"Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino." — Marguerite Yourcenar
Eu estou enlouquecendo ou sou perseguidora assídua é a conclusão que cheguei ao perceber que atravessei ruas e ruas, passei por lojas de flores e cafés charmosos, vendo a vida pulsar como quem nada quer até está sorrateiramente no bairro de Maya, ignoro isso e me pergunto como foi que nunca notei aquela região? É um bom lugar para se morar, talvez eu possa me mudar... Isso não tem nada a ver com ela.
Decido entrar numa pequena delicatessen para tomar um café, nunca havia notado esse estabelecimento aqui antes, acho que por ser o típico lugar em uma mãe levaria uma criança para pegar um pequeno lanche e claro, não tem nada a ver com o fato dela ser mãe agora que me faz notar o lugar, nem possibilidade de encontrar - lá aqui em algum momento durante a semana, também não é por isso que tenho vindo aqui todos os dias nas últimas duas semana, é só pelos cookies e o donut red velvet que é incrível, porque de novo isso não tem nada a ver com ela.
De bem com minha consciência e com a minha racionalização me dirigi ao balcão para fazer o meu já habitual pedido, contudo sou invadida por pequeno raio dourado correndo que bateu em minhas pernas com força o suficiente para fazer - lo cair sentado com uma careta engraçada e por uma mãe cheia de bolsas e em completo desespero que vem atrás dele — Você ficou maluco? — Ora, ora, ora olha quem temos aqui, mundo pequeno não mesmo? Eu penso na grande coincidência, porque logicamente não passa disso. Encontra - la em lugar como esse? Puro acaso!
— Quantas vezes tenho que dizer para você não sair correndo por aí. Quer me dar um ataque cardíaco? Ela está bonita como sempre, de um jeito bagunçado, o menino sorrir para ela de maneira adorável mesmo com sua bronca, ele não parece nem um pouquinho preocupado olhando para ela do chão e quanto a mim? Estou completamente hipnotizada na pequena criatura aos meus pés. Ele é absurdamente lindo simples assim, cabelo castanho quase loirinho, tem o sorriso bobo dela, adoráveis covinhas e olha; bem olá pequenos grandes olhos azuis, bem mais limpos que os dela o que quer que ela tenha falado, eu perdi olhando para ele porque ela agora me olha com um pequeno sorriso no rosto, sinto o meu próprio abrir automaticamente quando o vejo estende uma pequena mão em minha direção para que possa ser içado.
— Noah! — ela briga com ele novamente, mas eu ignoro o puxando pra cima fazendo uma grande cena de esforço com se ele fosse muito pesado, que o faz soltar pequenas risadinha enquanto bate na próprio roupa dizendo — Esse é meu nome — Não sei o que dá em mim, mas rir com gosto por sua ousadia. Oh meu Deus, já gosto dele? Isso não deveria ser possível!
Ela resmunga sobre ele ter perdido o direito a um doce e vejo a feição dele cair e um beicinho aparecer, então ele me olha espreitando os olhos — Você me derrubou, deveria me comprar um doce como pedido de desculpa. — Hã? É o que? Como é que é a história?
— HEY! Noah! — Maya entrou em desespero com a ação do filho, falando em quantos problemas está ele agora. Quanto a mim? Eu dou de ombro e indico com o polegar para o balcão perguntando silenciosamente o que vai querer, ele aponta para o donut red velvet e logo peço dois e finalmente olhando para ela que parece implorar para um buraco abrir e engolir - la nesse momento, olho para ela com compaixão e vejo o reconhecimento surgir em seus olhos quando elas os arregala e me acusa dizendo — Hey você... Do hospital! estendo uma mão para ela me apresentando — Culpada! Carina! — Ela assente e segura minha mão — Ahhh sim, Dra. Carina DeLuca.
— Vai querer o cookie em dobro hoje também? É a balconista que me atendeu nos últimos dias que pergunta, olho para a criança e busca de resposta e ele balança firmemente a cabeça que sim, o que me faz sorrir ainda mais quando ouço Maya suspirar um "Oh meu Deus", olha para ela com um sorriso amarelo e ela volta me acusar dizendo — Não sorria, não é engraçado e não vou pagar por isso. Tento ficar séria e falho miseravelmente o que a faz sorrir e balançar a cabeça em negação, pergunto o que vai querer e ela pede apenas um donut simples e sem graça de confetes granulados por cima, nada que se compare com o meu e de Noah.
Nesse momento me lembro de Andreas dizendo que existe um teste simples para saber se você é ou não um idiota: se você ficar feliz por ter feito uma idiotice, você é um idiota. E não há nem espaço para qualquer dúvida aqui.
Pego nossos pedidos enquanto ela vai para uma mesa no canto, dessa vez ela malabarismo e segura firme no pulso do menino para garantir que ela não corra mais e se bata em mais alguém, nunca se sabe que tipo de maluco se pode topar por aí
Com essa último pensamento me junto a eles na mesa, ao colocar o pedido na frente do loirinho e ouvir - lo dizer obrigada de forma tão cantante e contente que faz a mãe revirar os olhos sinto meu peito vibrar de alegria. Quero dizer, essa alegria curiosa — curiosa, aqui, um conceito puramente psiquiátrico — é o que me confunde porque não acho que deveria me sentir assim sobre ela, sobre eles. O que diabos que está acontecendo com você, Carina? O que você está fazendo aqui brincando com o perigo?
Juro que não sei, são tantas as coisas que deveriam impedir aquela alegria que mal sei por onde começar; Como ela tem lidado com tudo isso, como tudo aconteceu, como se tornou mãe, quem é o pai desse menino, se ela está num relacionamento com ele, se ela é feliz? Se devo contar quem sou eu ou o que aconteceu entre nós? É isso que eu quero?
Acho que gostaria de lhe contar a minha versão do aconteceu conosco, talvez eu esteja aqui agora porque queira isso, mostrar para ela que não sou um monstro, que não fiz o que fiz por mal, que tive minhas razões e sofro esporadicamente as consequências de meus atos, mas talvez eu queira o oposto. Talvez eu precise saber que minha partida teve algum impacto na sua vida, mesmo que pouco, que se não fosse acidente e claro, viver permanentemente com suas sequelas ela sentiria minha falta tanto quanto sentir a dela
Eu só preciso saber.
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A Última Parte
FanficUma ascendeu na carreira, mudou de cidade e país, e acredita ter deixado os fantasmas para trás. A outra teve que aprender a viver sem suas memórias, inteiramente apagadas por um acidente quase fatal e florescer na vida e com as responsabilidades qu...