~Marília~
Minha cabeça está a mil por hora. Preciso fechar várias análises financeiras, mas parece que meu tempo está correndo mais rápido do que eu gostaria.
Ouço som de toque à minha porta, o que me faz desviar os olhos do notebook a minha frente e olhar na direção do barulho, vendo como a porta se abre e a cabeça de meu irmão mais velho se assoma por ela, fazendo com que eu rode os olhos mentalmente.
– Posso entrar?! – Pergunta sorrindo de lado.
– Adiantaria eu dizer que não?! – Respondo voltando meus olhos para a tela à minha frente. – Já entrou mesmo.
Gustavo dá uma risada cheia de provocações e se aproxima de minha mesa.
– Sempre de mal humor... – Fala se sentando.
– Vá direto ao ponto, Gustavo. Estou ocupada. – Digo o cortando. Conheço bem meu irmão. Ele só me procura quando precisa de algo. Apesar de ser o mais velho, ele tem pouco... como posso dizer?... Jogo de cintura? Acho que é essa a expressão correta. Ele tem pouco jogo de cintura para lidar com certas circunstâncias, sobrando para mim remediar tudo.
– Ok... – Fala erguendo ambas as mãos em sinal de rendição, enquanto eu o encaro por sob os óculos que uso. – Gostaria de discutir com você sobre o novo plano de expansão da empresa para a América Latina. – Diz retirando alguns papéis de uma pasta e me estendendo.
Pego as folhas e a folheio por alto, passando os olhos por cima.
– Preciso que dê uma olhada nisso e me ajude a convencer nosso pai que já passou da hora de começarmos a investir no mercado internacional. – Gustavo fala alvoroçado, esfregando as mãos na calça social que usa. Sinal de que está ansioso.– Manter os voos só no mercado nacional, regionalmente, está nos fazendo perder dinheiro e prestígio... já está na hora a 𝐼𝑚𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜 𝑀𝑒𝑛𝑑𝑜𝑛𝑐𝑎 ir mais longe.
Bem, creio que desejam que esclareça do que ele está falando, não é mesmo?
Enfim... minha família por parte de pai, é dona de uma empresa aérea que comercializa voos regionais por todo o Brasil. Não somos os maiores do ramo, porém, somos bem relacionados e nossos serviços são bem pontuados por nossos passageiros, o que nos garante uma sólida posição financeira diante desse mercado tão complicado de se manter, ainda mais se tratando de Brasil.
A 𝐼𝑚𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜 𝑀𝑒𝑛𝑑𝑜𝑛𝑐𝑎 há anos, mantém seu foco no mercado interno brasileiro, porém, me fazendo concordar um pouco com meu irmão mais velho, também creio que passou da hora de começarmos a investir no mercado internacional, começando ela América do Sul e, aos poucos, irmos expandindo para outras regiões do mundo, porém, diferente de Gustavo, que quer fazê-lo sem pensar nos riscos, eu acredito que tudo deve ser medido e analisado friamente, evitando perdas futuras que poderiam nos causar transtornos irrecuperáveis.
– Estou fechando uma análise sobre os números financeiros do primeiro trimestre, assim que terminar dou uma olhada nisso e te digo o que acho. – Digo sem desviar os olhos dele, que morde o lábio desesperançoso.
– Poderia, pelo menos, dizer o que acha?
– Pergunta me encarando.
– Depois que eu terminar o meu trabalho e ler o que você me trouxe. – Respondo desviando os olhos para o notebook, deixando claro que aquela conversa já tinha terminado.
De canto de olho, percebo como Gustavo suspira e passa as mãos pelo rosto, rendido diante de minha postura.
– Tudo bem. – Fala se levantando. – Quando terminar, por favor, me dê seu parecer antes da reunião das diretorias. – Finaliza se virando e indo em direção a saída.