fifty two ♡

357 46 9
                                    

~Marília~

– O número que você ligou não...
Nem deixei que a frase fosse completada, desligando a chamada apressadamente e bufando frustrada com mais uma tentativa de contato mal sucedida. Murilo tinha, praticamente, sumido do mapa. Não respondia os e-mails, não aparecia na empresa e seus números, tanto o fixo quanto o móvel, pareciam ter sido abduzidos. Cheguei a ir em seu apartamento, mas o porteiro informou que ele saiu há dias e não tinha retornado.

– Preciso resolver esse problema o quanto antes, já se arrastou demais. – Pensei em voz alta, deixando meu corpo recostar na cadeira, enquanto passava as mãos pelos cabelos.

– Está tudo bem, Marília? – Deolane, que havia entrado em minha sala, perguntou me observando atentamente.

– Só alguns problemas... – Falei parando para pensar um pouco. – Mas logo vou resolvê-los. O que deseja?!

– Você tinha me pedido para avisar quando ela chegasse... – Respondeu, mas nem deixei que terminasse, pois já sabia do que se tratava.

– Ah, sim! – Exclamei, me ajeitando em meu assento. – Pode pedir pra ela entrar, por favor.

Deolane só meneou a cabeça e saiu, indo para a antessala avisar a meu próximo encontro. Eu queria deixar tudo acertado antes de sair da empresa, ou melhor dizendo, antes de entregar meu cargo.

Como meu pai já havia saído do hospital e os seus exames tinham dado Ok, sabia que logo ele estaria de volta ao trabalho e não queria dar motivos para ele reclamar de nada, muito menos de questionar meus motivos. "Passou da hora do filhote sair debaixo da asa do progenitor".

– Com licença. – Ouvi a voz de Luísa ecoar pelo ambiente, o que me fez sorrir e me levantar para recebê-la.

– Olá, Luísa! Como está?! – Cumprimentei-a, indo em sua direção para recebê-la com um abraço de boas vindas.

– Estou bem, Marília, e você?! – Retribuiu o gesto, me envolvendo amigavelmente.

– Estou ótima! – Respondi, voltando a meu lugar e acenando para que ela se sentasse à minha frente. – Me apressando pra colocar tudo em ordem logo, mas bem.

– Com certeza! Não aguento mais isso aqui. – Respondi rindo e arranco dela um riso divertido.

– Quem te viu quem te vê! – Brincou. – Não faz tanto tempo era a pessoa mais workaholic que eu conhecia e vivia para essa empresa. – Comentou, me olhando de soslaio, enquanto foleava algumas coisas que trazia em mãos.

– E foi a maior besteira que fiz da minha vida. – Retruquei virando os olhos. – Não quero mais viver assim, Luísa. Perdi muita coisa que poderia ter vivido... chega dessa Marília que só pensa em trabalho. Só fiquei até agora em respeito a meu pai que, querendo eu ou não, sempre foi um homem que se esforçou muito pra ter o que tem hoje e, se sou capaz de mudar de ares sem tantas dificuldades, é graças ao que essa empresa sempre me proporcionou. – Completei.

Estava saindo da AVS para buscar novos ares, novas oportunidades e expectativas, mas, graças a tudo isso, a empresa que sempre me dediquei, é que eu poderia tomar essa decisão a essa altura da vida.

Eu não era velha e, com certeza, tinha um currículo invejável que me proporcionaria oportunidades em qualquer lugar que eu fosse, mas tudo só foi possível pro causa do dinheiro de minha família, muito dele fruto da empresa. Muitas pessoas gostariam de ter essa mesma chance, mas não podem, ficando presas nas necessidades de ter que escolher entre colocar comida na mesa e pagar as contas ou ser feliz fazendo o que gosta, mesmo que haja riscos.

– Felizmente você não depende dessa empresa. – Luísa falou, parecendo ler minha mente. – Seus investimentos estão indo muito bem, diga-se de passagem.

~Desire~Onde histórias criam vida. Descubra agora