CAPÍTULO XI: O PRÓXIMO PASSO

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De volta ao corredor, parecíamos uma massa de membros movendo-se exausta e procurando apoios pelas paredes e tateando o chão. Eu fui um dos quais se sentou, pondo meu corvo em meu colo e deixando o corpo sentir os efeitos da adrenalina. Descompassado, meu peito doía a cada bombeada de sangue. Minha mão dormente circundava os documentos de tal maneira que amassava-os todos, incapaz de fazê-la relaxar pelos seguintes instantes, pois não a sentia totalmente ali para enviar seu comando de soltura. 

Dante abria os olhos, primeiro confuso, em seguida assustado como quem desperta de um sonho pavoroso. O policial Engel o acudiu, parecendo não sentir mais tanta dor. Ele também o nota e assim se auto analisa com os olhos. Todos, na verdade, notam que suas dores haviam sumido. 

- Novamente... Fomos completamente curados. – Dante abraçou o próprio corpo e se tornou um ponto escuro entre a parede e o chão.

- Completamente não. – Askah apontou para cada um de nós.
Nossas roupas permaneciam com rasgos enormes e muito manchadas pelo sangue. Éric em um movimento rápido afastou a própria roupa, abrindo os botões do seu colete e camiseta. Em seu peito havia não uma grande mancha vermelha como na Cozinha, e sim uma ferida feia e antiga. Era branca e com várias pontas sugerindo veias ou raízes se espalhando. Como se um projetil o houvesse acertado ali e estilhaçado seu peito. Semelhante a cicatrizes deixadas nos homens que sobrevivem a guerra. 

Em meu peito haviam alguns rasgos também, o que possivelmente confirmava que algum dos tiros havia respingado em mim, enquanto procurava as plantas, e eu só notaria o ferimento  quando a adrenalina baixasse e fosse tarde demais.

- Está piorando... - Collin tencionou seu maxilar, subindo os olhos para nós e então, revoltantemente, se pondo em pé.

- No início saímos sem nenhum arranhão, agora... Talvez a próxima sala seja definitiva - Tyler não parecia querer estar certo, mas era o mais sensato. Ao seu lado, Dante estava imóvel, pálido e respirando devagar. Ele olhava para nós com neutralidade, lembrei-me do estado de choque que Éric ficou no Escritório, entretanto uma furtiva lágrima escorreu por um de seus olhos. Foi o policial ao lado quem a notou enquanto falava e fora ele que, de maneira muito branda, afastou-a de seu rosto. Dante não pareceu se assustar, ficou confuso e até sorriu apertando as sobrancelhas, sem perceber a própria tristeza. Não pude deixar de pensar que seu gesto fora um modelo espelhado do que eu fizera a ele no Jardim. 

Sr.Collin estava virado para a parede e não pensou duas vezes em disferir consecutivos socos na janela, com divisões demais no vidro para que qualquer um pudesse passar.

- INFERNO! - Ele socou o vidro que se partiu. Pouco adiantava, mesmo que nos espremêssemos por aquele pequeno vão ou quebrássemos todos os outros vãos formando um maior, ainda cairíamos no Jardim que contorna toda a Mansão. Isso, claro, se não fossemos transportados para outro cômodo enquanto caíssemos do primeiro piso.

- Aahn... Vamos dar uma olhada nas plantas, sim? - Askah estava sentada apoiada em uma das mãos. - Deve ter uma saída direta da Mansão.

Todos olharam para mim e eu senti a deixa. Espalhei todos os documentos que haviam dentro da pasta pelo chão e começamos a abrir e desdobrar os papéis.

- Aqui. É este. - Dante tirou um que ficara a baixo. A planta apresentava todo o andar térreo, com indicações dos cômodos, entradas saídas e ambientes nomeados por família e acontecimento. Não pude acreditar que escreveram por cima da planta original da casa, então supus que aquela deveria ser uma cópia transcrita por alguém da equipe de Dante e nomeado a partir dos "pontos turísticos" de cada cômodo.

- Viram? Foi o que eu disse, a única saída direta para fora do terreno é a porta de entrada. - Dante voltou a falar após todos estarmos encarando repetidas vezes a planta. O tom que o rapaz usou, soou muito convicto, talvez aliviado por estar certo.

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