Amizade Verdadeira

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Após a conversa mais esquisita e conturbada da minha vida, corro o mais rápido que posso. Mas que droga, por que aquele ninja tinha que contar informações pela metade? O que havia acontecido de tão grave? Ou talvez não fosse nada grave, talvez ele só tivesse se expressado mal... Seja o que for, ele havia se arriscado a vir até a vila para me contar.

Estou quase no final do bosque de bambus quando ouço um ruído. Diminuo o passo, embora eu continue a andar apressada. Subitamente entre as árvores fica mais alto.

— Ei! — uma figura alta e vestida de preto sai de trás do arbusto.

— Que susto! — ponho ambas as mãos no coração, era apenas o ninja de Tobe — O que você... Mas quem é você?

— Desculpe — ele parece envergonhado, o que o faz parecer mais jovem — Eu me chamo Kaito, não quis assustar.

— O que aconteceu com Tobe? Ele está bem? — pergunto sem rodeios, minha voz sai mais alta do que o previsto.

O ninja olha em volta, da mesma maneira que havia feito na vila, mas não estávamos sendo seguidos, eu tinha tomado cuidado.

— Sinceramente... Não sei, não o vimos desde aquele dia em que ele saiu com você. Pensávamos que o encontro havia sido ruim e que ele queria ficar sozinho, mas já faz uma semana e ele nem apareceu para pescar.

— Que? — pergunto com um misto de alívio e preocupação, mas espera, o que ele havia dito? — Encontro? Não foi um encontro, nós... Ele... Ele só me ajudou com os ninja do Muji.

— O Muji? Por que ele não nos chamou então? — o ninja rebate, mas parece indagar consigo mesmo.

Fazia um pouco de sentido ele ter assumido que era um encontro, afinal, quando éramos jovens Tobe nunca planejou nenhum de seus ataques ou intimidações sozinho. De qualquer forma, não tenho tempo para pensar nisso agora.

Caminhamos apressados e em silêncio até o acampamento de pesca, mas estava vazio àquela hora do dia. Apenas mais um outro ninja preparava uma fogueira, e os chalés em volta estavam com as luzes todas acesas. Vou caminhando na direção do armazém que o encontrei pela primeira vez, mas o ninja aponta outro caminho. Mais afastada e escondida do que as outras, estava uma casa de dois andares. O caminho estreito pelo terreno ficava de frente para uma pequena extensão do lago, que mais parecia um córrego. Ali a vegetação era mais intensa e árvores de tons terrosos e desbotados ornamentavam a paisagem.

A casa era muito bonita, e a pequena estrada de terra até ela era provida de iluminação externa por lâmpadas suspensas. Havia luz lá dentro então, com otimismo, havia alguém em casa. Estou prestes a tocar o puxador para bater na porta quando o ninja me impede.

— Não toque aí — ele aponta para um canto da varanda.

Havia dardos escondidos embaixo do revestimento do teto, apontados diretamente para nós. Agradeço com um aceno e pergunto:

— Tobe está mesmo em casa? — estranho, estava tudo muito silencioso.

— Han veio aqui ontem e Tobe quase atirou uma espada nele — Kaito explica, baixando consideravelmente o tom de voz — Bata na porta e diga que é você.

— Mas você disse que ele tinha sumido? — sibilo furiosa. Definitivamente não estou com paciência para lidar com enigmas.

— Ãhn? Não, eu só disse que eu não o vejo desde aquele dia, isso não significa que ele...

— Eu posso ouvir os dois do lado de fora — a familiar voz do ninja ecoa de dentro da casa. Meu coração acelera, num misto de alívio e nervosismo.

Corações Não MentemOnde histórias criam vida. Descubra agora