Anjo assustado

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    O sol brilhava no céu com tanta intensidade que quem o visse pensaria que o dia seria devastadoramente quente. Jeonghan sabia que jamais podia confiar no calor daquela enorme bola de fogo quando se estava na Coreia. Ele não se importava, no fim.

    O frio não o afetava, mas qualquer outra pessoa estaria reclamando naquele instante por causa do vento gélido e da falta de roupas para se proteger naquele dia digno de nevasca.

    Jeonghan estava distraidamente futricando no novo celular para descobrir quais funções desconhecidas ele escondia. Desde o dia anterior, quando o comprou, o anjo não teve muito o que fazer com o aparelho. O único número em sua lista era o de Seungcheol, mas não se sentia seguro em mandar mensagem para ele ou sequer cogitar uma ligação.

    Devido a sua falta de atenção aos arredores, Jeonghan não notou Seungkwan se aproximando embrulhado em casacos grossos e uma touca preta que quase se confundia com seus fios. O tritão não parecia contente naquela manhã e a quantidade de motivos para que aquilo acontecesse era grande.

    - O céu não tem nenhum jeito de controlar o clima?

    Jeonghan podia jurar que já estava se acostumando com os sustos que levava. O anjo olhou o amigo de cima a baixo sentindo uma pontada de dó por vê-lo com tanto frio.

    - Você sabe que o céu não é bem no céu. Nós não lidamos com esse tipo de coisa. - Jeonghan explicou como se o amigo nunca tivesse ouvido essa informação. A caminhada começou em uma direção que o anjo não sabia aonde o levaria. - Esse departamento é com as fadas.

    - Não sei se fadas controlam o clima, mas posso ver com Hansol.

    - Falando em Hansol, como foi ontem?

    Seungkwan diminuiu os passos quando uma rajada de vento os cobriu. Jeonghan achou engraçado a forma que todos que passavam por ali naquele momento praguejaram juntos o clima.

    - Eu quem devia estar te perguntando isso. - como o anjo não respondeu, Seungkwan continuou: - Me sinto bem melhor depois de nadar. A água estava fria ontem, mas não importou muito. Senti falta daquela sensação.

    Jeonghan as vezes esquecia que Seungkwan era apenas meio tritão. Seu pai era um humano comum que vivia em uma cidade na costa - esse foi um dos motivos para ele conhecer a mãe do rapaz - sozinho com seus vários animais. Seungkwan revezava sua vida entre o mar com mãe e a terra com seu pai, tentando conciliar suas duas realidades. Depois que terminou a escola, Seungkwan começou a viver permanentemente em terra, mas precisava do mar para ficar bem. Ainda tentava manter um equilíbrio, mas vivendo em uma cidade que não era banhada por oceanos, sua vida se dificultava.

    - Você devia ir com mais frequência ao mar. - Jeonghan apoiou sua mão no braço do tritão. Tentou passar conforto.

    - Se tivéssemos tempo. Você sabe, eu estou terminando a faculdade, tenho essas aulas em Manderley e ainda o emprego três dias na semana.

    - Por que decidiu entrar em Manderley agora se estava tão sobrecarregado? Você ainda tem muitos anos para isso.

    Seungkwan o olhou como fazia quando tinha algo muito vergonhoso a dizer ou quando tinha medo de o falar. Jeonghan não sabia qual dos dois estava por vir.

    - Eu vim porque você me disse que viria. - Jeonghan quase sentiu seus olhos lacrimejarem, mas o vento era tanto que os secou em instantes. Seungkwan fingia que não havia dito nada demais e continuava sua caminhada tranquilamente com um anjo emotivo agarrado ao seu braço. - Mas chega de falar disso, quero saber sobre o shopping, ontem.

Asas entre chamasOnde histórias criam vida. Descubra agora