Capítulo 7 Impactos

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Mamãe já estava me esperando sentada no sofá. Ela estava tão bonita com um vestido florido e o seu costumeiro penteado chique nos cabelos louros. Minha mãe nem parece que está nos seus quarenta e seis anos, ainda é muito jovem para idade. Seu cuidado com o corpo e sua beleza típica também ajudava muito. Não que fosse maníaca por beleza, não precisava de se esforçar tanto. É natural, vem dela.

Monica Park sempre fora uma ótima mãe, sempre carinhosa e sempre preocupada com os meus assuntos. Acho que é porque sou filha única, este instinto de super proteção sempre a acompanhou. Nunca me incomodou, muito pelo contrário, mamãe sempre soube respeitar os meus limites, respeitar a minha privacidade. Mas pode ter certeza que ela iria querer saber onde fui e se deu tudo certo. Ainda mais do que ocorreu com Taeh.

-Saiu sem avisar, fiquei preocupada. -Sorri de lado sabendo que essa era senhora Park.

-Fui à sorveteria. Kim Jisoo me chamou. -A face contorcida de espanto de mamãe me fez rir.

-Sorveteria, nesse frio? -Gargalho mais.

-Jisoo não é o tipo de pessoa comum que a gente ve por aí. É imprevisível como as chuvas de verão. -Entorto a boca ao lembrar do quanto.

-Kim Jisoo? Essa não é a sua professora? -Fico toda sem jeito, ajeitando meu casaco.

-Ela mesma. -Minha mãe me analisa, sei que está buscando algo poético em minhas ações. E sei que falaria algo que eu negaria até o último momento.

-Essa não é a mesma mulher, arrogante, rude, babaca, a quem você mencionou? E que por uma caso estava furiosa ao ponto de não querer vê-la nunca mais? -É, só agora me dou conta de como sempre estamos mudando nossas opiniões em relação a outras pessoas. Tanto para o bem, quanto para o mal.

-Jisoo não é muito fácil de se lidar, sofreu muito desde cedo, eu até entendo. Mas é uma garota legal e eu estou começando a conhecê-la melhor. Sabe? As pessoas têm seus lados bons e ruins, vai depender de qual lado ela quer mostrar primeiro. -Mamãe me encara de cabeça erguida, está achando as minhas desculpas uma bobagem.

-Sei... sei bem como é.

-Mãe! Não há nada demais.

-Não, não há nada demais, eu sei. -Ela se levanta do sofá e caminha até mim. Aquele olhar verde e profundo me mostra que uma preocupação tinge o coração de mãe. - Mas cuidado tudo bem? Não quero que se magoei.

-Não vou. -Ela alisa os meus cabelos com as mãos e me dá um beijo na testa.

***

A semana de luto havia passado, e, as aulas no Pacific University havia retomado. O que me deixou animadíssima, estava afim de sair um pouco de casa, encontrar com Jennie e Lisa, tirar aquele clima ruim que se instalou por todos àqueles dias.

Logo encontro as duas amigas em frente à faculdade. Jennie estava com um aspecto melhor, estava maquiada, seus cabelos escuros estavam peteados. Lisa usava uma calça jeans wide e um casaco marrom por cima de um top preto. Elas estavam grudadas conversando bem perto uma da outra. Não sei o porquê mas nada me tira da cabeça que essas duas não servem para serem só amigas.

Consigo sentir a química entre elas, a tensão no olhar, a forma como se encostam. Só elas parecem não perceber, ou se fazem de sonsas, acredito na segunda opção. Queria perguntar, mas tenho medo de falar algo e elas acharem ruim. Mesmo elas não tendo falado nada contra homossexuais, também nunca vi falarem nada a favor. Não tenho certeza do que elas acham sobre, estamos no ano 2000, mas ainda existem muitas pessoas de mente fechada, por isso prefiro deixar minha sexualidade em segredo para maioria.

-Como você está? -Pergunto para Jennie. -Não a vi durante essa semana inteira.

-Estou indo, ainda é recente. E vir para este lugar sem o Taeh é estranho. É como se ele estivesse faltado a aula, ou como se tivesse saido de casa para dar uma volta. Não sei lidar com isso ainda. Mas estou tentando seguir a vida. -Ela abaixa a cabeça. -Percebi um monte de coisas com tudo isso, Rosé. Acho que me importei tempo demais com coisas inúteis e fechei os olhos para as coisas que realmente valem a pena.

𝐌𝐢𝐬𝐭𝐞́𝐫𝐢𝐨 𝐞𝐦 𝐅𝐨𝐫𝐞𝐬𝐭 𝐆𝐫𝐨𝐯𝐞 - 𝑪𝒉𝒂𝒆𝒔𝒐𝒐Onde histórias criam vida. Descubra agora