40 - Não quero beijar ninguém.

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🖇 | Boa leitura!

Fazia uns trinta minutos que eu olhava para a banheira cheia

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Fazia uns trinta minutos que eu olhava para a banheira cheia. Me sentia com mais coragem antes de desligar a torneira. Olhar a água parada daquela forma e estar sozinho no banheiro me fazia ter a sensação de que eu seria sugado para alguma atmosfera paralela se entrasse na água. Parecia errado demais sequer pensar em fazer isso sem ter alguém para me apoiar, alguém para dizer que me salvaria se alguma coisa acontecesse mesmo estando mais do que claro que nada aconteceria. Mas eu não tinha mais ninguém para me ajudar, então que eu ajudasse a mim mesmo.

Coloquei um pé depois o outro, fiquei de pé por cinco segundos e finalmente sentei antes que pudesse pensar mais e me dar tempo para desistir. Encostei-me contra a borda e respirei fundo com o meu olhar preso no teto. Tentei me concentrar na minha respiração como o meu terapeuta aconselhou e pouco a pouco fui desviando a minha atenção para todos os meus sentidos, até estar totalmente consciente de que meu corpo estava mergulhado na água morna. Isso era relaxante para a maioria das pessoas, deveria ser para mim também ao invés de me dar a sensação de que estava sendo sufocado.

Respirei fundo mais uma vez, soltando o ar devagar pela boca. Fechei os meus olhos e pensei na Dulce. Lembrei do dia em que estivemos ali juntos, de como pareceu fácil com a sua presença, de como eu queria enfrentar o meu medo só para que ela visse e tivesse orgulho de mim. O quanto ela se orgulharia se soubesse que estou fazendo isso sozinho?

Decidi fazer algo diferente. Focado na lembrança da voz da Dulce me dizendo que iria me salvar, deslizei pela borda vagarosamente, afundando-me mais, meu pescoço submerso, depois o meu queixo, minha boca e então eu prendi a respiração e só enfiei-me debaixo da água. Abri os meus olhos tendo uma visão embaçada do meu corpo. E aí eu perdi o controle daquilo e tive uma sensação péssima de que a qualquer momento alguém enfiaria as mãos dentro da banheira e tentaria segurar a minha cabeça ali embaixo até que eu desmaiasse ou morresse.

Saí da banheira imediatamente, ofegando enquanto procurava a toalha. Fui tão descuidado que molhei o banheiro inteiro. Abri o ralo e observei a banheira secar até não haver água alguma.

Um passo de cada vez. É só uma banheira idiota.

Saí do meu quarto usando uma calça de moletom cinza e uma camisa branca. Era noite e eu fiquei de jantar com o Luís antes que ele voltasse para a sua casa. Ele tinha acabado de voltar da sua conversa com a Barbara, a qual demorou bastante para acontecer desde que ela o contatou pela primeira vez. Acho que os dois estavam se preparando mentalmente para o que iria vir. Ele estava na cozinha colocando a pizza recém entregue sobre a mesa.

— Como se sente hoje? — perguntou depois de me observar com cautela.

Fazia exatamente uma semana desde que eu terminei com a Dulce. Acordei com um péssimo resfriado no dia seguinte e tive uma febre que nunca passava, sempre indo e voltando durante os três primeiros dias, fazendo com que Luís me arrastasse até o hospital só para eles me dizerem que eu não tinha nada e que deveria ser só uma gripe comum. Depois disso, o meu irmão insistiu na opinião de que minha febre era emocional e que eu deveria tentar me distrair para parar de pensar na Dulce.

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