Anjo sem asas

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    É claro que ele tinha consciência de que estava encarando Seungcheol como se ele fosse um pedaço de carne e que talvez estivesse sendo um pouco esquisito e até maníaco, mas era difícil se controlar quando aquele homem bonito estava mordendo um canudinho enquanto conversava distraidamente com Mingyu e Chungha.

    Já faziam mais de uma hora que Seungcheol havia chego e já se passavam das dez da noite. Jeonghan sentia que, para aquele grupo, um horário como esse era considerado cedo. Eles deviam ser o tipo de pessoas que usavam a frase "a noite é uma criança" para justificar as possíveis travessuras que faziam quando o sol estava ausente.

    A conversa fluía consideravelmente bem, todos participando e Jeonghan fazendo um comentário breve aqui e ali, sem querer parecer intruso em assuntos que pareciam íntimos daqueles amigos.

    Seungkwan vez ou outra checava com o canto dos olhos de Jeonghan parecia estar bem, não que o anjo entendesse bem a intenção do amigo com isso, mas achava fofa a forma que ele parecia se importar se Jeonghan estava ou não gostando de seus outros amigos.

    Wonwoo estava sentado no chão a quase um metro de Jeonghan degustando de uma caixinha de suco que o anjo não fazia ideia de onde tinha surgido. O demônio estava embrulhado no casaco do namorado como se o frio fosse seu maior inimigo e Jeonghan não conseguia cortar o pensamento de que Wonwoo devia ouvir com frequência que era o ser mais fofo que já habitou a Terra.

    - Posso te perguntar uma coisa? - Wonwoo falou ainda com o canudo do suco entre os lábios. Levaram alguns segundos para Jeonghan entender que a pergunta era para ele.

    - Pode, eu acho.

    - Onde estão suas asas? - Wonwoo passava os olhos por cada micro expressão de Jeonghan esperando sua resposta.

    Jeonghan culpava a proximidade com o demônio por ter se arrepiado, mas no fundo ele sabia que não reagia bem quando o assunto eram suas asas.

    - Elas estão... escondidas.

    - Elas devem ser lindas. - Wonwoo comentou, os olhos deixando Jeonghan para focarem na caixinha vazia em suas mãos. Ele a examinou por bons segundos, como se tivesse algo para encontrar nela.

    - Eu não uso muito elas, são grandes demais. - Jeonghan quase não se lembrava da aparência de suas asas para confirmar se eram bonitas como o demônio dizia.

    - Achei estranho, só. - como Jeonghan não respondeu, Wonwoo continuou a dizer: - Todos os anjos que já vi ostentavam as asas com tanto orgulho, pensei que você também faria.

    - Meus tios são um pouco exibidos. - Jeonghan quis rir pelo olhar que Wonwoo o lançou, ele quase podia ouvir o demônio dizer pelos olhos "um pouco?" - Mas alguns anjos não usam as asas na Terra para não serem identificados.

    - Se eu não fosse um demônio, jamais saberia que você era um anjo.

    Jeonghan percebeu que Hyojong estava observando sua conversa com Wonwoo.

    - Eu nunca vi um anjo antes. - o rapaz comentou. Jeonghan e Wonwoo lançaram olhares para ele que estava no sofá em que eles se recostavam. - Mas ouvi dizer que as asas são lindas.

    - Não mais do que a alma.

    De repente Hansol também estava na conversa:

    - A alma?

    Jeonghan sentiu que precisaria explicar com detalhes.

    - As almas dos anjos são como sua graça. É a coisa mais pura que Deus criou depois do amor. - Jeonghan recebeu o mesmo olhar que Seungkwan o lançou quando contou essa história a ele. - Foi assim que me disseram no céu. A alma de um anjo é tão linda que deixa qualquer outro anjo encantado a ponto de confundir isso com amor.

Asas entre chamasOnde histórias criam vida. Descubra agora