second chance (Neteyam x Ao'nung)

PRECES

Lie si oe Neteyamur, Nawma Sa'nokur mìfa oeyä.

Atanti ngal molunge, Mipa tìreyti, mipa 'itanti.

Lawnol a mì te'lan

E assim, com o canto de Neytiri, acabou-se o funeral de Neteyam. Todos estavam abalados, principalmente os Sully's, mas entendiam que, para Eywa, tudo tinha um motivo. Bom, quase todos entendiam. Após todos irem para suas tendas, uma figura ainda se encontrava sentada na areia da praia, pensativa. Ao'nung. O filho de Tonowari e Ronal. Muitas coisas rondavam em sua cabeça. Como poderia ter feito algo para evitar a morte de Neteyam. Como ele poderia ter salvo ele caso estivesse perto, já que sempre carregava algas cicatrizantes consigo. Com certeza elas seriam de grande ajuda, certo? Seus pensamentos estavam tão intensos e ensurdecedores que não percebeu quando alguém sentou ao seu lado, encostando em seu ombro.

-Não consegue dormir?- Perguntou a figura, revelando ser Jake Sully, Toruk Makto. Sua voz grave acabou despertando Ao'nung de seu transe, fazendo-o encarar o mais velho, que possuía um olhar cansado e triste em seu rosto.

-Eu...Eu poderia ter feito algo...Eu poderia ter....feito algo- O garoto disse, quase em um sussurro, mas alto o suficiente para que Jake ouvisse, fazendo o maior o encarar com um olhar confuso. Ao'nung estava bem distante quando Neteyam foi atacado, o que ele poderia ter feito? -Eu tenho algas que são boas para cicatrizar.

Neste momento, o garoto puxou de uma de suas redes que ficam sempre em seu corpo, junto com seus adereços, um pequeno pedaço de alga marinha, colocando-a sobre um de seus pulsos. Jake se espantou de leve, mas achou algo muito inocente e gentil, o fato de achar que uma simples alga iria parar o estrago de uma bala.

-Meyam. É uma alga que cresce para além dos recifes, e ajuda com cicatrização. -Explicou o garoto, tentando provar seu ponto.-Tenho certeza que poderiam ter sido úteis e-

-Ao'nung. -Jake disse, interrompendo o descompassado coração do metkayina à sua frente.-Você não poderia saber. Estava ajudando os seus. Neteyam se foi como um guerreiro. Como um lutador que não desistiu, e fez o seu melhor. Ele morreu em glória, e a grande mãe irá recebê-lo de braços abertos, da mesma forma que vocês fizeram conosco quando chegamos aqui.

Esta última fala fez Ao'nung abaixar as orelhas e olhar de lado. Ele não havia sido o melhor dos anfitriões com os Sully's, tampouco com o próprio Neteyam. Seus insultos e piadas eram uma vergonha para seu clã, e o metkayina se arrependia amargamente de tudo o que fez.

-Eu gostaria que a grande mãe ouvisse minhas preces. -Comentou o garoto, abraçando as próprias pernas e escondendo o rosto entre as mesmas. -Eu o traria de volta.

-Ela me ouviu uma vez. Eywa. -Foi a vez do mais velho falar, olhando para cima e admirando as estrelas do céu noturno. Quando olhou de volta para Ao'nung, ele tinha um olhar curioso e espantado para o maior, buscando saber a resposta para a afirmação de Toruk Makto. -Quando o povo do céu veio para destruir os Omatikaya, eu estava desesperado para proteger os que eu amava. Em um momento de fraqueza e confusão, eu fui atrás da árvore das almas e fiz minhas preces. Pedi por forças, por sabedoria e por valentia. Ela sabia que eu faria tudo para proteger o povo. Então ela me ouviu, e mandou um exército enorme para nos ajudar na batalha. Acho que foi ali que eu soube meu lugar. Com os Omatikaya.

-Mas como você soube que ela ouviria? Já perdi a conta de quantas preces eu já fiz. -Respondeu o garoto, se levantando em um impulso e apoiando os braços no topo de sua cabeça, em sinal de cansaço.

-Eu não soube. Eu tive fé. -Afirmou Jake Sully, se levantando em seguida, fazendo o mais novo ficar à sua frente. -Eywa irá lhe ouvir quando sentir que o que deseja é certo e do fundo de seu ser. -Desta vez o maior apoiou sua mão no peitoral de Ao'nung, sentindo seu coração em passo angustiado. -Vá dormir Ao'nung, descanse. Todos precisamos de um tempo de paz.