O tempo começou a passar muito rápido após a conversa de Jeonghan com Seungkwan a beira do mar. As semanas rodaram e, aos poucos, a rotina se estabeleceu mais uma vez. Manderley parecia menos melancólica e as pessoas começavam a deixar o medo um pouco de lado, como se, a um mês atrás, não estivessem todos desesperados com os atentados.
Jeonghan só conseguia pensar nos motivos que levavam os assassinos, causadores daquele caos, a estarem tão quietos. Desde a morte de Chungha - e o fatídico atentado daquela noite - não havia ocorrido qualquer outro ataque.
Não que ele estivesse reclamando. Sentia que o clima estava mais limpo, as pessoas menos amedrontadas, e a esperança voltando a rondar as pessoas. Se apertassem os olhos, era quase como se nada tivesse acontecido.
Naquele momento o anjo estava andando pelas gôndolas do mercado, procurando incessantemente por alguns biscoitos que amava, mas aparentemente estavam em falta. Esses momentos, como a ida ao mercado, com menos medo do que nos dias anteriores, eram o que faziam Jeonghan sentir que as coisas estavam mais calmas, uma rotina lhe dava essa sensação.
As vezes, enquanto estava executando ações cotidianas, como a ida ao mercado, as aulas em Manderley, a faxina do apartamento, o anjo se dava o direito de fingir que nada havia acontecido. Que o último mês não passava de um terrível pesadelo, nada mais do que isso. Isso lhe ajudava a lidar com as terríveis lembranças que ainda o atormentavam.
Jeonghan sabia que não era o único a procurar meios para lidar com o que aconteceu. Ele via Wonwoo, mesmo que poucas vezes no dia, e o demônio não parecia muito melhor do que ele mesmo. Seungkwan fingia muito bem seu estado de espírito e, se Jeonghan não conhecesse o amigo o suficiente, até acreditaria que ele estava bem.
Seungcheol conversava com o anjo vez ou outra, por mensagens principalmente, as vezes mostrava indícios de seu humor, de seus sentimentos e, assim, Jeonghan conseguia perceber que o salamander ainda era o pior de todos. E infelizmente o anjo não sabia o que fazer para ajudá-lo.
Agora, no mercado, Jeonghan se perguntava por que ainda não havia comprado um carro. Andar tantos quarteirões segurando tantas sacolas era quase um sistema de tortura para ele, mesmo que fizesse isso pelo menos uma vez na semana. Nunca ia se acostumar com o fato de se cansar três vezes mais na Terra do que no céu.
Enquanto equilibrava várias sacolas e lutava para não quebrar as garrafas de vidro dentro delas, Jeonghan se assustou com uma mão em seu ombro:
- Hey, precisa de uma mão?
Por sorte Jeonghan não derrubou as sacolas que continham recipientes de vidro com o susto que levou com a voz atrás de si. Era quase engraçado a forma que ele não estava surpreso por ser Seungcheol já que o salamander tinha um dom incomum para assusta-lo em lugares públicos.
Seungcheol parecia pouco preocupado se quase havia causado um acidente com as compras de Jeonghan, ou se era um tanto inconveniente suas abordagens sem preparação alguma que sempre causavam sustos nas pessoas. O sorriso em seu rosto e a postura despojada mostrava o quão pouco ele se importava com isso.
Ele vestia roupas escuras e pouco apropriadas para o frio, mas isso já não era uma novidade. A diferença em seu visual eram os óculos pendurados na ponta do nariz de Seungcheol que escondiam parte de seus olhos e, na opinião de Jeonghan, o deixavam alguns quinhentos mais sexy do que o normal.
Percebendo que estava perdido na forma como Seungcheol sempre parecia um modelo de revista erótica mesmo em seus momentos mais despojados, Jeonghan resolveu que alguma reação ao susto já era muito tardia e apenas cumprimentou o salamander um um aceno breve.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Asas entre chamas
FanfictieA Terra não parece tão assustadora olhando do céu, mas quando Jeonghan desce procurando uma vida normal, encontra uma série de crimes onde o rastro de sangue leva diretamente para os portões do paraíso. De quebra ainda tem Choi Seungcheol, o salaman...