Duas semanas haviam se passado desde o jogo do time de beisebol e todos se perguntavam como Seungmin estava. A faculdade não divulgou nenhuma nota sobre ele ou sobre sua saúde, o que deixava as pessoas mais receosas e ansiosas para saber sobre o atleta mais importante daqui.
Chego em casa depois do trabalho e Jung Joon Ho - o mais recente namorado da minha mãe - estava jogado no sofá como sempre, bebendo cerveja e comendo um salgadinho qualquer. A sala toda bagunçada e suja com as comidas que ele deixa cair me dava nojo, mas eu não limparia nunca mais a bagunça de outra pessoa.
— Hanni. - ela me chama quando eu tentava passar sorrateiramente pro quarto. — Limpe a sala.
Ela me encara e sai indo pro lado de seu namorado.
— Tô cansada, ao contrário dos outros eu estudo e trabalho. - digo mesmo sabendo que arranjaria briga, eu cansei de fazer as coisas pros seus romances fajutos.
— Como é? - ela ri soprado e me encara irritada. — Você tá se gabando por estudar numa faculdade de merda e trabalhar naquele lixo?
— Não, eu só não faço mais aquilo que não é da minha conta. - respondo curtamente e ela vem até mim, ficando na minha frente.
Com força ela puxa meu cabelo, levando minha cabeça pra trás.
— Eu perdi anos da minha vida tendo você, estragou tudo aquilo que eu podia ter tido e acabou com meus planos. - eu sentia meu couro cabeludo esquentar pela força que era usada. — Agora quer ser ingrata?
Engulo seco, mas mesmo assim respondo:
— Você perdeu o que tinha porque saiu por aí distribuindo dinheiro e tempo com homens que não mereciam. - tento controlar minha respiração, não queria que ela soubesse o quanto ainda me afeta. — Não me culpe por ter sido burra.
Ela larga meu cabelo e desfere um tapa na minha bochecha tão forte que me deixou desnorteada por alguns segundos, coloco minha mão e sinto minha face arder.
— Não volte até minha raiva ter passado.
A mulher cospe no meu rosto e vai pro quarto, Joon Ho passa por mim falando arrastado:
— Era só limpar, não sei pra que tanta preguiça.
Respiro pesado me esforçando pra segurar a raiva e limpo meu rosto, vou até meu quarto colocando algumas roupas numa mochila. Eu sabia a diferença de quando era necessário eu ficar muito tempo longe daqui, e dessa vez, sei que uma semana já é o suficiente.
Sempre foi assim.
Saio daquela casa e caminho me forçando a pensar em coisas boas, Haeun sabia que quando eu não ia pegar meus equipamentos significava que eu "não treinaria naquela noite", foi essa desculpa que dei. Não poderia dizer a uma criança o real motivo disso.
Agora que já estava longe de lá, entro numa loja de conveniência e pego três soju, pago e caminho lentamente até a faculdade. O frio me consumia e ao respirar saia fumaça de minha boca, abro a mochila e coloco um moletom, me arrependo de não ter pego nenhum cachecol.
Chego na faculdade sem ter pra onde ir, nem um arco eu tinha pra treinar. Resolvo então ficar andando pra tentar me manter aquecida, vendo várias áreas de outros esportes.
Finalmente chego no grande campo de beisebol e decido entrar lá pela primeira vez, desço um pouco a arquibancada e mais a frente percebo que alguém estava sentado sozinho.
Fico surpresa ao ver aquele que há semanas ninguém tinha notícias. Vou até ele e me sento ao seu lado, olho seu pé que estava com uma bota ortopédica e sua mão esquerda com um curativo, apenas permaneço quieta ao seu lado.
— Não vai perguntar? - Seungmin quebra o silêncio e eu o encaro. — Sobre isso. - ele aponta pro pé e ao lado também vejo muletas.
— Às vezes a gente não precisa de mais pessoas perguntando a mesma coisa pela milésima vez, mas só de alguém que fique ao lado fingindo que tudo está normal.
Ele me olha de volta e sorrio fechado, eu disse aquilo que sempre senti durante minha vida. Quando eu queria todos longe, mas apenas uma pessoa comigo junto do silêncio.
Tenho certeza que Seungmin teve que falar sobre sua lesão várias vezes.
— Tem razão. - ele responde. — Mas também é bom desabafar com um estranho.
Pego uma garrafa de soju e entrego ao garoto, abrindo a outra e bebendo direto sem me importar.
— Pode dizer, sou toda ouvidos.
— Bom, meu avô me apresentou ao beisebol quando eu ainda era uma criança e me apaixonei assim que pisei no campo. Ele me ensinou a jogar e me levou ao estádio pela primeira vez, comprou a camisa do meu time e um boné, até aquelas luvas de borracha enorme que aponta um dedo, sabe? - ele pergunta e apesar de não fazer ideia, concordo. — Eu prometi a ele naquela época que seria um jogador profissional. Continuei firme e forte, e apesar das pessoas me chamarem de Ás e gênio, nada vem fácil, você deve saber disso também. Mesmo com as dificuldades eu cheguei até aqui, com o sonho de estrear num time reconhecido e entrar pra maior liga que existe nesse país e em seguida, pra uma internacional. - Seungmin bebe uma boa quantidade de uma vez só e suspira. — Até esse jogo tudo estava decidido. Todo o meu presente e futuro foram planejados exatamente do jeito que nós dois imaginamos, mas agora tudo se foi. Por causa dessa lesão eu sou incapaz de jogar beisebol novamente, meus sonhos se foram e a porta que sempre esteve aberta pra mim se fechou de forma brutal. Então é isso, não tenho mais uma direção, não sei mais pra onde ir.
— Eu entendo, um atleta se prepara a vida inteira pra poder se tornar profissional e viver por seu esporte.
— E então eu vim me despedir definitivamente do beisebol, - ele diz triste. — nunca me imaginei fazendo isso.
— Mas sabe Seungmin, nem todos os atletas precisam praticar o esporte desde criança, alguns podem simplesmente virar o melhor de um dia pro outro. - falo e ele me encarava confuso. — Tô falando de você, você é um gênio e se se dedicar a um novo esporte, tenho certeza que será o Ás de lá também.
Seungmin ri, mas não parecia irônico, ele acha divertida a minha fala.
— Obrigado, o que disse foi muito gentil. - ele pega as muletas e se levanta com dificuldade. — Mas nós dois sabemos que não é tão fácil assim.
Me ergo também ficando em sua frente.
— É mesmo? E do que precisa pra facilitar isso? - sorrio pegando a sacola e colocando as garrafas vazias dentro. — Um novo esporte? Um novo técnico? Ou talvez coragem pra se jogar de cabeça nisso?
O garoto me encara boquiaberto e eu prossigo:
— Não tô dizendo que você conseguirá ser o melhor em todos os esportes, até porque, não imagino você fazendo ginástica artística. - ele ri e eu também. — Mas quem sabe algum esporte que tenha mais a ver com você e que não precise forçar muito o pé. O que você fazia no beisebol?
— Sou um rebatedor. - Seungmin fala e eu faço uma careta. — Bom, basicamente eu rebato as bolas do time adversário e saio por aí correndo esse campo todo.
— Então você precisa ter pontaria, precisão, velocidade e equilíbrio. - passo a mão no cabelo arrumando por conta do vento e tremo um pouco de frio. — Sabe, nosso time masculino nunca trouxe uma medalha pra casa. Seria bom ter você lá.
— Fico feliz que você ache que eu tenho chance, mas além de me recuperar fisicamente também tenho que me cuidar mentalmente, - ele tira seu cachecol azul e o coloca em meu pescoço, fico surpresa com seu ato repentino. — está tremendo igual um pinscher.
— Você tá certo, sua saúde vem primeiro. Mas caso mude de ideia, saiba que a única atleta sul coreana que já fez um Robin Hood será sua treinadora. - falo me gabando.
Seungmin me encara por alguns segundos.
— Então você rouba dos ricos e entrega aos pobres?
Reviro os olhos e rio, um jogador de beisebol não saberia o que é isso.
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❤ Até o próximo capítulo ❤
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The Ace of Love | Kim Seungmin |
FanfictionE se um incidente mudasse a sua vida por completo? Poder se juntar ao time de tiro com arco nas Olimpíadas para representar a Coréia do Sul sempre foi o sonho de Hanni. A garota, conhecida por ser um verdadeiro Ás em seu esporte favorito, se dedica...