"Com a falta de luz vem também o olhos que, como rubis, brilham na escuridão"
Um hálito quente em minha nuca me paralisou pois nem eu sabia mais o que sentir. Como sentir."
Primeiro a boca seca, o suor frio, o pavor na espinha. Em seguida o sangue quente na boca, pelo corpo. A fome, o desejo pela criatura que me espreitava. Que eu via.
O fascínio não estava em sua aparência mas em sua presença. Era bela e carinhosa e do mundo vazio dos meus sonhos me chamava de modo suave, me preenchendo. Era limpo e amoroso, como deveria ser.
Cobri meus olhos com as mãos para que ela não me visse. Para que fosse embora. E não moveu um músculo sequer. Então, com tida naturalidade me disse:
- As moedinhas de cobre são as mais gostosas, sabia? Pelo menos foi o que me disseram...Eu te vi tremendo à pouco. hmmm. Você sentia frio?
- S-sim... Você não?
- Você por um acaso não teria uma moedinha de cobre por aí, não é mesmo?
- Não. Acho que não, desculpa mas O que.. dogi.: ou quem é vo...
- Essa forma que você escolheu pra mim. Ela me lembra sua ex-esposa, Você não acha?
- Eu não quero lembrar dela.
- Não é tão fácil esquecer um suicida.
Paramos em silêncio. Sentei-me na beira da cama e nos encaramos. Ela se aproximou e sentou ao meu lado.
- Eu te trouxe um presente. Toma, é uma tulipa.
- Odeio flores. Me lembram de um funeral.
- O mais específico, né?
Eu sabia que ela não havia trazido apenas flores mas também todos os meus sonhos ruins com suas sombras e pestes que subiam pelas paredes. Com toda falta que escorria pelos dedos.
Com medo, comecei a chorar. Ela, com carinho, enxugou cada lagrima em.minjas bochechas, me beijou.
Solucei, desabei.
- Tudo dói. E dói demais. O tempo todo. Todo o tempo.
- Eu sei.
- Eu só não quero sentir dor. Por favor, não me deixe sentir dor.
- Eu não vou.
Respirei fundo. E tentei me aninhar em seu colo. Eu estava pronto. Meu corpo estaba.
- Tudo bem... Quando vai ser?
- A 20 minutos atrás.
- Você...v-ocê me matou?
- Não, meu pequeno. Eu só venho buscar.
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Laranjas Podres na Fruteira
Poesiacontos mal acabados e histórias. Palavras. Sobre tempos de confinamento (não só pandemicos), então por favor, tenham calma, critiquem