Toc? Toque?

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Pensei em bater na porta de tua  casa mas tive ressalvas. Antes das minhas mãos as dúvidas bateram .
Eu poderia bater com dois dedos ou com quatro. Significariam coisas diferentes? Não sei. E também qual ritmo deveria usar? Afinal, não sei quem ouviria, já que você sendo como é, poderia estar acompanhada, e eu, como sou, não. Estou sozinho.

Pensei também em o que deveria dizer-te. Oi? Talvez não. Olá? Achei formal demais. Poderia dizer “Ah, você está em casa, que bom. Fico feliz em te encontrar aqui. Você teria uma xícara de açúcar para me dar?”. Mas seria mentira. Tenho diabetes...hm.
Decidi dizer apenas "oi."

Então agora resta o que viria depois. Pensei em dizer que todos os dias as 14:45 a olhava tomar sol na varanda e ali, se ali se alimentando da luz do sol parecia o mais lindo lírio criado pelas mãos daquele que cria. E que eu estava perdidamente apaixonado pela maneira que ela dava carinho aos gatos e aguava as plantas. Que eu amava o som dos seus passos e voz desafinada cantar Belchior e a dançar Secos e molhados quando estava triste, ao lado de meu apartamento.

Dizer que eu estava apaixonado e morreria por um show ao vivo de seus passos e vozes em minha sala
Dizer que sentia inveja do sol por poder te tocar na varanda.
Inveja das plantas pelo teu cuidado.

E principalmente de teu gato, que podia sem nenhum empecilho sentar em teu colo e sentir tua mão a afagar.
Bom, talvez isso seria um pouco estranho. Achei melhor não.
Pensei então em te pedir desculpas por não ter dito tudo isso enquanto você ainda dormia na minha cama e me beijava pela manhã. E não agora, que outro batia a sua porta e sabia exatamente o que dizer.
Só espero que ele também te tanto quanto eu amava. E que você saiba, com toda força que não foi por sua culpa que pulei pela janela dois anos atrás.
Uma alma penada não aterriza com a cara no asfalto.

Laranjas Podres na FruteiraOnde histórias criam vida. Descubra agora