thirty-eight ♡

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~Marília~

Acordei cedo para um sábado, na verdade nem dormir eu consegui direito. Minha cabeça dava voltas e minhas preocupações só aumentavam conforme as horas passavam.

Pedro e minha mãe, ao saberem o que havia se passado comigo, mandaram mensagens logo cedo, perguntando como eu estava e se precisava de algo. Tranquilizei-os e dispensei toda e qualquer ajuda àquela altura, pois, diferente do que pessoas consideradas "normais" fazem quando têm um problema, eu só queria ficar sozinha, tentar colocar as engrenagens de minha mente no lugar e achar um caminho para seguir.

Aproveitando que estaria sozinha durante o dia, resolvi reviver meus momentos de morar sozinha fora do país e fazer, apesar das dificuldades do pé imobilizado, algo para eu comer no café da manhã.

Estava terminando de preparar meu café bem forte, como eu gosto, e um misto quente, quando ouvi a campainha tocar, o que chamou minha atenção e fez um desgosto profundo me tomar, pois, a essa altura dos acontecimentos, só poderia ser uma pessoa e, para ser sincera, mais do que das outras vezes, hoje eu estava mais sem paciência ainda para aturar as birras e criancices de Gustavo.

Com um pouco de dificuldade, porque não estou acostumada a usar muletas e a médica me proibiu de apoiar o pé no chão, pois isso retardaria a recuperação, caminhei até a mesma e, sem nem mesmo me preocupar em olhar pelo olho mágico e com milhares de maribondos prontos para serem cuspidos pela minha boca, abri a porta em um tirão irritado.

– Não precisava vir... – Falei antes mesmo de ver quem era a pessoa que me incomodava àquela hora, mas, assim que me dei conta, engoli as palavras a ponto de quase me sentir engasgar. – Liliane?!

A minha frente, a jovem moça que havia me lançado todos os tipos de impropérios no dia anterior – com toda razão, diga-se de passagem – me encarava num misto de embaraço e desgosto. Confesso que não esperava vê-la tão cedo depois da "filha da putice" que fiz com ela.

– Bom dia, Marília. – Ela falou enquanto seus olhos inquietos fitavam tudo a minha volta, menos a mim.

– Eu... – As palavras me faltavam. Acho que nesses últimos dias eu estava me superando, pois várias coisas que não me eram comum estavam me acontecendo. – Bom dia... não esperava te ver... por favor, entre. – Falei, dando passagem para que ela adentrasse meu apartamento.

– Não queria te ver tão cedo... mas... – Ela respondeu, passando ao meu lado. – Precisávamos conversar e, apesar de tudo, eu queria saber como você está. – Falou parando no centro da sala, enquanto observava tudo atentamente.

Fechei a porta e, tentando me equilibrar nas malditas muletas, fui próximo a ela.

– Eu imaginei que não fosse querer me ver. – Falei, parando e me sentando no sofá. – E sinto muito por isso... por favor, sente-se. – Ofereci, apontando o outro sofá a frente e ela logo o fez, mas ainda sem me fitar diretamente. – Eu estava com a cabeça cheia e... somando tudo, o acidente... acabei fazendo... – Tentei completar, mas logo vi seu semblante mudar para um mais desgostoso ainda.

– Realmente, foi uma grande besteira tudo isso. – Falou sem me olhar diretamente. – Eu vim aqui, porque queria entender as coisas e, infelizmente pra mim, eu mal consegui pregar meus olhos essa noite, pensando no que tinha acontecido ontem... mas, agora... – Disse, apoiando ambas as mãos no assento do sofá. – Eu sei que foi só uma besteira. – Concluiu, dando uma pequena impulsão para se levantar, o que deixou meus sentidos em alerta. "Ela mal chegou e já se vai? Assim? Sem resolvermos esse imbróglio?!"

– Espera, Liliane! – Chamei-a, fazendo ela retroceder. – Não é isso o que você está pensando... – Tentei dizer, mas ela logo me interrompeu.

~Desire~Onde histórias criam vida. Descubra agora