CAPÍTULO V : UM PRESENTE

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Eu estava tão animado para este tour, pensava que um museu com tantas histórias me inspirasse e trouxesse de volta a vida que o escritor que habita em mim perdeu. Aquilo tudo não devia ser real, toda aquela oportunidade de ouro se perdeu de um momento a outro. Pensei que pudesse fazer tudo parte de uma grande performance, uma tentativa de criar uma ambientação, mas nenhuma experiência pode ferir seus convidados a nível de morte. Não podia ser real. Aquelas pessoas nos atacando. As roseiras cercando nosso caminho. A mulher da fonte criando vida. Mas era, tudo era tão real quanto a noite em que recebi o convite foi.

- Nós já vamos fechar! – Anunciei a um cavalheiro que estava distraído em uma das passarelas superiores

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- Nós já vamos fechar! – Anunciei a um cavalheiro que estava distraído em uma das passarelas superiores. Já eram altas horas da noite. Meu relógio de bolso marcava perfeitamente o menor ponteiro em IX e o outro no topo XII. Uma noite úmida e chuvosa, muito característica de minha terra natal, porém uma novidade naquela época do ano em meio ao continente americano. O homem acenou para mim com um aceno discreto e se dirigiu a saída às pressas, sem levar nenhum livro consigo no fim das contas. Ele juntou seu guarda-chuva do suporte e saiu pela porta deixando o sino acima dela tocar por fim na direção das escadarias frontais.

- Não entendo como essas pessoas são capazes de passar livros pelas mãos de modo tão desleixado. Ler várias sinopses e, no fim, terminar sem levar nenhuma história. Nada as cativam? – Meu sorriso era de inconformidade. A cada ano as pessoas pareciam ler menos e não conseguia ver o porquê. Não era a perca de qualidade literária – que era minha teoria inicial -, pois o início do novo século trouxe tantos novos autores e estilos de escrita entregando maior liberdade e individualidade criativa. Novas obras eram escritas por todas as partes do mundo. Sempre havia algo novo, então talvez quanto maior a liberdade menos qualidade? Gostaria de ter com quem debater sobre isso. Era apenas digno de riso, eu acho. Olhei para cima, onde estava meu muito bem camuflado companheiro e funcionário do mês.

- Vamos, pode descer... – Ele logo pousou sobre minha mesa em duas batidas de asas, me fazendo erguer minha xícara de chá para tira-la da zona de pouso.

– Para quem sempre enche minha biblioteca de penas, o senhor está muito quieto hoje. – Comentei, pois sabia que quanto mais próximo da hora de dormir, mais inquieto este pássaro fica e sua tendência a derrubar minhas coisas crescia junto a sua birra. Todavia, ele não havia se revelado hoje até o momento em que o chamei. Passei dois dedos pela cabeça da ave que se remexeu em resposta, tentando tranquiliza-lo.

Erguendo os olhos eu analiso meu entorno. Estava no centro da grande biblioteca. Majestosa construção que levou seus longos 14 anos para ser erguida. Uma beleza da arquitetura do século e sem dúvida o melhor ambiente para qualquer romancista, com seus desenhos de pedra e madeira pelas paredes e no teto, criando formas e contando histórias. Todos pareciam olhar para mim agora. Inspirei bem fundo, percebendo estar sozinho agora, os seguranças continuariam suas rondas em breve. Enchia-me de um orgulho que poucos homens de sucesso podem dizer sentir. Contribuía para aquele lugar crescer. O cuidava e vigiava, assim como outros funcionários, mas apenas eu dormia aqui, em um quarto improvisado nos fundos que eu mesmo organizei.

O Palácio das VozesOnde histórias criam vida. Descubra agora