31》Até quando?

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Fecho a porta esperando que ela brigasse comigo por ter sumido de ontem pra hoje. Eu já vim preparada para seus xingamentos e acusações, nada que eu fizesse ou falasse tiraria sua irritação. Já era claro que enquanto eu vivesse aqui, teria que obedecê-la e não desafiá-la.

E apenas para se ter uma “convivência suportável”, estava seguindo o que havia imposto a mim.

— Você é uma desgraçada mesmo. - ela se levanta e caminha lentamente até mim. — Como ousa me enganar? Deve ter se divertido muito durante esses anos.

Franzo o cenho sem entender.

— Não se faça de sonsa! - me assusto com seu grito. 

Rapidamente ela me bate com uma revista que eu nem tinha visto que segurava, tento me proteger, mas a mulher continua acertando-a na minha cabeça.

— Você tá louca?! - exclamo quando consigo me afastar e ela ri soprado, os olhos brilhando de raiva.

— Veja isso e me diga quem é a louca!

Ela joga a revista com força em mim, a pego do chão vendo a manchete junto com uma foto grande minha e de Seungmin. Fico sem reação, apenas sinto minhas mãos tremerem e minha respiração acelerar me deixando angustiada; como isso veio parar aqui se eu me certifiquei de que nada disso chegasse nesse endereço?

— Você vai sair dessa merda de uma vez por todas. - ela range os dentes e eu arregalo os olhos.

— Como é? 

— Nunca te quis lá e não é agora que você vai ficar. Não sabe a raiva que tô e o quanto queria te bater até não poder mais praticar essa bosta. - a mulher me encara de cima e agarra meu cabelo, puxando-o para trás igual das outras vezes. — Te disse que pra viver aqui teria que seguir minhas ordens.

— Eu não vou parar de praticar tiro com arco. - respondo duramente tentando não sentir a dor. — Eu sou a melhor no que faço, não é minha culpa se tem inveja de mim.

Por um segundo ela para associando minhas palavras e me solta começando a rir alto, a olho notando o quão louca estava, muito mais do que o normal. Ela parecia se divertir com o que disse até que sua risada cessa e seu semblante raivoso volta, me fazendo engolir seco.

— Acha que eu teria inveja de você? Uma garota mal amada que foi abandonada pelo pai, uma garota sem sal e sem talento? - ela se aproxima segurando meu queixo fortemente, me fazendo encará-la de perto. — Não se ache especial, tenho certeza que sabe o quão desprezível é… pra mim você só tem uma utilidade e ainda espero poder usá-la, depois disso, não me importo nem se morrer.

— Do que você tá falando? - pergunto tentando respirar corretamente, meu queixo ardia por conta das suas unhas fincadas. — Me solte, agora!

— Vou perguntar mais uma última vez, é bom que escolha certo. Vai sair?

Nego com a cabeça e no mesmo instante, ela me empurra no chão com toda a força. Bato na parede e seguro meu braço dolorido. 

A mulher sai andando pelo corredor enquanto tento me levantar, vejo que minha mão estava ralada e já saia um pouco de sangue dela. 

Mal tenho tempo de associar tudo isso quando ela passa arrastando minha mala aberta de qualquer jeito, saindo de casa até a rua, sigo-a gritando:

— Para! O que você tá fazendo? - tento puxá-la e pará-la, mas não consigo, ela é mais forte do que eu.

— Não quer viver do seu jeito? - ela exclama e chuta minha mala, pegando todas as roupas de dentro e espalhando pela rua. — Vai viver longe daqui!

Tento pegar minhas coisas de volta, mas não adianta já que ela jogava tudo e pisava, deixando-as sujas e estragadas. Ainda de guarda baixa, sinto-a me chutando nas costas e caio com tudo no asfalto, não consigo mais me segurar e choro desesperadamente. Por que isso está acontecendo comigo? Até quando terei que conviver com tanta humilhação e desprezo vindo da pessoa que me teve?

Sinto meu joelho arder e reparo na ferida que se abriu, um pedaço da minha pele havia saído por conta da batida e mais sangue se alastrava pela minha perna. Mas não era isso que me deixava desesperada, e sim seu semblante totalmente insano, estava completamente fora de si, o rosto vermelho e as veias da testa saltadas. Era um visual assustador e agoniante.

Novamente me senti como a Hanni de dez anos, indefesa e presa nas garras do monstro que ela mais temia, sem ter para onde fugir ou correr. Esperando que pudesse acordar desse terrível pesadelo.

— Mandei me obedecer! 

Novamente ela puxa meu cabelo, desferindo dois tapas fortes de uma vez só em meu rosto. Quando estava pronta para bater mais vezes, escuto alguém me chamando aflito:

— Hanni! 

— Parada! Polícia de Seul!

Só então percebo ser Jeongin e o senhor Joong que se aproximavam de longe correndo.

— Polícia? - minha mãe ri soprado. — Você é mesmo uma vagabunda.

Não tenho coragem de me levantar do chão e muito menos de erguer meu rosto, me sentia completamente humilhada; pra piorar escuto um burburinho, os vizinhos devem estar aqui assistindo tudo.

— Noona. - Innie se agacha e me abraça, choro ainda mais. — Tá tudo bem, a gente tá aqui. 

— Hanni. - senhor Joong chega perto de mim, conferindo se eu não tinha algum ferimento grave. — Jeongin, leve Hanni pro nosso carro.

— Certo.

Meu amigo me ajuda a levantar, mas antes que pudéssemos sequer dar um passo, minha mãe começa a rir alto.

— Escondeu isso de mim também, Hanni?

Franzo o cenho sem entender, essa mulher não tem limites? Agora estava delirando, até onde ela vai para chamar atenção?

— Não cansa de querer ser sempre o centro das atenções? - pergunto com dificuldade.

Ela encarava o pai de Jeongin e ria alto, numa completa insanidade. Não consigo decifrar sua expressão, mas sua gargalhada me mostrou que estava se divertindo.

— Hanni, acho melhor irmos. - meu amigo tenta dar um passo à frente, mas permaneço no mesmo lugar.

— Do que você tá falando? - me volto para ela, que suspira dramaticamente. — Fala logo, eu cansei dos seus joguinhos! - exclamo com ódio.

Ódio, esse é o sentimento que eu sempre tive por ela. Já tive medo, receio, tristeza, solidão… todos esses passaram e voltaram com o decorrer do tempo, mas o ódio sempre esteve aqui, não importa o que acontecesse. Eu só queria poder nunca mais vê-la, nunca mais nem ouvir falar seu nome; porém essa mulher parecia estar tatuada em minha mente e em meu coração, mas não de uma maneira boa.

Parece que não seria capaz de deixá-la ir tão fácil, o desprezo que sempre sentiu por mim era deplorável. Seu modo egoísta e egocêntrico sempre afastou de mim pessoas boas, porque tudo que era sinônimo de bom, se destruía ao chegar em contato com Yang Seo Jin. E era isso que queria, arrancar de mim experiências boas e uma vida tranquila; eu nunca signifiquei nada de bom para ela, apenas coisas ruins.

Escuto o som de uma viatura de longe, senhor Joong deve ter chamado alguém já que não estava em horário de serviço. 

Estava tão focada nela que tinha esquecido da presença do policial, seco minhas lágrimas que não paravam de descer e por fim o encaro. Ele estava de pé um pouco mais a frente, mas eu podia vê-lo de perfil. Senhor Joong parecia estático sem saber o que fazer ou o que falar, sua atenção também toda voltada para ela, que devolvia o olhar para o mais velho.

A viatura por fim chega parando bruscamente próximo de nós, dois policiais descem e rendem minha mãe, algemando-a enquanto a levam para o carro. Antes de entrar a mulher se vira para mim e dá uma risada irônica, dizendo antes de adentrar o veículo:

— É o seu pai.

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Eita.

❤ Até o próximo capítulo ❤

The Ace of Love | Kim Seungmin |Onde histórias criam vida. Descubra agora