanhã.   
 
— Burocracias amorosas. E antes que fale alguma coisa, se lembre que quem me obrigou a resolver este assunto, mana, foi você. — E ela ainda ousou a colocar a culpa sobre mim.   
 
Beleza, certo.   
 
Se eu morrer hoje, deixo muito bem claro que a culpa foi de Hinata Hyuuga, essa holandesa safada.   
 
— Pois te desejo toda a boa sorte do mundo, querida. Vai precisar. — Sorri falsamente. Hinata ainda me olhou por uns 10 segundos antes de suspirar profundamente e se afastar de nós.   
 
Canalha.   
 
— Agora que somos só nós três... por que não vamos ali, curtir um pouco? — Karin soprou ao meu lado, pertinho de mim, com um braço ao redor dos meus ombros e um sorriso no rosto.   
 
— Eu tenho medo. — Fui sincera. Mas, não foi o suficiente.   
 
Quando penso que não, Karin me puxou usando a força de mil cavalos e me arrastou para dentro da festa com Suigetsu agarrado no outro braço. Por um instante, achei bom não ser a única ali sendo oprimida pela ruiva, mesmo que eu tenha decidido ir até lá. É meio hipócrita, mas ninguém espera mexer com fogo e sair queimado. Digo, quem é a pessoa que deseja ser queimada? Como eu disse, tudo o que eu pretendo angariar é fofocas, e como estou numa festa, não farei desfeita de uma boa diversão para animar a semana e comemorar o fim do meu plano.   
 
E que venha mais.   
 
— Maninha, você quer beber alguma coisa? — Percebi a voz do Suigetsu estar meio arrastada, o que acionou um alarme dentro da minha cabeça implorando para que eu recusasse.   
 
Algo me diz que esses dois são perigosos.  
 
E eu estava prestes a negar a oferta com todas as minhas forças, se não fosse pela Hinata e seu maldito dom de me fazer mudar de ideia. Encarando Suigetsu caminhando na minha frente, me lembrei do que ela disse sobre eu precisar me divertir e superar meu trauma. Bom, experimentar não vai matar ninguém. E saber que eu vou ter controle da quantidade que vou tomar e que não chegarei nem perto de ficar bêbada, me passou certa segurança.  
 
Por isso, fiz o que nem eu acreditei que aconteceria algum dia.  
 
— Aceito, sim.   
 
Tempos novos vieram.  
 
Não julgo o meu receio de tomar esse veneno. Eu tenho um trauma que envolve bebida, nada mais justo eu não querer tomá-las agora. Só que hoje é diferente, vou começar devagar e, quem sabe, no futuro eu já esteja mais aberta nesse quesito. Para isso acontecer, primeiro tem que ter um começo, e aparentemente, esse começo é hoje.  
 
Encarando os dois derreterem de tão acabados na minha frente, ouvindo a música tocando tão alto que mal conseguia escutar alguma coisa, eu apenas me deixei ser conduzida quando Karin agarrou meu pulso com firmeza, e esperei pelo o que viria.  
 
Suigetsu ficou ao meu lado, meio lá meio cá, parecendo estar abatido pela bebida. Tadinho. E Karin não ajudava quando abria caminho entre o pessoal espalhado pelo jardim, nos puxando com força que só parecia deixar o querido pior. De qualquer forma, eu estava mais preocupada em me desculpar com todas as pessoas que a ruiva dava cotoveladas, aparentemente, sem querer – preferi acreditar na pureza das ações dela. Hum, bem, foram muitas pessoas.   
 
Porém, o que mais me impressionou, até que eu percebesse o óbvio, foi que as pessoas sequer notaram ou se importaram com o cotovelo nervoso de Karin. Na verdade, enquanto ela utilizava de uma maneira passiva-agressiva para abrir caminho para nós passarmos, as pessoas olhavam para mim, e não para ela. Sem exceção, todos se viravam apenas para me olhar, igualzinho como estavam fazendo no campus da faculdade.   
 
Torci o lábio, meio afetada e desconfortável, até que eu lembrei da teoria de Hinata e pude ser feliz novamente.   
 
Eles estão me olhando porque sou bonita? Primeira vez que me acontece. Não posso dizer que estou habituada com isso. Mas de qualquer forma, não quero causar um rebuliço. Se eles querem olhar, tudo bem.  
 
Olhem, queridos.  
 
— Amiga... o que você vai querer? — Assim que finalmente chegamos na mesa de bebidas, Karin perguntou arrastado no pé do meu ouvido, já que estávamos perto das malditas caixas de som e a música estava insuportavelmente alta.   
 
Tem um dedo do Sasuke nisso.   
 
— Uma coisinha leve. — Disse eu, tremendo e encarando com horror a quantidade de bebidas que tinha em cima da mesa. — Eu quero começar devagar. Qual é a coisa mais fraquinha que tem aí?  
 
— Pinga. — Suigetsu foi sarcástico, dando um passo à frente para alcançar duas garrafas. — Relaxa, eu vou fazer uma batida pra você. Prometo caprichar.   
 
— Tem problema não, colega. Faça na paz e sem interrupções. — Retruquei, almejando o pior para o Suigetsu e a mesa cheia de bebida. Podia cair um meteoro em cima dos dois e eu seria muito feliz. — Mas, lembra que a bebida tem que ser fraquinha, tá bom? Leve. Inclusive, quanto é a bebida?   
 
— A festa é open bar.  
 
 
Esse foi o meu erro.  
 
 
Uma coisa é se divertir numa festa aonde rola umas cervejas, drinks e você tem que pagar por elas. Você não tem dinheiro infinito, então uma hora você para – no meu caso, estarei parando minhas atividades alcoólicas depois da primeira golada. Porém, outra coisa é ser feliz numa festa open bar. Isso me parece ser o prólogo de uma nova temporada da minha vida. Aquela em que eu passo internada num hospital e cometo as piores decisões da minha vida.   
 
Encarando Suigetsu e Karin com os olhos arregalados por causa do susto, eu não dei mais do que dois meses para eu realmente parar internada no hospital.  
 
— E da onde um bando de universitários tirou dinheiro para bancar uma festa open bar? — Tentei descontrair, mesmo que estivesse em pânico.   
 
— A nossa fraternidade participa de várias gincanas e... atividades que dão recompensas em dinheiro. Nada mais justo do que nos dar um... descanso e ainda aumentar nossa po... popularidade. — Quem respondeu foi Karin. Suigetsu abriu um sorriso convencido enquanto terminava de colocar energético no meu copo. — É por isso que eu digo... a Kurama é a melhor!   
 
Precisei ficar calada neste momento, ou diria algo que me faria ser presa. De qualquer forma, apenas sorri amarelo e aceitei a bebida que Suigetsu tinha acabado de fazer, tendo bastante preconceito com o tamanho do copo.   
 
Ali tinha quase meio litro de bebida, energético e gelo de água de coco.   
 
Suspirei, para acalmar.   
 
Os olhos do Sui estavam cravados em mim, como se esperasse que eu experimentasse e dissesse se estava bom ou não. Karin me encarava também, mas não parecia estar neste planeta. Na verdade, ela estava quieta até demais, mas com a pressão de estar segurando um coma alcoólico de quase meio litro nas mãos, não me atentei tanto nesse detalhe.   
 
Encarei o copo, depois encarei Suigetsu, e percebi que aquilo era um déjà vu. Me lembro muito bem da época que fui desafiada a tomar vodca e me engasguei toda na frente deles dois. Como a minha situação pode ser diferente agora?  
 
Mas, além de tudo isso, ainda tinha a ansiedade crescendo por dentro por estar ingerindo algo alcoólico depois de muito tempo evitando. Simplesmente, não era para eu estar aqui, fazendo essa patifaria. Muito pelo contrário, eu deveria estar fazendo companhia para o porteiro junto de um bom dominó.  
 
E não estou, e é isso o que me ferra.  
 
Quando eu percebi que estava enrolando demais, decidi que era hora de agir e que seria melhor se eu fosse rápida. Quanto mais rápido eu provasse a bebida, mais rápido os dois iriam sair do meu pé. E ainda terei sido honesta com Hinata.  
 
Então, depois de dar uma boa respirada, aproximei o copo dos meus lábios e tomei o primeiro gole da bebida, pronta para sentir o gosto amargo do álcool.  
 
Porém, quando o gosto de baunilha atingiu meu paladar, eu acabei me assustando. Não estava amarga, e sim doce, parecia um suco e eu mal conseguia sentir o gosto do álcool. O drink estava perfeito, tão perfeito que quando encarei o copo novamente, achei que poderia encarar ele inteiro sem preocupações.  
 
Só achei, mesmo. Porque logo depois eu vi que o copo estava cheio de más intenções para com a minha pessoa, e o afastei significativamente da minha boca. É assim que começa. Primeiro eles vem com esse papo de "um gostinho delicioso", e depois te fazem pagar o maior mico da sua vida te deixando bêbada. Hoje não. Não passo por isso de novo nunca.  
 
Porém, quando me virei para encarar Sui, não pude evitar uma careta positiva.  
 
— Nossa, isso aqui está... bom? — Disse meio atordoada, surpresa e o encarando diretamente. Suigetsu riu e eu percebi que ele se sentiu orgulhoso por um momento. — O que tem aqui dentro?   
 
— Brazilian rum, suco de baunilha e gelo de coco. Só não toma tudo, tá bom? Isso daí é o suficiente para deixar qualquer um tonto.   

O inferno é RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora