second chance (Neteyam x Ao'nung)

MA'EYWA

Autora POV

Alguns dias haviam se passado desde a conversa de Neteyam com os pais de Ao'nung, e o omatikaya se encontrava cada vez mais ansioso e apreensivo. Se Eywa me der a mais remota evidência de que vocês não devem estar juntos, acabarão com isto. As palavras de Tsahik martelavam em sua cabeça a todo momento, afinal desejava estar ao lado do Metkayina, mesmo que seu relacionamento tenha acontecido rápido, sentia como se tivesse nascido para isto, da mesma forma que havia sido feito para voar com seu ikran. E se não fossem destinados a estarem juntos? O que faria quando Ronal o dissesse que Eywa não os abençoou? Como lidaria com isso? Fingiria simplesmente que nada disso nunca aconteceu, e enfrentaria a visão do herdeiro se unindo à outro alguém? Seus pensamentos melancólicos invadiram seu ser com uma presença significativa e, embora tentasse disfarçar para não preocupar sua familia, acabava liberando lágrimas e tendo crises de pânico silenciosas no meio da noite, tapando sua boca com a mão para não acordar Lo'ak. Seus amigos também notaram que estava mais aéreo e distante, mas por mais que insistisse em se aproximar, Neteyam não demonstrava estar aberto para desabafos ou demonstrações de misericórdia. Não se achava no direito ou luxo de piedade ou dó de ninguém.

Com Ao'nung a situação não era das melhores também. O garoto se encontrava quase sempre com uma expressão séria, com excessão de quando estava com Neteyam, onde sua cabeça descansava por algumas horas. Contudo ele não compartilhava da mesma angústia de seu amado, afinal em sua cabeça Eywa o fez para ficarem um com o outro, se não por que teria ouvido a si e o trazido de volta, quando tinha a certeza de que seus pais e irmãos pediam o mesmo, mesmo que silenciosamente em seus corações? Em seu peito havia raiva e intriga, não de Eywa ou de sua mãe, mas da situação em que se encontrava. E se no final das contas não tivesse a bênção? Não podia simplesmente escolher não aceitar e fugir com o omatikaya, mesmo tendo cogitado nos primeiros segundos de ira quando estava sozinho. Era o futuro Olo'yektan e deveria agir como tal. Havia decidido silenciosamente que aceitaria seu destino, independente se este fosse estar com quem amava ou não. Mas.....Queria Neteyam. Do fundo de seu coração o queria ao seu lado. Não sabia mais viver sem seu sorriso gentil, olhos dourados como o sol, suas presas de caçador que vez ou outra ficavam para fora de seus lábios de forma adorável, seus cabelos rebeldes que aparentavam se mover com o menor movimento, sua personalidade tão diferente de tudo que havia visto...Seu coração de ouro, cujo som trazia paz à cabeça turbulenta de Ao'nung. Por Eywa, o que não faria por ele? O metkayina riu, se conformando e espantando com o quão longe iria por Neteyam. Ele estava convencido de que, se o omatikaya quisesse, ele se arrastaria por carvão em brasa, se mandasse, Ao'nung arrancaria a própria cauda, apenas para ver um sorriso no rosto de seu amado.

-Ao'nung. -Foi desperto de seus devaneios por sua mãe, que adentrou o quarto do garoto e parou ao seu lado, estendendo a mão em sua direção em um pedido mudo para que a ajudasse a se sentar com os pés dentro da água gélida do oceano, o que foi concedido quase que de imediato pelo herdeiro. -O que o aflige?

O menino apenas deu de ombros e suspirou, apenas olhando para o a linha do horizonte, observando o reflexo forte do sol sobre o mar.

-Isto é por causa do garoto da floresta? -Ronal indagou, já sabendo do que se tratava a angústia de seu filho, que não respondeu, mas deixou que seus ombros ficassem tensos, o que acabou o entregando. -Meu filho, a Grande Mãe-

-Tudo sabe -Ele interrompeu a mais velha, completando sua frase. Já havia escutado aquilo tantas vezes que nunca mais sairia de sua memória. -É, eu sei mãe.

A Tsahik não sabia o que fazer para progredir com a conversa. Devido à seus deveres como canal para Eywa, pouco se recordava da última vez que passou um tempo com seu primogênito, então não sabia como confortá-lo naquela situação. Olhando para os céus a procura de resposta celestial, a mais velha sentiu uma brisa diferenciada bagunçar seus grossos cachos negros e atingir seus ouvidos, como se formassem uma melodia. Entendendo como um sinal, Ronal fechou os olhos e deu um mínimo sorriso.