Sentimentos Não Declarados

183 26 29
                                    

Estou prestes a pisar num galho seco quando ouço vozes. Desvio devagar e procuro caminhar pela estrada de terra, evitando as folhas e tudo o que fizesse ruído perto dos armazéns. Eu não queria espiar, claro que não, mas eles pareciam tão animados. E mais ainda, Tobe estava sorrindo. Era uma risada sarcástica, sem humor e forçada, pois ele dá um soquinho um pouco bruto demais no ninja sentado próximo a ele. Ainda assim, todos levam o gesto num tom de brincadeira e continuam rindo.

Não sei do que se trata, estou escondida há alguns metros atrás de uma árvore e não consigo distinguir as vozes. Os ninjas estão todos sentados em um círculo ao redor de uma fogueira onde assavam cachorros-quentes, com exceção de Tobe. Ele estava em pé, vestido com roupas escuras e até onde posso ver ele portava sua katana.

Não consigo evitar rir também, mesmo não entendendo do que se tratava, e por isso cometo um deslize. Acabo me debruçando demais sobre a árvore e meus pés arrastam no chão empoeirado da estrada. Droga, essas pedrinhas fazem um barulho alto. Abaixo, tentando me esconder atrás da árvore, mas tenho a impressão de que todos eles olharam na minha direção. Respiro fundo, ouvindo um silêncio sinistro juntamente com meu batimento acelerado.

— Espionagem nunca foi seu forte, não é?

Me viro para dar de cara com o ninja a minha frente. Consigo dar um sorriso sem graça ao vê-lo. Tobe estava vestido inteiramente de preto, e devo ressaltar que combinava com ele. Seu cabelo parecia úmido e exalava um perfume muito bom. Não deixo de reparar, mas eu também estou um tanto tímida para comentar. Não sei porque, mas algo me diz que os ninjas riram por algo a ver com isso. Opto por sorrir e agir como se eu não tivesse sido pega na minha frágil e inocente tentativa de espionar.

— Você está ótimo! — as palavras simplesmente escapam — Ergh, tá bem camuflado, foi isso que eu quis dizer. Trouxe a espada...

Ele ergue a mão que segurava a katana, como se só agora lembrasse que a estava segurando. Tobe a prende nas costas, afivelando a capa, e em nenhum momento desviando os olhos dos meus.

— Então, tem alguma ideia de...

— Droga... — ele suspira baixinho.

— O que foi? — me preocupo.

— Eu tenho que fazer uma coisa primeiro.

— Tudo bem, eu vou com você... — digo mesmo sem saber o que é.

A princípio ele insiste para que eu ficasse e esperasse ali, mas eu insisto de volta. Afinal, Tobe estava me ajudando então era justo que eu o ajudasse também. Após uma breve ladainha sobre quem iria aonde, eu decido que vou ajudá-lo de volta, não importava o que fosse.

— Precisa sim! — digo tomando a dianteira, indo em direção ao armazém que o encontrei mais cedo.

Com um suspiro, Tobe me segue. Não entendo sua relutância em me deixar vir junto, ao menos não de início. O ninja vai até os fundos do armazém onde havia um freezer ao lado de uma pia. Um pequeno vulto preto passa correndo e eu quase caio para trás quando diversos outros vultos saem correndo. Também quase grito de susto, mas um miado fofo e baixinho me impede.

— Ah Tobe, que gracinhas! — eu me agacho para acariciar os gatinhos, eram na maioria filhotes.

— Gostou deles? Por que não leva pra você? — ele devolve. Tobe coloca potinhos no chão e distribui pedaços de peixe. Os gatos vem correndo para comer.

— Porque eles obviamente te amam — rio ao ver dois deles se esfregarem na perna do ninja — São tão lindos, não me disse que tinha filhos!

— Vamos embora logo — ele me apressa ao passar pelos gatos.

Corações Não MentemOnde histórias criam vida. Descubra agora