CAPÍTULO VII: A COZINHA

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Passaram cerca de quarenta minutos que estávamos espalhados pelo Hall de Entrada, tentando engolir a situação. Eu encarava a lareira subitamente apagada a minha frente escorado no encosto do sofá, lembrando de tudo o que aconteceu no Jardim e voltando a rascunhar um ou dois trechos dos sentimentos que conseguia recordar.

Aquele quadro grande acima da lareira parecia olhar para nós, a existência dele era pesada e chamava nossos olhos da mesma forma que nos deixava desconfortável. Família White, uma das muitas que tiveram um fim terrível neste lugar. Aquilo não parecia mesmo estar acontecendo, era muito inacreditável e quanto mais eu pensava que era real eu sentia o desespero nascer no fundo de meu peito.
Acaricio meu pássaro para tentar afastar os pensamentos dessa realidade bruta e ver com novos olhos. Era uma oportunidade para viver uma história, uma boa história que ninguém teria oportunidade de relatar melhor do que eu. Era uma oportunidade, nada mais que isto.

Estava quase conseguindo me convencer e criar um manto de ignorância quando Éric quebrou o silencio.

- Não tem uma outra saída? Uma porta dos fundos, talvez? - Ele estava fumando denovo. Dante estava perto da parede tirando o pó de uma placa de identificação de um jarro já limpo mil vezes naquele momento.

- Ah? Ah, sim.. Quero dizer, acho que sim.

- Você acha? - O tom sério de Éric fez o rapaz endurecer os ombros e voltar-se para ele, encerrando de fez seu gesto mecânico. Rapidamente respondeu, como se uma ordem recebesse:

-  Nós não usamos outra porta. Digo, já há várias para sair ao Jardim, mas para sair do terreno só temos esta porta da frente.

"O Jardim... Era o último lugar que eu queria visitar de novo agora. Além de que eu duvido que sejamos capazes de pular aquele muro" Pensei.

- Olha... - Senhora Dellá se aproximou arrumando seu casaco nos ombros. - Não sei vocês, mas ficar por aqui não é muito o que eu quero fazer... Não ia ter um coquetel? Hun? Estou morrendo de fome. - O corvo em meu ombro se remexeu, interessado na ideia.

- Acho que na cozinha tem algo, na verdade. Íamos servir no final do tour, mas... - Dante fez um gesto aberto com os braços, junto ao um movimento de rendição com os ombros. - ...Pode ir, eu acho.

- Ahh Obrigada!! - Askah mudou o clima com um poder de presença divertido e confiante. Realmente animada ela se dirigiu ao caminho que fizemos antes, completamente a vontade.

- Tem certeza que é prudente nos separarmos? Em histórias assim, a mulher bonita é a primeira que morre! - Falei erguendo o tom para faze-la parar antes de adentrar o corredor. Tão movimento pela decisão que pouco medi as palavras. 

- Obrigada pelo elogio, querido. -Ela ajeita os cabelos em um aconchego leve com a mão, ignorando totalmente a parte de "é a primeira que morre" da informação.  - Mas vou ficar bem.

E eu a observei sair da sala, tendo certeza de que nunca mais a veria novamente.

E eu a observei sair da sala, tendo certeza de que nunca mais a veria novamente

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