O que é beleza?

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― ACHEI UM CONTO DE FADAS ― Jessica mostrou o livro empoeirado que acabava de retirar da prateleira na sala de estar da casa de seu primo. Sem muito jeito, jogou o exemplar pesado sobre a mesa à qual Lewis e Bel estavam assentados, bisbilhotando mais outras obras em busca de ideias ― Pela capa, parece uma chatisse...

― É fácil julgar sem antes ler ― Lewis fez esta observação. Belinda aguçou os ouvidos para prestar atenção ao que diziam e não ficar só olhando para o relógio, esperando a chegada de Francesca. ― Mas essa é feia mesmo ― Fez uma careta assim que olhou a obra um pouco mais de perto, atentando-se aos detalhes totalmente desconexos que moldavam à frente do livro.

― A Francesca não vai vir, né?

― Acho que não ― Jessica respondeu.

― Por quê? ― Lewis quis saber.

― Como a gente sabe que algo é feio? ― Bel pensou em voz alta. Depois, sentiu uma real necessidade de ter seu questionamento resolvido.

― Sei lá, Helena... quando é muito anormal, talvez? ― A amiga tentou explicar, sem atentar-se muito que Belinda se importava de verdade com a resposta.

Bel lembrou-se de seus olhos tão diferentes dos de todos. Os mesmos que ela amava e dizia que eram obra-prima do Bondoso. Contudo, os mesmos que Francesca usara de parâmetro para menosprezá-la. Ela era anormal.

― Então eu sou feia?

Lewis e Jessica se entreolharam confusos.

― Meus olhos não são normais. Isso me faz feia? ― Bel mordeu os lábios, irriquieta. Depois, aproximou-se dos amigos, para que eles lhe contemplassem com mais detalhes e pudessem ser sinceros.

― Faz ou não?

― Por que está perguntando isso, Helena? ― O garoto se preocupou em saber.

― Me respondam, por favor! ― A garota de olhos coloridos persistiu.

― Se quer saber o que acho, vai receber uma resposta. Se quiser saber o que meu primo acha, vai receber outra. Se perguntar ao padeiro aqui da nossa rua, ele terá uma opinião diferente também ― Jessica pronunciou, sem muita serenidade, voltando a mexer nos livros.

― Não devia se preocupar com o que a Francesca diz ― Lewis apresentou um sorriso reconfortante para sua amiga, sem mostrar os dentes. Ele interligou os fatos e teve certeza, pelo semblante revelador de Bel ao ouvi-lo mencionar a outra garota, que havia sido Francesca a responsável por essas dúvidas em sua cabeça. Bel quis absorver as palavras de seu companheiro, mas estava crescendo e era cada vez mais difícil conseguir dar mais atenção aos pensamentos positivos que os negativos.

― Podemos entrar? ― Uma voz adulta masculina surgiu após o destrancar de uma porta. As crianças olharam para a entrada da casa e contemplaram os pais de Lewis. De maneira ágil, o homem fechou novamente a porta e a mulher foi em direção às crianças, que se localizavam próximos à mesa no centro da sala de estar.

― Oi! ― Lewis levantou-se para receber o abraço de sua mãe. Logo depois, de seu pai. ― Helena, estes são o sr. e a sra. Pellegrini, mais conhecidos como meus pais.

Os olhos de Bel brilharam ao observarem aquela linda cena de família. Como ela queria realizar isso!

Bel juntou as mãos na frente do vestido e sorriu cordialmente, como a senhorita Tames tentara lhe ensinar assim que chegaram na casa da colina.

― Pode me chamar de tia Vanessa, minha querida ― A sra. Pellegrini aproximou-se para abraçá-la. Bel sentiu o cheirinho dela. Aroma de mãe, mas não era a sua.

― Tia e tio, não façam como o Lewis e me esqueçam no canto ― Jessica reclamou, dramatizando.

― Não seja por isso! ― O pai de Lewis apresentou o mesmo sorriso bonito do filho e pôs-se a dar a atenção que sua sobrinha queria, pegando-a no colo e enchendo-a de beijos.

― Socorro! ― A menina se arrependeu, até que o tio a pôs no chão. ― Eu não sou mais pequena, tio Mateus! ― então, arrumou a blusa que ficara amassada após aquela pequena aventura.

― É com a Helena que eu leio a bíblia na escola ― O garoto contou-lhes, radiante.

― Que bênção! ― A sra. Pellegrini curvou-se para olhar a menina mais de perto. Os olhos lhe chamaram atenção. Bel desviou o olhar para a ponta das sapatilhas que usava. Pela primeira vez na vida, ficou com vergonha do seu presente dos céus. ― Está tudo bem, querida?

― Ela não é calada desse jeito ― Jessica afirmou.

— Não é nada... ― Bel deu de ombros, querendo que ninguém comentasse mais nada. ― Eu só...

― Você é linda, Helena. ― Dona Vanessa tratou de passar as mãos sobre seu cabelo ― Sabia disso? Especialmente desenhada pelas mãos do Criador.

Belinda, por aquele instante, quis se chamar Helena de verdade a fim de sentir aquelas palavras ainda mais fortes em seu coração. Contente demais por uma resposta que queria tanto e recebeu, ela abraçou a mulher em sua frente.

― A beleza está aqui, ― O senhor Pellegrini apontou para o peito de seu filho ― mais do que aqui ― depois para seu rosto, acariciando seu cabelo em seguida.

Belinda esperou alguns segundos para desgrudar da mãe de seu amigo.

― Vocês vão nos ajudar com a peça que precisamos fazer? ― O menino balançou as sobrancelhas, esperançoso.

― Podemos? ― Vanessa mordeu o lábio inferior, gostando do convite.

― Claro, mamãe.

Belinda saltitou quando uma ideia lhe veio à cabeça. Mais uma de suas ideias.

― Lewis, Lewis, Lewis! ― Ela cutucou o amigo, animada.

― O que foi, Helena? ― Ele sorriu, empolgado por sua empolgação.

― A peça! A peça pode ser sobre o Deus Criador, o Senhor que criou todas as coisas que podemos contemplar! ― ela deu pulinhos eletrizantes.

O garoto entendeu no mesmo momento, como se pudesse ler os pensamentos da amiga, e então várias ideias brotaram de todos ali, de modo que eles começaram a rascunhar o enredo, os personagens e até mesmo os figurinos.

Depois disso, Lewis levou Belinda de bicicleta até sua casa. Ela foi na garupa, sentindo o vento batendo em seu rosto.

― Lewis, você é muito amado. Como se sente? ― Bel gritou, para que ele lhe ouvisse bem dali.

― Você fala como se não fosse!

― É claro que eu sou... ― ela exprimiu, incerta. Queria dizer com convicção, mas não pôde. Não conseguiu.

― Você é, Helena. Muito amada. ― Ele começou a pedalar em pé, de modo que a bicicleta cambaleou para um lado e para o outro, fazendo sua amiga morrer de medo.

― Como você sabe disso, espertinho? ― ela gargalhou, com o frio na barriga estagnado, após tamanha aventura.

― É só olhar para o céu. 

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Mil desculpas. Eu sumi! Tanta coisa aconteceu nos últimos meses que eu nem sei explicar... acabei negligenciando uma das coisas que mais amo fazer: escrever. E pode ter certeza, de todos os livros que já escrevi, o único que eu nunca pensei na possibilidade de desistir foi Através de seus olhos. 

Temos muita estrada a percorrer ainda, por isso, acalmem-se que vai dar certo.

Não vou fazer promessas. Mas vou partir pra ação.

Teremos uma maratona de 5 capítulos, a partir desse. 

Beijinhos. Que o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo os abençoe. 

Maratona 1/5

Através de seus olhos 2Onde histórias criam vida. Descubra agora