71. Survive

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Se passaram quase 5 anos, há um tempo estava com 23 anos sendo call center no Texas, hoje devo estar com 27, e tanta coisa mudou, mas nem percebemos a mudança por estar tão acostumados com a lentidão do processo.
As pessoas tentavam se juntar sempre que possível, entretanto, raramente dava certo, quarentena, recintos, grupos e quarteirões inteiros eram um indício de recomeço cívico, nunca via com bons olhos devido a experiências passadas, em algum momento ou era os infectados que destruíam ou as próprias pessoas que se sucumbiam no seu ego inesgotável em busca de poder. Cidades maiores eram centro da pandemia, você via o tempo dar cor aos enormes edifícios de concreto cinza, fora os que se despedaçavam uns em cima dos outros criando ruínas enormes e fechando caminhos. O pó, as vinhas, a grama que crescia por toda parte, os pântanos que se formavam dentro de shoppings, os animais de zoológico soltos, infectados no escuro, as chuvas ácidas, os carros enferrujados por toda pista, as mortes repugnantes, a agressividade na mutação dos indivíduos, o processo de se infectar e sentir a febre te queimando por dentro, isso tornava tudo tão assustador, as noites sem dormir, o costume de passar fome, os sustos de ter um zumbi a espreita no canto da casa, viver na escuridão, não confiar em ninguém, silêncio, grunhidos na madrugada, roupas sempre sujas, cheiro de sangue, o cenário do caos passado por toda parte, matar sendo covarde, fazer o que é preciso para não ser um dos seus, conviver com fardos pesados e ficar cansada, mas ser forçada aprender a descansar e não a desistir, eram pinturas a óleo neste cenário estético.

"Há mais coisas que podem nos assustar do que para nos destruir, sofremos mais na imaginação do que na realidade"

Ao adentrar o local em que Hanna estava acompanhada de Kenna e Tank, corri até seu leito e entrei em estado de êxtase em vê-la bem.

— Pelos céus Hanna, você está bem? - Segurava sua mãos, enquanto a mesma revirava seu pescoço me lançando um ok com a outra mão.

— Eu tive sorte! - Murmurrou ainda fraca.

Sorte era uma palavra que não usava tanto em meu vocabulário por não a ter comigo a um tempo.

— Sorte é você estar num banco e não ser assaltado, andar pela rua e não ser atropelada, não existe sorte aqui Hanna, ou você é forte o bastante pra sobreviver ou morre, os lobos não caçam o veado sem sorte, eles caçam o mais fraco.

— Espero que eu não tenha sido o veado sem sorte.

— Claro que não, soube que o Benício te salvou!

— E me carregou até desmaiar praticamente

— Hanna eu...

— Hazel, eu sei o que vai dizer, e saiba que foi eu quem mandei você embora, eu não estava esperando por ele, mas fui um veado de sorte.

— O Benício? Sério?

— A muito tempo queria dizer, mas a gente se afastou tanto, todos nós.

Tank tocou meu ombro.

— É melhor deixar a Hanna descansar Hazel, vamos, temos que falar com Klaim ainda.

Voltei a ela com o rosto vermelho.

— Vai lá Hazel, eu vou ficar bem, daqui a pouco o Benicio vai vir.

— Sabe que se ele...

— Eu sei querida, obrigada por tudo. - Disse ela com tom fraco ainda com dores.

Julgamento ao Amanhecer - Zumbie™Onde histórias criam vida. Descubra agora