Corações Não Mentem

O Treinamento Ninja

Eu me aconchego em seu abraço ao despertar, tomando consciência de que aquilo era real. Tobe estava mesmo ali, nós estávamos juntos. Já fazia uma semana inteira e mesmo assim ainda era um pouco surreal para mim. Acho que nunca me senti tão bem, tão feliz e apaixonada. Olho para ele com o fascínio de sempre, observando os olhos fechados, a respiração calma, alguns fios de cabelo caindo sobre a testa... Acaricio seu rosto levemente, tomando cuidado, mas seus olhos se abrem no mesmo instante. Eu não queria acordá-lo, mas a droga do treinamento ninja havia deixado seu sono muito leve.

— Desculpa — digo.

Tobe segura minha mão com carinho, guiando-a gentilmente até seus lábios para um beijo delicado. Não consigo deixar de sorrir, nem por um momento. Não me sinto tão boba e apaixonada desde dez anos atrás, só que agora era cem vezes melhor, o sentimento recíproco proporcionava isso. Não saímos juntos publicamente, ainda não contamos para ninguém. Desde o dia que sucedeu o festival ele tem vindo ficar comigo durante a noite, entrando pela janela como da primeira vez em que ele se declarou. Tobe demonstrava seu afeto em cada gesto que fazia, e eu não tenho do que reclamar, eu nem mesmo conseguia me desgrudar dele quando estávamos juntos.

— Dormiu bem? — ele continua segurando minha mão com uma carícia suave.

— Você quer dizer nada poucas horas que dormimos? — brinco — Muito bem, e você?

— Muito, muito bem — ele responde com um sorriso sonolento.

— Eu sonhei com você hoje — confesso.

— Ah é? — ele ergue as sobrancelhas — E nele eu também te dava flores?

Olho de relance para o arranjo na minha penteadeira, admirando a beleza do arranjo de flores coloridas por um breve momento.

— Na verdade você roubava minha scooter e eu batia em você por isso — sorrio com dó ao quebrar sua expectativa.

Tobe suspira enquanto fecha os olhos. Alguns segundos silenciosos se passam até que ele expresse um singelo:

— Ah.

— Tá tudo bem, isso foi há muito tempo... — eu tento despreocupá-lo.

— Desculpe por isso — o ninja insiste.

— Foi uma lembrança boa, não guardo mágoas... — acaricio seu rosto — E desculpe ter batido em você.

— Tá tudo bem, eu mereci — ele esboça um sorriso de canto.

Me aproximo dele e me inclino para dar um beijo em sua bochecha, encerrando ciclo de desculpas que já não eram mais necessárias. Eu me levanto da cama enquanto desfaço o coque e vou em direção ao banheiro. Ao sair, pego nossas toalhas. Tobe permanece deitado, só que agora com as mãos atrás da cabeça, me observando.

— Você vem? — estendo a mão para ele.

— Você é muito linda, sabia?

Seu tom sério ao dizer aquilo me desconcerta. Assim que Tobe segura minha mão, ele me puxa de volta para a cama, mais especificamente para o seu colo. O gesto brincalhão me pega desprevenida, mas o ninja logo assume uma postura séria ao olhar nos meus olhos.

— Eu te amo

— Eu também te amo — me controlo para não soluçar as palavras. Tobe beija minha testa uma última vez e me deixa ir.

Me levanto novamente, e dessa vez ele vem comigo. Eu visto minhas roupas no banheiro após o banho, enquanto Tobe vai buscar as suas na gaveta. Além de algumas peças de roupa que ele havia trazido, também trouxe algumas armas ninjas e escova de dentes. Nunca se sabe quando os Mogwai resolveriam atacar, bom... Ainda não, e por isso tínhamos que estar preparados.