Capítulo 7

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ANTÔNIO GONZÁLEZ
anos antes

— Saíam da frente, inúteis! Saíam.

Sem me importar quem esteja na minha frente, empurro e começo a passar pelas pessoas. Alguns quando me vê sai da frente, já outros abaixam a cabeça. Não me interessa da forma que me olham ou cumprimentam, eu tenho um objetivo só. Assim que consigo chegar no terceiro andar da casa do meu pai, corro até seu quarto.

— Meu irmão, que bom que chegou. – Otávio, meu irmão mais novo vem até mim.

— Onde ele está?

— Lá dentro. – encara a grande porta dupla, do quarto de nosso pai.

— Como está o estado dele?

— Crítico – Paulina, minha irmã mais velha responde se aproximando. Ela usa um sobretudo preto, com um vestido longo na cor preta. – Os médicos nos informaram que de hoje não passa. Ele quer te ver, Antônio.

— Vocês já falaram com ele?

— Ainda não. Estamos esperando o Fernnado chegar, assim entraremos todos juntos. – ela da um passo à frente e toca em meu rosto – Mas vá primeiro, tenho certeza que ele tem algumas coisas para conversar.

Paulina é a minha irmã mais velha, e primogênita do poderoso Juan González. A mesma estava noiva do infeliz espanhol, Fred, mas com infidelidade ele à abandonou no altar e casou-se com um indigente qualquer. Logo após vem eu, o segundo filho e consequentemente o herdeiro do império Mexicano. Estou noivo de uma moça, e mesmo não à amando, irei honrar o compromisso que meu pai fez.

Fernando é o do meio, ele será meu subchefe. Até o momento ele não pensa em se casar e prefere a farra e gandaia, isso até eu me tornar chefe e acabarei com a graça dele. Otávio é o mais novo, e o mais sensato de nós quatro. Um homem responsável até certo ponto, que logo se tornará meu conselheiro e tutor. Após o rompimento do casamento de Paulina com o Fred, tivemos que nos adaptar e mudar muitas coisas na máfia.

— Eu vou lá – informo

Dou um passo à frente e sinto a mão de minha irmã passar pelo meu braço. Tomo coragem e abro a porta e sinto imediatamente o cheiro de álcool de hospital. O ar aqui dentro é mais gelado, e o cheiro fica cada vez mais forte. Fecho a porta e encaro o corpo do meu pai deitado na grande cama central. Esse não é o poderoso Juan que conheço, ele é forte e impiedoso.

Me aproximo da cama, me sentando em uma proltrona que havia ali ao lado. Os olhos do meu pai estão fechados, e só sei que ele está vivo pelo som que os aparelhos fazem. Seu peito tem um ritmo lento, e sua pele está mais clara que o normal. Juan sempre foi um pai rígido e rigoroso, mas sempre nos mostrou o que realmente é a vida e nós deu amor. Nossa mãe morreu no meio dessa guerra com os Espanhóis, então crescemos somente com o nosso pai.

— Veio para me admirar, Antônio? – a voz que eu tanto tenho calafrios soou ao meu lado. Os olhos dele ainda continuam fechados, e acabo fazendo uma careta.

Como esse velho quase morto, sabe que sou eu?

Padre! Como o senhor está se sentindo?

— Morto – os olhos negros se abrem, e me encaram rapidamente.

— Sinto muito

— Não sinta – se endireita na cama – Finalmente poderei encontrar minha hermosa amada, Angelique.

— Todos sentimos falta da mamãe. Não posso imaginar como o senhor está se sentindo.

— Eu já fiz o meu império, Antônio. Fiz tudo e mais um pouco, do que meu pai queria. Agora é sua vez de mostrar que você e um González, e não deixar que os Espanhóis ganhem essa guerra! Quero que faça justiça, por mim, por sua irmã e principalmente.. – encara o porta-retrato, dele com minha mãe no dia do casamento – Por sua mãe, que foi vítima daquele infeliz do Elias. Mate Elias com suas próprias mãos!

— Irei fazer isso, pai! Vou acabar com toda a espécie dos Hérnandez. – toco em sua mão – Isso é uma promessa.

 – toco em sua mão – Isso é uma promessa

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dias atuais

— Do que está falando, Otávio? – Fernando questionou.

— É uma situação difícil. – vejo ele se ajeitar na cadeira e beber seu conhaque com calma.

Meu irmão mais novo não é assim. Ele está nervoso, e isso me deixa curioso. Otávio mudou bastante depois que se tornou meu conselheiro e tutor, agora ele é um homem frio e calculista. Mas nesse exato momento, penso que algo de errado está acontecendo pra deixar esse homem dessa forma. Amedrontado.

— Fale de uma vez! – ordeno, sem paciência.

— Depois que eu libertei Marina, eu não tive notícias dela por meses. Até que a vi em uma loja de Cancún e a parei, nos.. – ele abaixa o olhar, como se estivesse arrependido ou com receio.

— Vocês, o que? – pergunto.

— Eu à obriguei transar comigo aquela tarde. Marina estava diferente, e quando ela foi embora eu vi que estava com uma aliança no dedo. Procurei saber mais dela e descobri que ela se casou com um soldado qualquer dos Espanhóis. – ele se põe de pé, indo até o bar e colocando mais uma dose de conhaque – Ela engravidou e teve uma menina. Mas eu descobri que o bastardo é estéril.

— Ele não pode ter filhos.. – Fernando reflete

— Não! Ele não pode.

— Por acaso, essa criança de quem estamos falando é sua? – encaro meu irmão mais novo, que abaixa a cabeça e concorda. – Filho da puta!

— Tem certeza que não usaram camisinha? – Fernando pergunta, se levantando também.

— Tenho. E principalmente porque.. – ele tira uma foto do bolso e põe em cima da minha mesa. Por um instante quase caio pra trás, a menina é a incrívelmente parecida com minha falecida mãe. Posso ver os detalhes da família González nela, principalmente os olhos escuros e os longos cabelos negros – Não tem como negar, ela é uma González.

— Que está no território deles. – Fernando relembra. – O que faremos? Nossa lei não permite bastardos, ela terá que morrer ou ser enviada aos nossos aliados.

— Não me interessa as leis, ela é minha filha e virá pra cá.

— Leis são leis, Otávio. Não importa se você é o chefe ou conselheiro, terá que cumpri-las, veja o que papà fez com a filh..

— Cale-se, Fernando! – ordeno, e o mesmo obedece imediatamente – Otávio, você é casado e tem dois filhos. Sabe que sua esposa não irá aceitar uma bastarda, e poderá pedir a abdução dela, não sabe?

— Não me importa o que aquela mulher pensa, é minha filha e eu irei atrás delas. Ela está em território inimigo! Se eles descobrirem quem ela é, poderão usá-la contra nós.

— Sabe que eu não iria resgatá-la, não sabe? – informo, e ele confirma.

— Por isso vamos buscá-la.

Doce Tortura - Os Hérnandez 02Onde histórias criam vida. Descubra agora