― NUNCA TE PEDI NADA. ― Bel implorava, de olhos arregalados, para que Felipe lhe ajudasse em um plano. A senhorita Tames tinha ido reservar um local para eles passarem aquela noite, visto que chovia muito e as estradas até a casa da colina estavam péssimas.
― Nunca? ― o rapaz a encarou com desdém. Os dois estavam sentados no sofá da recepção daquele hotel.
― Só algumas vezes... mas essa é muito importante. Se eu não for, ficarei etonitamente triste. ― E respirou fundo, quase desesperada. ― Vamos, se decida... Você tem que ouvir minha ideia antes da sua linda dama voltar.
O rapaz tossiu, ficando nervoso de repente. Sempre a mesma coisa, bastava falar da professora mais encantadora de todas.
― Tem que parar com isso... ― Felipe encarou-a sério. Parecia, de certa forma, angustiado, ou confuso... como se quisesse e não quisesse. Como se aquilo fosse importante e ao mesmo tempo não fosse. Isso, é claro, foi o que me disseram.
― Qual o problema? ― Bel deu um soco de leve no braço do mordomo, ofertando-lhe um sorriso travesso. ― A senhorita Tames é uma mulher maravilhosa, não acha?
A loirinha amava se meter nas situações dos adultos.
Ele sorriu, em concordância.
― Mas é muito complicado.
― O amor? ― ela quis saber. Ele assentiu. Belinda indignou-se por um instante. ― Mas, por quê? O amor não devia ser bom?
Para concluir isso, ela levava em consideração todos os romances que já tinha visto dar certo no mundo da ficção, através dos filmes e histórias que vez ou outra ouvia. Existia, porém, entre a realidade e os imaginários, um enorme e profundo abismo.
A pergunta da criança gerou uma dúvida no pobre rapaz. Ele não soube respondê-la de imediato, de modo que o tempo se passou e a senhorita Tames já vinha na direção de ambos.
― Eu só vou precisar de um guarda-chuva e do seu silêncio. ― A menina falou baixinho e rápido o suficiente para que sua querida ex-professora não lhe ouvisse.
― Vamos? ― A senhorita os chamou para irem se abrigar no quarto.
Com um olhar cúmplice, ele assentiu para a menina e depois para a adulta.
A partir disso, elas subiram para um quarto e o mordomo para outro separado. Quando chegaram lá, após tomarem um banho e colocarem um pijama para descansar, Bel escutou a srta. Tames receber várias broncas pelo telefone. Era o sr. Potter, como sempre. Ele parecia fazê-la feliz em raros momentos, mas na maioria das vezes, a fazia chorar.
A garotinha fingiu que não ouviu. Toda vez que intervia nisso, ela sentia que sua querida professora ficava ainda mais triste, como se quisesse evitar o envolvimento da sua protegida. Ao invés disso, cobriu-se com o edredom, deitada na cama, no lado oposto de onde a mulher descansava, e esperou ouvi-la roncar.
Mais ou menos meia hora depois, foi o que aconteceu.
Então, Bel respirou fundo, criando coragem para mais uma aventura. Levantou-se devagar, com cuidado para não fazer um barulho sequer, e foi dando passos leves até a saída. Nesse instante, mesmo na pouca claridade do quarto, percebeu que estava de pijama, mas não podia perder tempo, então apenas destrancou a porta e saiu de mansinho.
Já do outro lado, ela soltou o ar que prendera nos pulmões, aliviada por não ter sido pega por sua professora. Então, caminhou até o quarto em que Felipe se encontrava, e bateu na porta três vezes, até que ele atendeu.
― Eu estava torcendo pra você ter caído no sono. ― o mordomo balbuciou, com a cara meio amassada.
― Cadê o guarda-chuva? ― Bel não quis perder tempo.
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Através de seus olhos 2
SpiritualLIVRO 2 da série ATRAVÉS DE SEUS OLHOS Depois de tomar uma difícil decisão, Belinda agora tem uma nova vida para viver. Em um novo lugar, convivendo com diferentes pessoas, a garotinha de quase treze anos completos precisa aderir a uma nova identida...