12. Tears in Heaven

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Eram cerca de 8:00 pm quando os pais de John saíram nervosos de casa para buscar sua irmã que fugira para ir ao show de sua banda favorita.
Esther não havia contado nada sobre seus planos para o irmão, até porque se tivesse contado o mesmo certamente iria tentar fazer a irmã mudar de idéia.
Com lágrimas nos olhos Mary chamou o filho:

- Querido, é a primeira vez que você fica sozinho por uma noite toda, mas confiamos em você - disse Mary tentando parecer calma - Por favor, tome cuidado.

- Nosso menino já é um homem! Vai ficar bem - Disse Abraham apressando a esposa.

Essas palavras encheram John de felicidade. Afinal sempre foi criado para ser um grande homem mas até o momento era tratado apenas como uma criança e ouvir aquelas palavras do pai naquele momento tiveram um significado muito especial para o jovem garoto.
Assim que seus pais saíram, John decidiu que iria ver TV a noite toda, afinal, ele nunca pôde fazer isso e essa era a oportunidade perfeita. Porém as 11:00 pm o garoto já estava adormecido no sofá da sala.
Já eram 5:00 am quando o menino despertou assustado no sofá branco da sala com a TV ligada passando leilão de jóias.

- Mas que coisa... Acabei dormindo -resmungou o menino

Ele decidiu tomar um banho e escovar os dentes, já que havia adormecido sem se lavar.
Ao descer as escadas se viu faminto e decidiu fazer waffles com melado para o café da manhã.
Pegou os ovos, a farinha... E seus olhos se entristeceram quando viu que o galão de leite estava vazio.
Foi quando ele pensou:
"Já sou um homem, papai disse. Homens resolvem os problemas do lar!"
O menino subiu as escadas rapidamente e abriu seu cofrinho que ganhara de seu tio, pegou uma nota de 10 dólares, desceu as escadas e se encaminhou para a porta, afinal a mercearia do Sr. Leping costumava abrir bem cedo.

- Vou comprar um galão de leite, fazer meu café da manhã e dará tempo de receber os fiéis tranquilamente - disse saindo de casa dando uma última olhada no relógio da sala que marcava 6:45am e deixando a TV ligada.

O caminho até a mercearia não era muito longo e era bem tranquilo, bastava seguir por 3 quadras, mas era a primeira vez que Jhon saía desacompanhado de casa e o mesmo sentia um frio na barriga por finalmente poder fazer algo sozinho.
Seus pais não o permitiam sair, levavam e buscavam o garoto na escola e o único lugar que ele tinha permissão para ir sozinho era na Igreja que ficava a poucos passos de sua casa.

-Bom dia Sr. Leping! - disse o garoto adentrando a venda ao avistar o velho chinês carregando algumas caixas do beco atrás da loja para dentro da loja

- Bom dia, menino Jhon! - disse o velho sorrindo e limpando o suor da testa com um lenço- Sua irmã está fazendo falta, ela volta ainda hoje?

O garoto não sabia o que responder, afinal toda a confusão da noite anterior, ele tinha maturidade suficiente para entender que seus pais iam tentar abafar o escândalo.

- Meus pais foram buscar ela no retiro. Já devem estar a caminho . O senhor pode me dar um galão de leite, por favor?

- Claro! - disse o velho pegando o leite num freezer emperrado e entregando para Jhon.

Enquanto o garoto olhava distraído entre as prateleiras decidindo se iria pegar algum doce, dois adolescentes vestidos de preto adentraram pela porta dos fundos que Leping deixara aberta.

- Sem gracinha, velhote, passa tudo o que tiver aí - berrou o mais alto apontando uma arma para Sr. Lepping

Jhon se assustou e deixou cair uma lata de creme de avelã que estava em sua mão, chamando a atenção dos bandidos para ele.

- Aí moleque, deita no chão ou vai levar bala - gritou o mais baixo deles também armado

Enquanto os dois estavam distraídos com Jhon, que estava inerte e aos prantos , Sr. Lepping reagiu ao assalto e de supetão atirou contra os meliantes usando seu 38.
Sr. Leping era um chinês residente nos EUA a tempo suficiente para aprender a língua, e as malícias do ser humano estadunidense, por isso mantinha um revólver sempre carregado embaixo do balcão.
Contudo, a visão já danificada pela idade, não permitiu que tivesse uma mira acertiva nesse momento: o tiro endereçado ao mais alto passou direto entre os dois meliantes, e acabou sendo certeiro na cabeça de Jhon,que estava se abaixando e naquele momento caiu inerte no chão da loja derrubando a prateleira.
Os adolescentes desesperados fugiram pela porta da frente deixando o garoto inerte e ensaguentado no chão e o velho chinês desesperado e aos prantos com o telefone nas mãos ligando para emergência.
O som da sirene da ambulância cortou aquela manhã de garoa fraca, onde tentaram sem sucesso socorrer aquele garoto tão querido por todos da cidade.
Sr. Leping também precisara ser socorrido, pois a situação desencadeou uma disrritmia cardíaca tão forte que quase o levou a óbito também.
Eram 8:00 am quando os médicos do Brigham City Community Hospital declararam oficialmente a morte cerebral do jovem Jhon Parker, aos 12 anos.
Os policiais e médicos tentavam, ligar para a casa do reverendo, mas sem sucesso.
Ao chegar na porta, os policiais se depararam com uma multidão confusa de pessoas em frente a uma igreja fechada.
Bateram à porta da casa do reverendo e continuaram sem resposta.
Logo, a multidão confusa soube o que acabara de acontecer e a notícia se espalhou como um rastilho de pólvora e, a idéia da polícia de dispersar a multidão seguiu o efeito contrário: mais e mais curiosos se aglomeraram perante a igreja e a casa dos Parker para ser os primeiros a dar suas condolências, ou para ver em primeira mão qual seria a reação dos pais ao saberem da morte do filho, já outros vieram com bolo e petiscos para servir no funeral que ainda nem sequer havia começado .
E a Tv continuava ligada, passando os desenhos favoritos de Jhon que infelizmente jamais voltaria a assistir.

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