Declarações de um anjo

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Jeonghan estava segurando a xícara de chá quente nas mãos como se sua vida dependesse daquilo. Seungcheol estava sentado no sofá a sua frente bebericando da bebida fumegante totalmente distraído do olhar questionador que o anjo estava lhe lançando.

A verdade era que Jeonghan não fazia ideia do porquê Seungcheol estava em sua casa. Já faziam pouco mais de uma semana que o anjo tinha saído do hospital, suas cicatrizes quase desaparecendo de suas costas, deixando apenas uma pequena marca para fazê-lo lembrar do que havia acontecido. Nesses dias o único sinal que ele havia recebido do outro eram as mensagens que eles trocavam conforme o dia passava. 

Seungcheol perguntando se ele já tinha almoçado, mandando uma foto de alguma plantinha que viu na rua ou comentando algum fato inútil que havia descoberto. Parecia que ele se esforçava a todo segundo para estar em contato com Jeonghan, quase como se quisesse saber se ele estava bem, mas com medo de perguntar diretamente. 

Jeonghan realmente não fazia ideia de como agir diante disso.

Internamente ele se perguntava se Seungcheol também tinha aqueles pensamentos corriqueiros sobre o que eles eram, como eles deviam agir diante um do outro depois de terem se beijado - mais de uma vez. Jeonghan queria saber se para ele essas coisas tinham o mesmo peso que para o anjo, se as memórias também o faziam ter borboletas no estômago, ou se, as vezes, Seungcheol deixava de dormir para ficar relembrando os toques de Jeonghan.

Ele sabia que era totalmente mesquinho da sua parte estar tão preocupado com isso, ainda mais em um momento em que todos estavam preocupados com sua segurança, com medo de algum ataque surpresa. Mas ele não conseguia evitar, a cada segundo que passava aqueles pensamentos voltavam como uma bola de basquete acertando sua cabeça. Ele se sentia egoísta, mas aquele era o efeito que Seungcheol estava causando em Jeonghan.

- Você está me encarando como se eu tivesse atropelado seu cachorro. - Seungcheol chamou a atenção do anjo. 

Jeonghan quis se estapear por ser tão óbvio. Ele limpou a garganta e virou para dentro o restante do chá que tinha em sua xícara.

- Eu não tenho um cachorro.

- Acho que você já deve ter ouvido falar em "figura de linguagem" no céu, não é? - Seungcheol brincou. Seus olhos foram para o vapor subindo de sua xícara, muito mais do que o chá de Jeonghan sequer fazia. Jeonghan imaginou se o salamander não estava fervendo seu chá ao máximo do calor possível para a pequena xícara. - Se não, deixa eu te apresentar a hipérbole, é quando...

- Eu entendi o que você quis dizer. - Jeonghan revirou os olhos. Sem sua xícara para segurar, que agora estava esquecida sob o aparador ao lado do sofá, ele se sentia exposto. 

- Então vai me dizer por que tanta intensidade nesse olhar? - Jeonghan fingiu não perceber que Seungcheol estava se divertindo com a situação. - Por favor, se for por causa da minha beleza, não me conte. Esse é um fato já muito conhecido pela minha pessoa.

- Eu juro... - Jeonghan começou a exclamar indignado, mas respirou fundo. - Como alguém consegue ter um ego desse tamanho? O que te faz pensar que eu te acho bonito?

- Ora, vamos, anjinho... - Seungcheol se levantou como um tigre espreitando a presa, essa sendo o pobre Jeonghan que se sentia como um servo diante de um farol, vendo o outro se aproximar de seu sofá lentamente. - Se bem me lembro você ficou paralisado com minha beleza na primeira vez que me viu, ali na porta. Depois não conseguiu tirar os olhos de mim por um longo tempo e, deixe-me te dizer, me senti totalmente exposto diante do seu olhar naquela noite.

Seungcheol cobriu o próprio corpo como se estivesse desnudado e tentasse se esconder.

 Jeonghan podia sentir suas bochechas vermelhas, internamente se estapeando por ser tão idiota ao ponto de todos repararem o quão hipnotizado ele tinha ficado com Seungcheol quando o conheceu. 

Asas entre chamasOnde histórias criam vida. Descubra agora