Tempos de medo para os anjos

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Estava quase amanhecendo pelo que Jeonghan podia notar. O céu se tornava mais claro a cada minuto que passava e as estrelas que antes brilhavam incessantemente no céu já haviam desaparecido, dando espaço as nuvens pesadas que traziam a promessa de uma tempestade no futuro não tão distante.

Seungcheol segurava a sua mão como se ela o mantivesse ancorado. Ele o fazia desde o momento em que decidiram que era a hora de retornar a suas vidas e deixar aquele pequeno pedaço do mundo que apenas pertencia a eles. De mãos dadas os dois seguiram o campo em passos lentos, tentando prolongar a companhia um do outro, incapazes de aceitar se separarem outra vez.

Para o anjo, as memórias daquela noite estavam frescas em sua memória e ele tinha plena certeza de que demorariam a desaparecer, fazendo companhia em seus momentos de solidão no céu enquanto não podia aproveitar ao lado do outro. Restava a ele lembrar do toque, do cheiro, das sensações, e por tal motivo ele continuava revivendo em suas lembranças, preso naquele sonho que não desejava acordar.

- Você está distraído. - Seungcheol sussurrou. Jeonghan sabia que se aproximavam da cidade, o som da capital e sua energia se faziam presente a cada passo que eles davam pelo campo que se estendia no monte acima.

- É sua culpa. - ele sussurrou de volta, num tom provocativo. Seungcheol levantou uma das sobrancelhas, curioso para saber sobre sua responsabilidade no silêncio alheio. Ele esperou pela resposta: - Você é uma distração.

- E o que exatamente em mim faz você se distrair? - Jeonghan sabia que o salamander apenas estava usando aquilo como desculpa para ouvi-lo se atrapalhar em palavras enquanto tentava bobamente descrever os atributos do outro sem que tornasse-os um elogio.

- Eu não vou alimentar o seu ego. - a risada mal encoberta de Seungcheol encheu os ouvidos do anjo. - Você só quer alguns elogios.

Jeonghan quase tropeçou em seus pés quando Seungcheol parou sua caminhada e forçou o corpo do anjo a parar junto. Ele o puxou através das mãos unidas, colando seus corpos do mesmo modo como estiveram a noite toda. Mesmo assim, os batimentos dele não se importaram em falhar um pouco conforme Jeonghan percebia a proximidade deles.

- Se te consola, você também me distrai. - Seungcheol escorregou a mão livre até sua nuca, a carícia mais leve do que uma pena, mas causando uma série de reações no anjo. O tom de voz do salamander era quase inaudível e conforme ele falava, sua boca se aproximava da de Jeonghan. - Não sei como vou passar os próximos dias longe de você. Acho que estou viciado em um anjo.

- Está amanhecendo, preciso voltar, mas você está me fazendo odiar essa possibilidade. - Jeonghan desceu seus olhos até os lábios vermelhos do outro, convidativos como estiveram a noite toda.

- Também não é do meu agrado. - Conforme Seungcheol se aproximava, Jeonghan jurava que ele iria beijá-lo, mas ele apenas recostou a cabeça no ombro do anjo e apertou suas mãos unidas. - Sinto que vou queimar até minha ruína se me separar de você agora.

- Até onde me lembro, você é a prova de fogo.

Seungcheol se colocou na frente de Jeonghan no momento que a terceira voz se fez presente. A atmosfera esquentou, o anjo percebeu que era porque o salamander estava na defensiva para protegê-lo. Felizmente, a ameaça nunca existiu, pois a alguns metros de distância, na pouca iluminação do campo, Jeonghan sentiu a presença de Wonwoo, Hansol e Seungkwan.

Ele nem mesmo sabia dizer se aquele sentimento de alívio carregado de saudade pertencia a si ou a seus amigos, mas isso não o impediu de correr até os mesmos, com sede de sua proximidade, aflito em busca dos braços calorosos de Seungkwan, que o recebeu em um abraço apertado que dizia muito sobre a saudade que sentiam.

Asas entre chamasOnde histórias criam vida. Descubra agora