Ninjas Comem Macarrão

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Tento ver o lado positivo, afinal, eu finalmente poderia deixar o passado para trás. Prometo a mim mesma que Garu havia me magoado pela última vez, ele só teve esse poder sobre mim porque eu deixei. Sei que errei, sei que quase destruí uma vida. Foi um acidente, eu tinha apenas treze anos quando aconteceu. A polícia considerou um acidente, ninguém me culpou mais do que eu mesma. Chorei por meses na unidade socioeducativa, e por um ano inteiro não consegui dormir sem ter uma crise de pânico.

Suspiro após lavar o rosto na água turva do laguinho. As carpas nadavam suavemente próximo a superfície. Eram tão bonitas e coloridas que eu queria apenas ficar aqui, olhar para elas e esquecer que um dia já tive problemas.

— Ho, ho, ho, o que temos aqui! — a inconfundível voz do bom velhinho chega primeiro do que ele — Pucca, que bom que voltou! Seja bem-vinda de volta ao lar!

Sorrio feliz ao ver um rosto conhecido após tantos anos. Não me contenho e me levanto para abraçá-lo no mesmo instante.

— Papai Noel, não faz ideia do quanto senti saudade!

— Ah, garotas boazinhas ganham presente de boas-vindas — ele me entrega um globo de neve, continha uma miniatura do restaurante.

— Não acho que me comportei bem esse ano... — rio fraco, pronta para devolver.

— Mas é claro que sim, Pucca! Se cuide, está bem? Ho, ho, ho — Papai Noel segue seu caminho cantando músicas natalinas.

Seguro o globo de neve nas mãos, pensando em tudo o que aconteceu anteriormente. As palavras de Garu ainda me comovem e não de forma positiva. Será mesmo verdade que o restaurante corre risco de fechar por minha causa? Enquanto estive longe meus tios chegaram para me visitar durante um mês inteiro algumas vezes. Aproveitávamos para fazer turismo, e nunca me passou pela cabeça que o Go-Rong corria perigo.

Tento afastar esse tipo de pensamento destrutivo. Se eu quisesse saber a verdade teria que ser pelos meus tios. Um nó se forma na minha garganta e não sei se estou pronta para perguntar. Céus, porque as coisas tinham que ser desse jeito?

Se pelo menos eu tivesse alguém com quem eu pudesse desafabar e falar sem julgamentos morais. Quem sabe alguém que me conhece desde sempre. Minha mente chega a única conclusão possível. Eu devia ir visitá-la agora mesmo, ainda mais para prestar minhas condolências.

Retorno ao restaurante, vendo-o tão vazio quanto na noite anterior. A triste surpresa me pegou desprevenida. Esse lugar formava fila duas horas antes do almoço, onde estava todo mundo? Conforme me dirijo aos fundos, percebo alguns homens vestidos de preto. Não eram como os ninjas que usavam máscaras e capuzes tradicionais e portavam katanas. Estes eram mais "modernos" se é que posso colocar dessa forma. Portavam armas e ostentavam tatuagens que mais pareciam insignias de gangues. Eles sorriem pra mim conforme passo, mas ignoro, pensando comigo mesmo que não era tão ruim e que eu deveria manter a calma.

Eles eram os únicos clientes, eu não podia expulsa-los a força, por mais que merecessem uma surra. Não pratico luta de verdade há anos, e treinamento é bem diferente do que na prática. Mas nesse momento sinto que posso me garantir num combate, contanto que não usasem armas. Que droga, porque não posso ter dez anos novamente e resolver qualquer coisa com alguns socos?

Ao chegar na cozinha, apenas tio Ho havia chegado para dar conta dos pedidos e Dada lavava os pratos na pia do canto. Eu lavo as mãos e começo a ajudar a cortar os ingredientes. Era mais fácil quando os três estavam aqui e dividiam as tarefas em qual cada um era especialista.

— Pucca você não precisa...

— Deixa comigo — sorrio enquanto fatio os legumes numa velocidade que o deixa boquiaberto — Onde estão os outros mesmo?

Corações Não MentemOnde histórias criam vida. Descubra agora