Capítulo 2 - A curiosidade matou o gato.

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Com o tablet em mãos, vamos ver o que conseguimos Maya Bishop 29 anos. Telefone. Endereço. Olha ela ainda mora na mesma rua, no mesmo prédio. Era um bom lugar, principalmente para uma bombeira e levando em consideração com o seus amigos, ela estava bem de casa. Há sete anos aquele lugar trazia alegria, hoje ele me faz mal.

Continuo olhando aquilo como se tivesse todas as respostas para minhas perguntas e nem sabia se realmente tinha algumas, vejamos algumas visitas de 2009 a 2010. Nada anormal, levando em conta a sua profissão, são pequenas contusões e não é interessante continuo procurando e não há nada até 2015 a 2017. Subo as vistas até a data anterior, como é?  Há um salto enorme aqui, como se ela não tivesse feito nada durante cinco anos. Nenhum machucado em 5 anos? Impossível!  Procuro embaixo, onde os prontuários entres esses anos estão?

Procuro, procuro e nada.

Tento entender como a garota com o desempenho fora do normal para fazer besteira não tem nem sequer um arranhão em cincos longos anos? Fico me perguntando até que vejo um artigo anexado ao prontuário, dados de outro hospital talvez? A curiosidade faz concessões importantes aqui. Tendo abrir e "acesso negado" como assim? Tento novamente e de novo sou rejeitada, o arquivo pede uma senha ligada ao Dr. Koracick, não era ele que ela queria ver?

Vamos lá, mestre da criatividade ele é um meio excêntrico não? É o que dizem, como sempre as pessoas falam demais, mas que tal: tom123. Nada. Droga, o que diabos tem aqui que eu não posso ver?  A curiosidade também matou o gato, Carina. Meu subconsciente grita, fico tentada a perguntar a uma enfermeira por que disso? Cadê aquela mulher, Marinalva não era? Não a vejo em lugar nenhum, eu podia ir até a Dra. Bailey por isso? Sob quais argumentos? Essa senha está atrapalhando minha curiosidade? Qual é, acabei de voltar e agora estou violando a privacidade de uma paciente que não é minha, de uma área que não é a minha? Ela poderia me demitir por isso?

Volto meu olhar para o box onde Amélia deveria estar com ela, nesse caso deveria é a palavra certa porque elas já não estão lá, che cosa! Para onde elas foram? Atualizo o tablet e vejo que ela provavelmente foi embora, porque recebeu alta enquanto ela estava fuçando o que não é da minha conta, você já foi melhor do isso Carina, se recomponha!

Com uma respiração profunda faço exatamente isso, coloco o aparelho detentor de informações inúteis de volta no lugar e procuro voltar para a minha sala, olhos para frente não era isso que ela dizia?

A frase fica cravada em meu cérebro, convencendo de que não é questão de ser cruel, é só sobrevivência. Não quero cruzar aquele campo minado emocional de novo. Paguei pelos meus erros anos atrás, não devo nada a ninguém. Principalmente, não devo mais nada a ela.

— Dio mio! A minha voz saiu falhada, che cazzo  não consigo me concentrar em voltar a burocracia sem fim do hospital, será que ela me viu?  Há uma chance remota de ela ter me visto e saído correndo dali, marcando o local para voltar mais tarde e fazer uma macumba na esquina não é?

Faço uma recapitulação mental de como Maya é praticamente uma bola de demolição pronta para arrebentar contra você. Que tenho que mandá-la de volta para o inferno de onde saiu! Meu coração pula uma batida, abalado pelo último pensamento: o inferno de onde saiu. O inferno de onde saiu ou aquele onde ajudei a colocá- la?

Per Dio bambina, sete anos se passaram e ela continua...

Não termine a frase.

Pulo da minha cadeira de supetão, é isso, preciso de mais café e menos Maya em meus pensamentos, vou começar pegando outro café. De volta ao carrinho de café, só paro de viajar em meus pensamentos quando ouço uma voz agradecendo o pedido, aquela dela ali minha barriga comporta um bloco de gelo. Encolho toda, me preparando para o pior: o olhar de ódio, o grito de raiva, uma mão parcialmente em meu rosto, tarde demais para me esconder. Ela me viu.

Os sons desaparecem. Carros somem da avenida, moléculas congelam no ar. Seus olhos continuam do mesmo tom de azul do céu dos dias alegres. O cabelo está comprido outra vez, dourado como sempre, com aquele ar não domesticado de quem acabou de acordar. Reparo na blusa xadrez sobe a calça preta, na mochila flácida caída de lado, no sapato de lenhador. Quem é essa garota?

Estou completamente paralisada olhando para ela quando ela se vira, aguardo o reconhecimento, a energia da raiva concreta, a força que mora nos sentimentos que se transformam em opostos e ajudam a suportar as ausências. Toda a ânsia de vingança, a afronta. Espero um grito, mas recebi dela um sorriso quando ela se esquiva ao meu lado, me olha nos olhos e diz — Bom dia.

E com isso ela vai embora, sem mais e nem menos. Assim como não se ela não se importasse. Não, não foi isso, quase como se não me reconhecesse, como se ela não lembre- se de mim. Enquanto continuo parada aqui com cara de idiota olhando suas costas até vê - la desaparecer como se tivesse sido um sonho absurdo, porque sobre nenhum hipótese em poderia imaginar tal reação dela. É isso? Eu estou sonhando, isso foi um sonho? Não teve graça, eu quero acordar.

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