Tentei acordar pela manhã mas em meus próprios sonhos adormeci e já não sabia se os porcos voadores deveriam mesmo vomitar moedas de ouro. Mas até onde eu sabia tudo sempre havia sido assim.
Decidi caminhar e estranhei não sentir o peso dos passos mas mesmo assim agradeci. Pois estava cansado de seguir caminhos e de caminhar.
A grama era doce, o solo, senti, sagrado. As poucas pessoas que encontrei colhiam algodão sem que as mãos sangrassem. E eram boas de coração.
Tentei tocar os espinhos mas, diferente deles sangrei. Mas pelos olhos. Quando provei algumas gotas vi que era amargo e cheirava a frutas podres e penicilina caseira.
Eles, por sua vez choraram por mim. E eu tive pena.
Decidi correr pela mata seguinte o som dos tucanos, das maritacas e incrivelmente, dos morcegos. Se completavam como uma sinfonia.
Passei pelos bonobos que estavam ocupados demais gozando uns pelos outros
.
Passei pelos homo com suas ferramentas de pedra, madeira. E me encantaram com suas flautas e pinturas. Mais uma vez chorei pela beleza pois tudo que tinham um dia foi vivo. Senti que poderiam um tia ter-me também e beber de minha cabeça seus líquidos cerimoniais ou fazer sair música de meu fêmur para encantarem os espíritos.
Me alertaram sobre o mundo mas que estava tudo bem pois ele possuía como toda fortaleza, seus guardiões. Perguntei como encontrá-los mas me mostraram os dentes. Talvez fosse um sorriso. Então puseram-se a caçar, pintar cravar figuras. E em sua música entendi que não deveria procurar.
Decidi não decidir e andar sem caminhar por aí. Sem correr ou seguir um caminho. Novamente o som dos pássaros e morcegos. Parei de respirar. Sentei. Cruzei as pernas.
Até que sentaram em meu colo os guardiões. Lindos gatos pretos de olhos vermelhos e enormes chifres. Não estiveram sempre ali? Como o gato de Alice. Mas esses não sofriam, não falavam. Apenas observavam atentos o entorno e me cercavam. Me senti seguro e mais uma vez adormeci.
A cama era estranha e uma criatura quadrada gritava ao meu lado. Me senti pesado. Em minhas costas o peso do mundo, ou pior, o peso do meu mundo. Me lavei o melhor que pude mas ainda fedia. Saí pela porte e o chão era duro, escuro. O dia frio. As pessoas corriam pela rua e não tinham paz para dar. Muito menos para si. Não me lançavam olhares gentis. Tentei colher algum sorriso mas me machuquei com seus espinhos. E dos meus olhos vieram o mar.
Os homo haviam sumido. Duas ferramentas agora eram de ferro e fogo. Sua música e pinturas tinha ódio e sentido. Tudo ali parecia forjado a golpes de martelo. Eu não sabia se tudo deveria doer tanto e se as pessoas deitadas nas calçadas deveriam mesmo ser invisíveis. Mas até onde eu sei tudo sempre foi assim
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Laranjas Podres na Fruteira
Poesíacontos mal acabados e histórias. Palavras. Sobre tempos de confinamento (não só pandemicos), então por favor, tenham calma, critiquem