CAPÍTULO VIII : UM CHÁ PARA ESSA EQUIPE

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Quando a luz acendeu, nada havia mudado naquela Cozinha, mas os três a mesa trocaram olhares estupefatos e exultantes. 

- Deu certo? - Tyler não parecia acreditar e Dante continuava a olhar em volta procurando sombras pelos cantos. "Eles foram embora" o curador estremeceu, logo sento puxado por Askah para um abraço apertado. Um respiro de alivio correu pelos rostos dos três antes de notarem minha presença e a de Éric como se nos vissem pela primeira vez. 

- Estão todos bem? – Disse Tyler se erguendo de seu lugar na mesa e olhando para Éric e eu, que até aquele momento estávamos invisíveis para todos.

- Você apontou sua arma para nós. – Direto. Certeiro. Senhor Collin não parecia se importar de chocar o policial que ficou estático por alguns segundos antes de olhar para sua arma na mão.

 – Eu... Como?.. Me desculpem – Ele parecia mais surpreso do que envergonhado, realmente.  Fechou o cenho chegando a alguma conclusão pessoal que apenas pude supor que ele havia visto mais perigo na sala do que os fantasmas do Moroes. Todos ainda estávamos vivos, mas se aquela arma fosse disparada, talvez o final fosse diferente. 

Escutei uma arfada de ar e só então vi sobre a mesa o nosso guia aos prantos tentando tampar o próprio rosto com as mãos tremulas. Senhora Dellá foi quem se juntou a ele para acudi-lo no momento de vulnerabilidade. Ele nada disse, apenas deixamos que se acalmasse com o tempo e a mão de Askah alisando seu braço.

Quando tudo já estava mais calmo e a temperatura havia voltado ao normal, tomei a liberdade para perguntar o que aconteceu.

- Em um instante para outro, você e Sir.Éric haviam desaparecido e estávamos em outra cozinha. – Quem relatava a experiência era o policial, que tratava com seriedade os fatos e expunha o sobrenatural sem medo de o duvidarmos.  – Ao redor da mesa haviam algumas pessoas, acho que eram os Moraes, mas pareciam mais bonecos de carne do que pessoas. Não se moviam naturalmente.

- Eles nos convidaram para jantar, mas eu tentei negar educadamente. – Dellá entortou os lábios, como se a falta de cortesia dos fantasmas a insultasse pessoalmente.

- Isso. – Seguiu Tyler, retomando as rédeas da narração. – Eles não gostaram nem um pouco da nossa falta de cordialidade e, a senhora Dellá fez a gentileza de insulta-los.

- Eles iam nos matar de um jeito ou de outro, Garotão. - Ela ganhou no argumento.

Dante se encolheu um pouco mais, respirando fundo já concluindo seu processo de se acalmar. Havia algo que destoava em sua reação. Não saberia dizer se ela estava exagerada ou se a nossa adaptação aos cenários de quase morte fora rápida demais. Algo era fato, estávamos de alguma maneira nos acostumando com o paranormal, cada um à sua maneira. Eu pelas histórias literárias, Éric por ser psicanalista, Tyler pelo treinando policial e Askah, bem, por ser ela mesma. Dante talvez fosse o único de nós que agiu com qualquer pessoa agiria ao ser atacada por fantasmas.

- ...e então, nos sentamos de volta à mesa – Tyler seguiu - Eles pararam de atacar e vieram sentar ao nosso lado. Não sei por que, mas parece que fazer o que eles queriam os acalmou e depois... foram embora.

- Talvez sejam apenas espíritos que se perderam entre um mundo e outro. – Collin provou do cigarro mais uma vez, imerso nos próprios pensamentos e próximo a uma minúscula janela basculante. – Dizem que as almas condenadas ficam vagando, mas o que acontece se elas vagam em um lugar que permanece igual ao de sua época, que há pessoas falando neles o tempo inteiro? Ser um errante em um museu com a própria história deve ser, no mínimo, confuso.

O curador fez um sinal positivo para Askah e inspirou fundo dizendo que precisava apenas de uma água. Ele se levantou de corpo dormente e foi até a porta esquecendo-se que tínhamos acabado de conferir que estava trancada por dentro e não tínhamos acesso aquela área.

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