Inocentada pelo tempo.

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Sakura

— Então... você tem uma cobra?

Suspirando um tantinho cética, eu encarei o bicho de olhos amarelos me observar de volta através da parede de vidro.

Certo, eu posso lidar com isso. Claro que quando Sasuke abriu o maior sorriso convencido do mundo após Sasori fugir de nós chorando e me convidar para "conhecer a cobra dele", eu achei que ele estava falando da outra cobra. Não dá que está aqui, vivíssima e me encarando com os olhos mais frios que eu já vi na vida.

Eu já fui melhor.

Puxa, eu estou com tanta raiva! Não sei qual motivo se sobressai mais; se é por eu ter esquecido da minha raiva no momento que Sasuke me ofereceu programas ilícitos, como se fosse uma espécie de comemoração por termos feito Sasori chorar, ou se foi pelo motivo descarado que provocou choro no meu ex namorado. Talvez, seja o sorriso narcisista que Sasuke deu logo depois, como se o que ele fez não fosse uma loucura total, e sim o suficiente para ele me trazer até seu apartamento e agir como se nada estivesse acontecendo.

Eu posso ter raiva de mais de uma coisa.

Piscando demorado, eu cruzei os braços e inclinei o corpo para trás, ciente de quem estava ali, encostado na parede da outra extremidade sendo o maior mentiroso que nós temos.

— Tenho. — Após algum momento em silêncio, ele respondeu. A voz dele soou grave e séria, como sempre, e pareceu ecoar por todo o quarto, o que eu coloquei a culpa na falta de móveis.

Um quarto inteiro para uma mísera cobra? Literalmente, só tem o terrário dela e mais nada. Sasuke sequer pode receber visitas. Tem uma cobra ocupando o quarto de hóspedes.

Sasuke é tão estranho. Ainda mais por me prometer uma cobra, e me mostrar uma de verdade.

— E ela é branca?

— Sim.

Hum, pois bem. Ela que tenha a cor que quiser. Agora o porquê de Sasuke Uchiha ter uma cobra albina, ninguém sabe.

Levei as mãos entrelaçadas atrás das costas, e inclinei o corpo para frente, observando o cantinho do animal que Sasuke tanto se parece. Até que não é ruim, na verdade é imenso, deve ter um metro e meio de largura brincando. Fora as decorações, plantas e galhos de madeira que pareciam ser bem aproveitados pela cobra preguiçosa.

Preguiçosa, mesmo. O bicho sequer pisca.

Deve ser influência do Sasuke...

— Qual o nome?

— Albino.

Nem para dar nome aos animais ele serve.

Suspirei profundamente, incomodada com o fato de que a cobra terá que viver com esse nome até o último dia de sua vida, e virei-me o suficiente para poder encarar Sasuke nos olhos. Sua expressão também era cética, quase fechada, do jeito que o fez ser conhecido como o cara arrogante e assustador do campus. Porém, assim que minhas sobrancelhas se ergueram de supetão, pude ver uma mudança mínima nas feições dele.

— Espera aí, então... esse é o tal mascote da Kurama?

— Sim.

— Não é estranho ter uma cobra de mascote? — Se eu disser, talvez ele se toque.

— Não. Bota medo nos inimigos. — A convicção que ele disse isso me assustou. E o sorriso sombrio que ele abriu logo depois, causou certa comoção no meio das minhas pernas.

Limites. Eu preciso de limites.

Neste momento, eu o odeio.

Vou me lembrar disso.

O inferno é RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora