Capítulo (16)

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Finjo que estou dormindo quando alguém entra no meu quarto pela manhã. Só não sabia quem era, então me surpreendo quando escuto a voz do Ed, a minha vontade era de abrir os olhos e abraçar ele, mas eu continuo fingindo e ouvindo o que ele diz.
"Sof, eu sei que você está dormindo mas..." ele diz cochichando para não me "acordar".
"Eu queria te dizer tanta coisa que eu não tenho coragem de falar olhando nos seus olhos, como você está dormindo não tem problema, pois eu não vou ver as expressões em seu rosto, nem esses seus olhos tão negros. Sabe eu sempre gostei dos seus olhos, do jeito que eu sempre me perdi neles e do jeito que seus cílios batem uns nos outros quando você pisca, tão delicadamente como numa dança, eles são assim dês de a primeira vez que eu te vi. E isso tudo sem nem precisar passar aquele negócio que as mulheres usam." Eu escuto ele rir falando, e a minha vontade de abrir os olhos para o encarar e rir com ele só aumenta, mas eu deixo ele continuar.
"Eu sei que eu sempre falo que você é linda, e eu odeio quando você não acredita em mim, você precisa acreditar porque eu nunca menti Sof.
E eu fiquei com tanto medo quando você falou chorando que estava esperando um filho meu, eu nunca vou me esquecer daquele dia, meu Deus eu fiquei tão nervoso, e tão maravilhado, mas nós temos que admitir que fomos mesmo irresponsáveis, quer dizer, a gente não tinha planejado. Talvez isso tudo aconteceu, sabe o acidente... Talvez porque nós ainda não estávamos prontos para essa responsabilidade toda e para cuidar de um bebê. Meu Deus eu nunca tinha me imaginado ser pai assim tão novo, e nem imaginar você sendo a mãe do meu filho, as coisas acontecem tão de repente, talvez isso tudo que aconteceu agora com esse acidente tenha sido bom... Não o fato da gente perder o nosso filho claro, eu ainda estou arrasado com isso, mas acho que isso é uma nova chance pra você e pra mim, agora você pode voltar a desfilar, e nós vamos poder voltar a vida normalmente, sem muitas preocupações, sabe sem aquelas preocupações que os pais tem. Eu nunca teria coragem de falar nada disso pra você, eu sei que isso é tudo muito idiota porque a verdade é que você não ouviu nada mas, assim é melhor, eu não quero que você tenha mais inseguranças e que pense que eu não queria nosso filho. Eu queria muito, mas agora já foi não é? Acabou, e a gente tem que seguir a vida."
Eu não acredito no que eu ouvi, eu não acredito que ele não ama o nosso filho, que ele não queria ele, se ele pudesse voltar atrás ele faria tudo diferente, quer dizer, eu também não esperava por isso, mas quando eu descobri sobre ele, quando eu descobri que eu tinha um pedacinho nosso crescendo dentro de mim, eu o amei tanto, eu faria qualquer coisa por aquela vida dentro de mim, eu ainda faço, tanto é que eu estou aqui agora, tudo por ele, e pelo Ed, que está me saindo um grande egoísta pensando assim. Não é que eu ame mais o meu filho, ou que eu esqueceria do Ed com a chegada dele, não, é só que meu coração aumentou, ele dobrou de tamanho automaticamente, foi como se eu fosse feita pra amar ele, eu nunca pensei em ser mãe, quer dizer não tão rápido mas a partir do segundo que eu descobri sobre ele eu já o amava tanto, não acredito que o Ed não sente o mesmo, afinal, ele é nosso filho.
Nunca pensei que diria isso mas, acho que o Billy tinha razão, o Ed ficaria triste por um dia ou dois e depois esqueceria e seguiria sua vida em frente como se nada tivesse acontecido, estou tão decepcionada, e o pior de tudo é saber que o meu filho ouviu tudo isso. Eu li em um site que quando a gente está entre 13 e 16 semanas de gravidez o bebê já pode ouvir as vozes aqui fora, e eu não sei se eles entendem, mas e dai, ele feriu os meus sentimentos falando isso, mesmo se eu tivesse perdido mesmo o meu filho, mesmo que nesse momento eu já estivesse sozinha de novo com o Ed se fôssemos apenas nós dois novamente, mas e dai? Todos esses meses que passaram todas as mudanças em mim, tudo o que ele falou, ou quando a gente escolheu os nomes juntos e quando pintamos o meu antigo quarto que era azul de branco, pois não sabíamos ainda o sexo e não queríamos esperar mais. Mesmo depois de tudo isso ele esqueceu e superou assim tão rápido? Ele vai voltar pra casa, abrir aquela porta e ver aquele berço no chão esperando pra ser montado, e as primeiras roupinhas que a gente já comprou... Ele iria fazer o que com aquilo tudo? Jogar fora? Não! Não acredito nisso tudo, por mais que eu queira saber até onde isso tudo vai chegar, por mais que eu queira ouvir ele falando mais, eu não consigo, não consigo continuar com os olhos fechados ouvindo o Edward, o pai do meu filho dizer que ele já superou a suposta "morte" do filho dele, não, não consigo.
Quando ele segura a minha mão e começa fazer carinhos nela, a minha vontade é de tirar ela com força, mas eu apenas abro os olhos devagar e preguiçosamente, como se fosse a primeira vez que eu abria os olhos hoje.
"Oi." o Ed diz como se nada tivesse acontecido.
"Oi..." Eu digo como se eu não estivesse nem ai pro Ed
"Cheguei aqui praticamente agora, só o tempo de pegar na sua mão." ele diz e sorri. "Tudo bem com você?" Ele volta pegar na minha mão.
"Sim! Tá tudo bem. Você perguntou quando eu vou embora?" Eu pergunto séria e sem olhar pra ele.
"Sim, hoje mesmo. A enfermeira disse que você só vai tomar o café aqui, e depois vem trazer os papéis da alta."
"Uhum, ok."
"Você está tão diferente Sofia, dês de ontem quando eu cheguei nesse hospital você estava estranha, eu nunca te vi assim Sofia, sem falar nada, sem sorrir, sem querer chegar perto de mim."
"Estou normal Ed."
"Sofia, você está tudo menos normal."
"Eu estou normal! E você, está bem? Tem alguma coisa que você quer me contar?" Eu pergunto pra ver se ele vai ter coragem de falar alguma coisa do que ele disse antes.
"Hmm... E-eu não, por que?"
"Por nada... Mas se tiver pode dizer."
"Uhum."

Depois de eu ter olhado pra cara da tal da Haven duas vezes quando ela veio me trazer o café e trazer os papéis da alta pra mim assinar, eu já não aguentava mais essa porcaria de hospital, e nem olhar pra cara dessa enfermeira, me senti tão aliviada quando estava na rua do meu apartamento, ao mesmo tempo que eu me sentia feliz por estar na minha casa, segura e protegida eu estava com um medo muito grande, e com uma pitada de raiva do Ed.
"Home, sweet home." O Ed diz quando a gente entra em casa.
"Talvez não tão doce." eu digo meia rabugenta.
"Não seja chata, queria continuar naquele hospital?" Ele pergunta com um sorriso e vem até mim para me abraçar.
"Preciso... De um banho! Até daqui a pouco." eu digo e subo as escadas em direção ao quarto.
Quando entro no banheiro tranco a porta, pois eu não quero que o Ed entre, e nem é porque eu sinta vergonha... Quer dizer o Ed já me viu nua outras vezes, mas todas as vezes o fim foi sempre o mesmo, e eu não quero que ele veja minha barriga que ainda está parecendo uma barriga de grávida. Mas isso é óbvio porque eu ainda estou grávida!
Tomo meu banho com calma e várias vezes me pego fazendo carinhos na minha barriga sem nem perceber, e outras vezes me pego pensando no que eu vou fazer da minha vida. Preciso muito voltar falar com o meu pai, e preciso muito desabafar com alguém de muita confiança... Mas quem? A Carol é minha amiga mas é namorada e melhor amigas dos melhores amigos do Ed, sem falar do jeito doido dela de ser, eu não me surpreenderia se caso acordasse de manhã e descobrisse que o Billy tinha sido assasinado pela amiga da garota que ele estava ameaçando, acho que nem o Ed faria uma coisa pior que a Carol, mas também... Até que não ia ser má ideia isso tudo, o Billy morrer, e eu ficar livre de novo.
Me assusto com esse meu pensamento.
Tá certo que o Billy é o cara que tá estragando toda a minha vida, tá certo que ele é só um filha da puta qualquer, do mal e infeliz que quer o mal dos outros por causa de dinheiro, mas desejar a morte... Acho que isso é demais.
Ou não porque ele não só desejou a minha morte como tentou me matar, meu Deus, que vida mais confusa que eu tenho, nada pode ser normal não?
Tipo eu já estou grávida aos 19 anos, e ainda por cima tenho que aturar: brigas com meu pai, ameaças, "acidentes", o meu namorado dizendo quando eu estou dormindo que acha bom o fato de eu ter "perdido" o meu filho só porque ELE não estava preparado para uma responsabilidade tão grande.
Geralmente aos 19 anos as garotas pensam em: fazer uma faculdade, curtir a vida, zoar...
Já eu, meu Deus, nem uma mulher de 35 anos tem uma vida tão turbulenta quanto a minha, gostaria muito de saber quando isso tudo vai acabar.
Saio do banho, e visto um moletom quase que gigante que era do Ed, era!
Ele é bom que esconde a minha barriga.
Me sento no tapete do chão do banheiro encostada na porta, gostaria de saber qual é esse tipo de relação que eu tenho com momentos difíceis e o banheiro, sempre que eu preciso tomar uma decisão importante me tranco num banheiro pra pensar.
Eu preciso pensar, se eu vou falar para o Ed tudo que o Billy fez comigo e arriscar a vida dele, a minha e a do meu filho, ou se eu vou fugir...
Mas de que adiantaria eu descer lá em baixo falar pro Ed tudo que está acontecendo e depois falar que o nosso filho está vivinho aqui dentro da minha barriga, ele disse que foi melhor assim a gente não precisar mais dessa responsabilidade toda, mas esse bebezinho não tem nada a ver o Ed tinha que parar de ser egoísta e pensar que nosso filho não tem culpa do que a gente fez se ele se arrepende daquele dia, eu não me arrependo, de nada , principalmente do meu filho (que não para de me chutar aliás)
"Você está chutando a mamãe meu amor?" Eu digo com a mão na barriga. "Você é muito chutador viu? Parece até com a mamãe não é? O papai não chuta nada né filho? Mas você gosta quando ele canta musiquinhas pra você não gosta? Eu sei que você gosta, você fica todo quietinho ai quando ele canta, acho que você dorme não é? Sabe meu amor... Seu eu pudesse" eu digo e começo me emocionar. "Se eu pudesse eu te deixava ai dentro da minha barriga pra sempre, pra sempre poder sentir você me chutando assim, e depois sentir você todo quietinho ai dentro dormindo. Acho que eu sou uma mamãe muita má de tirar você de perto do seu papai, mas olha meu amor, eu te amo muito! E eu vou cuidar sempre de você, para sempre." Eu digo e ouço batidas na porta.
"Sof?" O Ed chama. "Tá tudo bem?"
"Está sim." eu digo enxugando algumas lágrimas que caíram é me levantando para abrir a porta.
"Está tudo bem." eu digo e passo rápido pelo Ed sem nem olhar pra ele.
"Você estava lá à muito tempo, fiquei preocupado." ele diz e tenta me agarrar, mas eu saio de seis braços antes mesmo dele passar os braços sobre minha cintura.
"Sofia, aconteceu alguma coisa?" Ele pergunta preocupado.
"Não! Não aconteceu nada Ed já falei."
"Ei fica calma." ele diz e tenta me acompanhar enquanto eu ando por todo quarto tentando achar algo que eu nem sei o que é. "Sofia..." ele chama e eu não olho enquanto sinto umas lágrimas querendo cair de novo. Mas por que diabos eu estou chorando?
"Sofia? Olha pra mim." ele diz alto e me segura pelos ombros me prendendo na parede.
"Olha pra mim, e me diz o que está acontecendo, por favor." ele diz sério e eu continuo de cabeça baixa pensando em o que eu vou fazer agora.

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