O segredo dos anjos

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Jeonghan sentiu um arrepio lhe correr o corpo conforme se aprofundava cada vez mais dentro da biblioteca que sempre lhe foi tão familiar, mas que, de repente, parecia o lugar mais assustador para se estar. Os livros pesados pareciam se mover nas prateleiras, dando a terrível sensação de estar sendo observado. Os corredores pareciam cada vez mais longos, mesmo que ele andasse e andasse dentro da biblioteca. Até mesmo a iluminação, que sempre foi uma das maiores qualidades do céu, tudo tão claro quanto a própria luz, naquele momento parecia opaca e fria, pouco comum ao paraíso.

Ele nem mesmo sabia o que estava esperando encontrar, mesmo que tenham lhe dito que ele entenderia assim que encontrasse. Mas como ele encontraria algo que não sabia o que era? Seria um livro? Ou uma porta? Ou pior, uma pessoa? Jeonghan resistiu a vontade de dar meia volta e correr para a entrada.

Aquele parecia o pior cenário possível para ficar sozinho, um de seus tios estava morto a poucos metros daquela biblioteca e outro estava sendo mantido preso por uma mulher, que diga-se de passagem, ninguém fazia ideia de quem era, que estava matando pessoas inocentes para o que parecia ser algum tipo de ataque pessoal aos anjos, a família de Jeonghan, que havia sido alvo de alguns desses ataques de formas brutais.

Definitivamente era uma péssima ideia ficar sozinho.

Havia algo que ele sabia que iria encontrar naquele lugar, aquele segredo que todos mantiveram escondido dele, o que o tornava tão diferente, fosse bom ou ruim, seria finalmente explicado a Jeonghan. Ele só queria saber se valia a pena tudo aquilo.

Mas algo no olhar de seus pais o fez continuar andando, passo a passo, procurando algo dentro daquela biblioteca que, quem sabe, deixasse aquele maldito mundo menos confuso do que estava desde que Jeonghan desceu para a terra para ter uma vida normal - o que definitivamente não estava acontecendo.

Quando o anjo estava pronto para desistir da sua jornada em busca de sabe-se lá o que, ele ouviu, como a lembrança de um sussurro, quase imperceptível, a voz de Eunhyuk, risonha, contagiada por uma felicidade que não cabia aquele momento.

"Eu te disse que deixei você ganhar, então não fique se gabando."

Jeonghan procurou a sua volta a origem daquele som, querendo sentir um pouco mais da felicidade naquelas palavras, mas nada parecia diferente, nada lhe chamava a atenção. Enquanto isso, houve uma resposta:

"Você simplesmente não consegue admitir que eu sou mais rápido. É tão difícil aceitar que sou mais ágil que você, mesmo grávido?"

A voz de Yesung estava tão calma, serena, como fazia tempo que Jeonghan não ouvia. Sentiu seus olhos lacrimejarem, mesmo sem entender o porquê. Olhou mais uma vez ao seu redor, o peito apertado procurando de onde aquela conversa surgiu. Correu em passos apressados entre os corredores, o som cada vez mais próximo.

"Yesung."

Jeonghan parou diante de uma prateleira repleta de livros brancos, vibrantes, que parecia não ter fim conforme acompanhava seu cumprimento. No centro, um dos livros lhe chamou a atenção, parecendo pulsar na mesma intensidade que seu coração naquele momento e, conforme aproximava-se para olha-lo melhor, o som ficava mais nítido. Na lombada havia uma inscrição, acompanhada de um número, tão familiares ao anjo: "Jeonghan, 1004"

Ao tocar no livro, Jeonghan foi transportado da biblioteca direto a frente da sua casa, a poucas ruas de distância, mas sabia que aquela não era a atualidade. Sua casa não tinha mais aquele tom de verde claro, nem mesmo aquelas cortinas brancas nas janelas da sala. O dia lá fora não estava tão ensolarado, os anjos não andavam tranquilamente pelas ruas como se não houvessem preocupações. Aquela era uma lembrança, só que Jeonghan não sabia a quem pertencia.

Asas entre chamasOnde histórias criam vida. Descubra agora