forty five ♡

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~Maraisa~

Depois de conversar com Luísa sobre tudo que estava me passando, passei o resto do meu final de semana pensando e me remoendo por dentro. Minha cabeça parecia um quebra-cabeças de mais de mil pecinhas, daquelas bem pequenininhas, que por mais que você tenha animação para montar, você acaba se desesperando porque as peças parecem se perder entre si e que nunca conseguiremos montar, por mais que tentemos. Enfim...

Minha mente divagava por milhares de ideias, conjunturas e vontades, mas nenhuma delas parecia querer se encaixar, se alinhar.

Passei uma semana de merda. Luísa foi uma pessoa muito bacana comigo, apesar de tê-la colocado no meio de toda essa bagunça, ela não cogitou me dispensar do trabalho. Sei que ela não quer misturar as coisas, me afastar por causa de coisas externas ao profissional, entretanto, entenderia também se ela não quisesse mais me ver trabalhando em seu escritório, afinal, causei um mal estar entre ela e uma de suas principais clientes.

Contudo, apesar de me manter trabalhando para ela, me deu uma semana de "folga". Segundo ela, era para eu poder acertar as coisas em minha mente. Não concordei, até porque, trabalhar preencheria minha mente e evitaria que eu pensasse ou fizesse alguma merda impensável, mas, mesmo eu implorando, ela achou melhor. Creio que, mesmo indiretamente, minha presença também a incomodaria um pouco e, para evitar atritos desnecessários, ela preferiria me manter um pouco afastada. Autopreservação também é uma arma nesta hora.

Como não estava me sentindo a vontade, acabei não indo a faculdade por uma semana também. Minha cara de velório logo seria percebida por todos os meus companheiros de curso, o que provocaria perguntas que eu não estaria disposta a responder. Consegui, com um médico conhecido, um atestado, o que abonaria minhas faltas e impediria que tivesse um problema a mais e acho que foi o melhor. Foi a primeira vez, em todos esses períodos do curso de direito, que fiquei tanto tempo sem comparecer as aulas e, obviamente, alguns entraram em contato querendo saber o que havia acontecido e eu inventava uma desculpa qualquer.

Foi duro passar esses dias assim. Tentei me afogar nas bebidas, mas nunca fui uma garota de encher a cara e isso acabou por não me satisfazendo e nem me afastando dos problemas.

Também, depois de um tempo, religuei meu velho celular de "trabalho" em busca de algo que me fizesse me reencontrar, pois eu não me reconhecia naquela Maraisa caída, depressiva e chorosa na qual eu havia me transmutado àquela altura dos acontecimentos. Precisava da Carla, aquela mulher sedutora, que todos queriam e desejavam, incluindo a mulher que fez meu mundo virar do avesso. Precisava me sentir por cima... Tola! Isso que eu sou.

Dentre tantas mensagens recebidas em uma avalanche, topei com uma de Hernán Gómez, meu cliente argentino que estava na cidade e me convidava para acompanhá-lo. Topei, afinal, de todos os homens que tinha como meus clientes, ele era um dos melhores, sempre me tratou muito bem e me mimava muito. Porém, se arrependimento matasse.

A noite com ele foi maçante. Não conseguia acompanhar seus diálogos, me sentia incomodada com sua companhia e também distraída. Para piorar, a noite, quando fomos para o hotel onde ele estava hospedado, me senti vazia, como se seguisse um protocolo no automático. Ao fim de tudo, enquanto ele dormia, me tranquei no banheiro com uma garrafa de vinho pela metade e chorei bebendo o líquido ali contido.

"Essa não sou eu! O que está acontecendo comigo?! Algo que sempre foi simples, somente negócios para mim, hoje se tornou algo doloroso, sujo e humilhante" eu pensava.

Nem foi por culpa de Hernán, pois ele sempre foi um gentleman comigo. Tudo foi por minha culpa, por causa da minha cabeça dura e de não perceber onde eu estava indo, como as coisas estavam se encaminhando para toda essa bagunça e, agora que tudo desandou, eu não conseguia resolver nada.

~Desire~Onde histórias criam vida. Descubra agora