Velhos Inimigos

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Eu chego aos limites da vila andando pelo caminho sinuoso da mata de bambus. A brisa morna da tarde soprava no meu rosto, enquanto eu me aproximava cada vez mais do fim do bosque. Quando finalmente cheguei ao limite, parei para observar a paisagem à minha frente.

O vale se estendia diante de mim, cercado por montanhas majestosas, com seus picos cobertos de neve cintilante. O rio que corria pelo centro do vale era uma linha prateada que se estendia até onde os meus olhos podiam ver. A vegetação em torno do rio que deságua no lago cristalino estava tingida de tons esverdeados. O vento continuava a soprar, mas eu estava hipnotizada pela beleza da paisagem à minha frente. Eu tinha visto o vale muitas vezes antes, mas nunca me cansava da sua beleza.

Após um breve momento de nostalgia eu avanço, seguindo pela margem do lago. Se eu estou certa não deveria faltar muito agora. Ouço barulhos à distância e acelero o passo. Logo avisto um grupo de ninjas conhecidos. Não consigo evitar o sorriso que surgiu involuntariamente no meu rosto. Eles logo notam minha presença, e aos poucos vão parando o treinamento com espadas de madeira e olhando para mim. Começo a ficar desconfortável com a atenção, mas era compreensível, eu cheguei de surpresa.

— Oi! — digo para os dois primeiros ninjas parados na minha frente. Eles ficam em silêncio, e por isso continuo — O Tobe está por aqui?

— O que quer com o Tobe? — um deles devolve retirando a máscara. Para a minha surpresa ele e nenhum outro parecia ser muito mais velho do que eu. Não me lembro muito bem, mas suas vozes e olhos eram familiares.

— Eu só queria saber... Eu preciso falar com ele, é urgente!

— Acho melhor voltar, o Tobe não gosta de ser incomodado.

— Mas foi ele quem pediu para eu vir aqui — minto descaradamente. Eu precisava falar com ele e não seriam esses ninjas que me impediriam por uma bobagem dessas.

Os rapazes se entreolham, como se estivessem se comunicando silenciosamente. Após um breve momento, eles permitem que eu passe, indicando um pequeno armazém mais isolado. Não vejo ninguém, e também não ouço nada. Dou uma batidinha na porta para anunciar minha entrada. Assim que ponho o pé para dentro sinto que pisei em alguma coisa. Olho para baixo, e para a minha surpresa tem uma corda presa a uma rede no teto. Uma armadilha.

Respiro fundo pensando no que fazer. Não importa o que eu faça, no momento em que eu tentasse correr aquela rede iria desabar em cima de mim. Estou prestes a gritar por ajuda quando uma haste metálica e fria é pressionada contra o meu pescoço.

— Quem é você e o que faz aqui? — a voz do homem que me fazia de refém ainda era tão grave e rouca quanto eu me lembrava. Rio de sua tentativa de me intimidar.

— Não reconhece uma velha iniamiga? — misturo as palavras.

— Como é? — percebo sua confusão.

— Tobe, sou eu, Pucca!

— O que? — ele tira a lâmina do meu pescoço.

— Não me reconhece sem a roupa vermelha? — olho para trás e me surpreendo com seu tamanho. Tobe estava enorme, e não somente em altura. Quer dizer... O que eu estou pensando?

— Está falando agora... — ele comenta, estreitando os olhos para mim como se ainda não me reconhecesse.

— Ah entendi, eu devia ter só grunhido ou feito algum ruído — rio tentando amenizar a situação — Desculpe aparecer sem avisar... Será que pode, ergh, destravar isso?

Tobe corta a corda da armadilha, desativando o dispositivo que faria a rede cair. Enquanto ele faz isso, não posso deixar de notar o quanto ele está crescido. Lembro de quando ele era apenas um adolescente vestido de azul escuro. O vi poucas vezes sem a máscara, mas lembro que seu cabelo era maior naquela época. A marca da cicatriz em formato de X entre os olhos era inconfundível. Ele estava tão diferente que só tenho certeza de que era ele devido a marca.

Corações Não MentemOnde histórias criam vida. Descubra agora