3. Estrada para o inferno

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Esther ja estava prestes completar 16 anos e sua paixão pela banda crescia junto da sua revolta de adolescente.

Ela ainda escondia os k7s de seus pais, porém com seus amigos mais próximos ela já falava sobre seu gosto musical.
Sarah sua melhor amiga, e Rick o irmão mais velho de Sarah eram os seus principais confidentes.
Rick era 4 anos mais velho que Esther e trabalhava na oficina mecânica de seu tio. Ele tinha a fama de bad boy delinquente, pois adorava beber, sair e tocar baixo e para aquela cidade conservadora isso já o equiparava a um bandido. O mais engraçado é que o maior "ato infracional" que haviam pego Rick cometer foi colar em uma prova de matemática no Ensino Médio.

Era domingo de manhã quando Esther estava esperando Sarah terminar de se arrumar para o culto dominial quando Rick entra na sala fedendo a bebida, cigarro e suor.

-Bom dia, Penny!

Rick foi a primeira pessoa a chamar Esther de Penny. Ele a apelidou assim por ela gostar muito da canção Penny Lenny dos Beatles.

-Bom dia, Gambazinho- respondeu Esther rindo e tapando o nariz com os dedos.

-Penny, você não vai acreditar! Eu estava em Salt Lake City, fui assistir a um show do Slayer. Sabe quem abriu? Sharon's Ghost!

- Uau! Me conte tudo! exclamou Esther interessada

-Esther, o Lennie é fantástico ao vivo! Mas Os solos de Dwigth - ele falava isso tocando seu baixo imaginário arrancando risos de Esther- "dom dom dom" irado demais.

-Queria muito ver o último show deles dessa turnê! Pois soube que eles darão uma pausa na carreira para o novo disco.

-O último show será em Denver, no Colorado. Você atravessaria o estado pra ver o Lennie?

Esther riu

-Eu atravessaria uma galáxia se não fossem meus pais.

- Ahhh Penny...

Rick acariciou o topo da cabeça da amiga e pulou o encosto do sofá subindo em direção ao seu quarto antes abraçando Sarah que se debatia dizendo o quanto ele estava fedendo.
-Vamos! disse Sarah
-Vamos.

O culto foi ótimo, mas algo incomodou Esther durante a pregação do seu pai, que citou Provérbios 15:3:

"Os olhos do SENHOR estão em toda parte: Ele observa atentamente os maus e os bons!".

Parecia que durante toda a pregação seu pai não tirava os olho dela, e sua mãe, que pregava ao lado de seu pai também fixava o olhar sobre ela.
Ao final do culto, Esther disse aos seus pais
-Vou tomar sorvete com a Sarah e as meninas!
-Hoje não, mocinha. Vamos para casa ter uma conversa, retrucou ríspidamente Sr. Parker.
Sarah e suas amigas se entreolham e saíram de fininho.
Esther foi em silêncio caminhando junto de seus pais, um caminho de poucos metros parecia uma longa jornada naquele momento.

-Pra cozinha, Esther - disse sua mãe.

Em silêncio, Esther se encaminhou até a cozinha e sentou-se a mesa.
Sua mãe alcançou no balcão da cozinha uma caixa de papelão e colocou na frente de Esther

- Pode nos dizer o que é isso?

Na caixa estavam todos os k7s que ela tinha, incluindo os originais da Sharon's Ghost, VHS de clipes, pôsteres e tudo que ela pôde guardar.
Esther tremia... Sabia que estava perdida, e que iria perder suas coisas também.

- Mamãe, Papai... - introduziu calmamente escolhendo as palavras- Eu acho a sonoridade dessa banda incrível, e gostar de rock não faz de mim uma má pessoa.

Um tapa na mesa interromeu Esther, seu pai bradava rente a seu rosto:

-Como é feliz aquele
que não segue o conselho dos ímpios,
não imita a conduta dos pecadores,
nem se assenta na roda dos zombadores! Isso está no livro dos Salmos! Capítulo 1 e versículo 1!

-Mas pai...

Novamente o tapa na mesa a calou seguido de mais gritos:

-O que anda com os sábios ficará sábio, mas o companheiro dos tolos será destruído! Provérbios, capítulo 13, versículo 20!

Esther apenas chorava baixo, soluçando.

- Filha...- Disse calmamente sua mãe- Você anda metida com drogas igual ao marginal do Rick?

- Claro que não! exclamou Esther - Rick também não é drogado!

-Ai Senhor! Ela está defendendo aquele bandido! - gritava sra. Parker fazendo um drama que deixaria estrelas de telenovelas mexicanas com inveja.

- Vá para seu quarto, mocinha. Antes que você mate sua mãe de desgosto.

Esther subiu chorando baixo e se trancou no quarto enquanto ouvia papéis sendo rasgados e o plástico das fitas sendo quebrado.
Naquele momento, Esther jurou para si mesma que iria naquele show em Denver e ninguém a iria impedir. E a partir daquele dia, Esther estaria morta e Penny seria finalmente liberta para viver no lugar dela.

O Grito do SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora