O Grito do Sangue

13. Meu Sacrifício

A viagem de Denver a Brigham City aconteceu no mais pesaroso e absoluto silêncio.
Penny, ou melhor, Esther não tinha forças para dizer nada, tudo havia acontecido muito rápido e ela ainda não tinha digerido todos os acontecimentos até ali.
A garota conseguira conhecer seu maior ídolo, estar com ele e inclusive dormir com ele. Mas ela não parava de pensar no preço que a vida cobraria dela. Isso até agora, mal ela sabia o que estava por vir.

"Quem será que teria contado aos meus pais onde eu estava?" - pensava a garota

Já era cerca de 6:00 pm quando a família chegou na cidade.
Ao entrar na rua da Igreja a família pôde perceber uma movimentação incomum, muitas pessoas nas ruas, algumas com cestas e potes em mãos, e o número de pessoas aumentava conforme se aproximavam de casa.

Por fim, ao chegar no destino puderam perceber muitas pessoas em frente a casa e a igreja.

- Por que Jhon não deu o recado aos fiéis? - resmungou Abraham para a esposa

Mary apenas notara que as coisas pareciam graves ao avistar Burt entre a multidão e um pressentimento ruim tomou conta da rechonchuda senhora

- Querido, porquê o Xerife está na porta de casa?

- Espero que seja para dizer que aquele satanista do Richard vai passar o resto da vida na cadeia. - vociferou o reverendo.

- Meu Deus, o Rick foi preso? - Esther quebrou o silêncio de horas sem perceber - Como isso foi acontecer? - o desespero tomava conta da garota

- Vamos - disse Abraham ignorando completamente menina e descendo do carro.
Esther esperou seus pais descerem do carro e ficou por alguns instantes refletindo sobre todas as consequências de seus atos até então, até enfim tomar coragem para descer do carro.
Ela não se apressou desceu lentamente do carro e caminhava atrás de seus pais observando toda a movimentação.

As pessoas olhavam com uma expressão que o casal não conseguia identificar, até que Burt se aproximou do casal e os abraçou

- Vocês precisarão de muita força e coragem agora... - Disse olhando nos olhos do casal e sussurrou algo para ambos.

Esther que vinha lentamente atrás apenas viu sua mãe desmaiar sendo amparada por Burt e um de seus guardas e seu pai prostar-se de joelhos e gritar com as mãos no rosto:

- NAAAAAÃO, POR QUE DEUS? POR QUE?

Burt caminhou até a garota, e com uma expressão triste olhou nos olhos da garota e disse:

- Seu irmão Jhon foi atingido por um tiro essa manhã enquanto estava na mercearia do Sr. Leping e infelizmente não resistiu ao ferimento. Sinto muito.

O mundo de Esther desabara naquele instante.
Ela era culpada por tudo aquilo que estava acontecendo com sua família, era culpada por Rick -talvez- estar na cadeia, e culpada pelo -talvez- fim da banda que ela amava. Ela havia destruído tudo que amava, absolutamente tudo com seu egoísmo e atitudes impensadas. Ela merecia ser punida.
Mas, por que? Por que justo o seu irmãozinho? A criatura mais doce e pura que ela conhecia? Por que ele e não ela?
Ela chorava enquanto pensava nisso sentada aos pés de uma árvore que ficava na frente de sua casa, enquanto via sua mãe sendo socorrida numa ambulância, seu pai sendo acompanhado por Burt para tomar as providências necessárias e o céu sendo pintado na cor de sangue naquele pôr do sol.
Ali Esther ficou por horas, sozinha, inerte já com as vestes úmidas pelas lágrimas que ela derramava e sendo observada por uma horda de pessoas que a essa altura já sabiam de tudo e secretamente (ou não) já a responsabilizavam pelo acontecido.
Passaram- se horas, Esther não sabia dizer quantas, pois perdera a noção do tempo desde que recebera aquela notícia e ela avistou o carro funerário trazendo o aparato para a montagem do funeral na Igreja.
Quantos funerais ela já havia ido naquela igreja, desde pequena? Eram incontáveis, mas pela primeira vez o peso da morte pairou sobre ela, e da maneira mais cruel que se possa imaginar pois dentro daquele caixão estava a pessoa com quem ela mais se importava na vida.
Perdida em pensamentos foi interrompida por uma mão em seu ombro, era sua mãe, que voltava do hospital após o mal súbito