Eles dizem que encontraram a paz e o conhecimento primal ao olharem para as pinturas nas cavernas. Somente ali se tornaram conscientes de sua pequena e quase inerte existência.
Viram que o futuro como entidade ou conceito, nunca sequer existiu. Que a verdade era como bote na correnteza, como barco a deriva, como uma presa que foge de seu perdoe. Nunca é parada, estática.
Que o bem e o mal, que essa estúpida e simples dicotomia cristalina é cada vez mais turva e nebulosa, tênue, frágil, escrita a lápis, não em tábuas de pedra. Conceitos duros são flexíveis e abstratos como um pau numa pintura dadaísta.
Contemplaram os antigos, com naturalidade, o fim, o partir e o que se chama de morte. E eles sim, se sentiram contentes, não temendo-a mais. Pois tudo, absolutamente tudo que é vivo, se alimenta, permitindo a vida de outro ser enquanto apodrece.
Entenderam que não há luz ou salvação mas que todo o vazio e a pequenês as vezes bastam e são até suficientes.
Já não sentiam fome, frio ou tristeza. Nem adoeciam. Mas nem por isso estavam completos ou curados. Ao contrário, profanaram tudo que se tinha como sacro, santo. Dançaram como loucos e animais que eram e que nunca deveriam ter deixado de ser, em transe. E então, no fim do sétimo dia, se diluíram.
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Laranjas Podres na Fruteira
Puisicontos mal acabados e histórias. Palavras. Sobre tempos de confinamento (não só pandemicos), então por favor, tenham calma, critiquem