Castelo De Ouro - Os Dois Reinos

A luz Falante

Capítulo I
Rheene Brinks

   Eu odeio a chuva, porque estava chovendo quando você morreu.

Os pingos de chuva escorriam pela janela do carro, o que as faziam correr. Estamos a quase um quilometro da cidade mais próxima, a noite esta silenciosa e a única coisa que se dá para se ouvir além do ruido da água caindo do céu é o rádio ligado sempre nas mesmas músicas.

- Está com sono? Pode dormir se quiser, só iremos chegar amanhã pela manhã.

- Não consigo dormir.

Suspirou.

- Tente ao menos.

Olho para o lado e meu meio irmão, Jacob, dorme como uma vítima da medusa, ou seja, como uma grande pedra. Ele me lembrava muito a ele, os cabelos loiros encaracolados finos num mullet, um nariz ereto e empinado acompanhado de uma marca de nascença quase como um coração; minha mãe tenta não o encará-lo muito, mais falha sempre que tenta, odeio admitir que ela pode sentir mais que eu.

Os trovoes me causam arrepios sempre que aparecem. Naquela noite estávamos jantando quando o telefone tocou, minha mãe caiu aos prantos e eu não sabia o que fazer. O carro parou de repente, quase bati minha cabeça no banco do motorista.

- O que, o que aconteceu? – Jacob acordou assustado.

- Não batemos, espero que não – Falei o fitando

- Me desculpem, achei que tinha algo na pista... não há nada – Minha mãe virou-se tranquilizando com um sorriso no rosto.

Minha mãe é e sempre foi a pessoa mais amigável que eu já conheci depois do Jacob é claro, ela exibia os cachos armados com uma tira de tecido rosa Pink na cabeça. Ela era muito parecida comigo, os olhos amendoados e a pele cada mesma cor do tronco da arvore, as maças do rosto um pouco ressaltadas mesmo tendo uma bochecha enorme – isso eu agradeço de não ter, gosto do rosto fino de meu pai. Jacob me olha com aqueles minis oceanos nos olhos, preocupado e inquieto.

- Você não dormiu ne? – ele sussurrou.

Bufei e voltei a admirar a janela escura. Eu não consegui dormir porque nada é igual, não mais, tudo está diferente agora.

- Você sabe o porquê. – O respondi sem mais nem menos.

Jacob e eu temos um laco de posso dizer que de ferro? Um laco forte. Eu fui diagnosticada com ansiedade aos oito anos, você imagina como é ver a cara dos seus pais depois de saber que você tem um problema mental com apenas oito anos.

Jacob se achegou ao meu lado e repousou sua cabeça sobre meu ombro, seria uma noite longa. Mais não tão longa quanto os pingos na janela.

                 {~•~}

O vento gelado me faz arrepiar. O prédio é realmente muito grande, deveria ter pelo menos dezessete andares, seria uma queda muito alta.

A recepção era plana e quase totalmente vazia, por exceção de um balcão grande bem no meio e pequenos bancos encostados nas paredes incrivelmente bejes e cinza. Caminhei junto a minha mãe que insistia em me deixar sempre na vista dela porque para ela, se eu sumisse por algum segundo, eu me jogaria na frente de um carro ou algo do tipo. Inacreditável.