LIVRO 2 da série ATRAVÉS DE SEUS OLHOS
Depois de tomar uma difícil decisão, Belinda agora tem uma nova vida para viver. Em um novo lugar, convivendo com diferentes pessoas, a garotinha de quase treze anos completos precisa aderir a uma nova identida...
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BELINDA COLOCOU A BÍBLIA na cabeça e fechou os olhos, respirando fundo, enquanto se direcionava até onde Francesca estava. Seus amigos, Lewis e Jessica, a observavam de longe esperando o resultado daquele diálogo durante o intervalo.
― Oi.
― O que foi? ― A menina de cabelo mechado perguntou, de mau humor, à medida que mascava um chiclete de boca aberta. Ela estava sentada em um banco da cantina cercada de meninos mais velhos, jogadores do time de futebol.
― Equilíbrio ― Bel abriu os olhos, retirou o livro da cabeça e sorriu para ele. Depois, o abraçou enquanto falava. Os meninos deram risadas contidas, ela nem ligou. ― Você ficou em nossa equipe.
A garota mencionou o trabalho que a professora de Artes organizara mais cedo. Como terceira nota, eles teriam de elaborar uma peça teatral e apresentá-la ao final do semestre. O tema era livre e espontâneo, mas as equipes foram separadas por sorteio. Ela fora ali para combinar que eles ensaiariam na casa de Lewis.
― Eu ouvi o que a professora disse ― Francesca revirou os olhos ― Não vê meu sorriso de felicidade? ― mostrou os dentes.
― Sabe por que eu coloquei esse livro na cabeça?
― Não quero saber. Você deveria estar na sala, trancada. Não aqui. Garota estranha.
― Se eu trouxesse ele nas mãos e você falasse essas coisas, eu não pensaria duas vezes antes de arremessá-lo em você.
Francesca deu uma risadinha.
― Mas, ele é especial demais para que eu faça isso. Além de tudo, é meu equilíbrio. Minha arma... ― Bel umedeceu os lábios e cheirou o emaranhado de páginas em seus braços.
― Você, além de feia, é muito boba ― a menina da mecha pulou do banco e se aproximou da loirinha, exprimindo palavras cruéis. ― E, ainda por cima, fica sussurrando essas histórias fantasiosas... ― olhou para o livro ― Feia, boba e mentirosa.
― Deixa eu dar uma olhada... ― um garoto, especificamente o irmão de Francesca, se aproximou e pôs o braço ao redor de Bel e a mão no rosto da menina, para virá-lo e conferir. ― Está exagerando, mana.
Bel urrou. Deu um pisão com força no garoto de 14 anos, se desvencilhando dele.
― Está precisando de óculos, Max... ― a miniatura de vilã passou pela loirinha e derrubou a Bíblia de suas mãos. Belinda ficou vermelha de raiva. Francesca completou sua participação negativa no dia da criança ao dizer: ― e não tem vergonha de andar sem sutiã...
Sutiã? Que era isto?
Quando os garotos mais velhos fitaram seu busto, sob a blusa, Bel entendeu mais ou menos. Pegou seu livro favorito e saiu correndo, morrendo de vergonha. Ignorou até mesmo seus colegas e só sossegou no momento em que chegou em casa.
― Por que, senhorita Tames? ― ela esperneou, derramando lágrimas pela sala da casa da colina. Observava sua ex-professora costurar à mão um top infantil. ― O que isso significa?
― Parece que está crescendo... ― a mulher comentou, despreocupada com o drama de Bel, pois já a conhecia. Dali a alguns dias, Belinda completaria 13 anos. E depois, 14. E depois, 15...
― MAS QUEM DISSE QUE EU QUERO CRESCER?
Sua voz acabou soando alto demais e o pobre Felipe correu para ver o que se passava. Dona Meredith havia saído para passear com seu querido Beethoven, ao contrário, teria se tremido de susto. Além disso, se o sr. Potter estivesse ali, a menina levaria uma bela bronca.
― Desculpe, não queria gritar ― Belinda se estirou no chão, se sentindo pior. Fitou o lustre centralizado no teto e ficou pensando se poderia trocar de lugar com ele. Lustres precisam crescer? ― Depois disso, o que acontece? Vou ficar da altura do Felipe e não conseguir mais passar pela porta do sótão? ― cruzou os braços, indignada.
― Hum... parece a síndrome de Peter Pan ― o mordomo sussurrou com a professora, que confirmou em um balançar de cabeça.
― Que esfulíncula é isto? ― a menina quis saber, escutando a conversa dos adultos.
― Quando uma criança não quer crescer, que nem o Peter Pan. ― o rapaz explicou, sentado ao seu lado, com as costas aconchegadas na parte debaixo de uma poltrona.
― É que... ― Belinda tentou se explicar. ― se eu crescer, não vou poder mais brincar? Meus amigos ― fungou ― estão longe! Tive que me afastar deles. E os que tenho agora, tenho medo de perder porque eles nem sabem quem eu sou de verdade! E a mamãe... e o papai... se eu crescer, como eles vão me reconhecer?
A senhorita Tames foi até ali e posicionou-se ao lado do mordomo, plenamente. Parecia há tempos preparada para tal situação, para tal momento em que sua criança predileta seria pega pelo vírus da pré-adolescência.
― Todo mundo tem que crescer ― disse, após um suspirar.
― Lustres não ― Bel apontou para o teto.
― Lustres não. ― a mulher riu e o moço ao seu lado reparou o quanto ela ficava charmosa nesse ato. ― Mas você sim. E isso não é ruim. E é bíblico, não? ― balançou as sobrancelhas, esforçando-se para lembrar de um versículo que a menina lera na semana passada antes de dormir ― "Tudo tem seu tempo determinado...", sabe o que isso quer dizer?
Bel meneou a cabeça negativamente, mais calma e prestando atenção ao que a senhorita proferia.
― Que você já cumpriu essa fase da vida. Faltam as outras e a gente aprende a gostar delas. Aos pouquinhos, conseguimos ver o valor devido delas.
Belinda compreendeu um pouquinho.
― Mas e brincar?
― Quem disse que você não pode mais brincar? ― Felipe encarou-a com um sorriso divertido. Depois, levantou-se e ergueu-a do chão, correndo pela casa com a menina nos ombros. ― Bel o que tu come, guria? ― Ele arfou, em meio à brincadeira. Nisso, a professora o observava gratificada. O mordomo vinha sendo um grande amigo e companheiro desde que ela chegara ali e, às vezes, parecia se importar mais com o bem estar das duas que o próprio sr. Potter.