Capítulo 13

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Desde a manhã de sol e piscina, se passou um dia resumido a muito trabalho. Já era sábado e o horário avançava as sete da noite. Com uma taça de vinho ao lado do notebook, Gustavo custava a se concentrar. Tentou beber um pouco para relaxar, mas foi em vão. Com a TV ligada, ouvia um noticiário local, mas sem prestar muita atenção. Esfregava os olhos e a cabeça, entediado. Alternava o olhar entre a janela do quarto e a tela do computador. Girou a cabeça e olhou para a televisão. Notou que no telejornal, repórteres anunciavam a agenda noturna da cidade fim de semana. O chamou atenção um pub irlandês que teria rodadas de irish car bomb e a música de fundo que ilustrava a programação do local era The Strokes, sua banda favorita da adolescência. Levantou-se da cama em um salto e correu para o banho. Rapidamente, se arrumou. Ajeitou os cabelos com os dedos, borrifou o perfume e foi surpreendido com uma repentina ideia. Como sempre, agiu no ímpeto para que não tivesse tempo de se arrepender.

                Sentada na cama, Maiara devorava amendoins japoneses enquanto aguardava que as unhas recém esmaltadas secassem por completo, com os dedos esticados. Ouviu duas batidinhas na porta e levantou-se da cama, surpresa. Olhou para si mesma, avaliou se estava em condições de atender a porta com aqueles trajes e então caminhou descalça até a porta. Se esforçou para que o giro na maçaneta da porta não estragasse sua unha. Se sentiu paralisada com a visão que teve em seguida.

                - Gustavo? – ela arregalou os olhos, tentando entender o que o levou até ali.

Ele estava maravilhoso e muito cheiroso, ela pôde sentir. Abriu um discreto sorriso a ela, cumprimentando-a. Estava com os olhos brilhando, parecia empolgado.

                - Oi. Aceita um convite?

                - Convite? Depende...

                - Quer sair? – ela estremeceu por dentro.

                - Sair? Com você? Agora?

                - Não, não. Sozinha. – Gustavo revirou os olhos. – Claro que é comigo, se estou convidando é porque é comigo, porra. E sim, é agora.

Ela respirou fundo, com raiva da ironia dele, mas preferiu ignorar.

                - Sair pra onde? – questionou, curiosa.

                - Para um barzinho irlandês que vi falando no noticiário. Parece ser bem legal. Olhei no mapa e não estamos longe do centro da cidade, cerca de quinze minutos de carro. Sair de casa é tudo que eu preciso em um sábado à noite. Estou entrando em parafuso aqui dentro, preciso ver gente, ver luzes de poste, ver carros na rua. E quero que você vá comigo.

                - Porque?

                - Ai, lá vem você... Porque sim, cara. Porque eu não vou sentar e beber sozinho numa mesa de bar, que decadência. Ah não ser que você prefira que eu convide a cozinheira.

Maiara olhou ao redor tentando raciocinar, confusa.

                - Gustavo, eu não sei se quero ir.

                - Você tem quinze minutos para se arrumar e me encontrar lá embaixo. – Ele disse, puxando a porta do quarto dela, fechando completamente na cara dela. Maiara girou a maçaneta e a abriu novamente e já viu Gustavo descendo o primeiro degrau da escada.

                - GUSTAVO! Quem disse que eu vou? Vai esperar sentado! – e bateu a porta.

                - Já perdeu um minuto! – ele gritou, sem que ela o visse mais.

Bufou e se encostou na porta, indignada com a prepotência dele de concluir que ela iria antes mesmo que ouvisse sua resposta. Mas se pegou pensando quais roupas de sair havia levado na mala. "Nem você mesma sabe o que quer, Maiara.", pensou com raiva. Foi até a janela. Não conseguiu ver se Gustavo a esperava, mas viu que o carro dele estava lá, exatamente no mesmo lugar em que ele estacionou no dia que chegaram na casa. Engoliu seco, indecisa. Não acreditava que recebeu um convite do Sr. Ridículo para sair naquele fim de mundo. Justo ele. Mas pensou em como seria divertido conhecer novos lugares. Isso lhe faria muito bem e facilitaria suas próximas semanas enfurnada dentro de um casarão imenso. Decidiu que iria, mas talvez nem precisaria ficar o tempo todo ao lado dele. Talvez até pegaria um táxi na volta para não precisar depender dele. Poderia de repente conhecer alguém agradável, quem sabe? Ia sim, estava decidida. Revirou a mala com pressa, procurando algo adequado, mas que não estivesse muito amarrotado. Encontrou um vestido de renda vermelha, justo e bem curtinho, com uma fenda no decote dos seios. "Não me lembro de ter trago esse vestido... Deve ter sido a Alice que o enfiou na minha mala!" e sorriu, lembrando com saudades da amiga. Se enfiou dentro do vestido com certo esforço, mas gostou do resultado. Se olhou de vários ângulos no espelho. Ficou muito sexy e valorizou seu corpo. Calçou um salto preto, altíssimo. Teve medo de que fosse alto demais e lhe causasse dor nos pés, mas insistiu em ir com ele. Se maquiou rapidamente, passando um batom vermelho matte, que deixou sua boca ainda mais carnuda do que realmente era. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto, quase no topo da cabeça. Virou sua bolsa em cima da cama, espalhando todos os seus pertences. Selecionou o que iria levar, colocando-os em uma bolsinha de mão preta. "Maquiagem para retocar, a carteira e o perfume portátil.", falou em voz alta para si mesma. Conferiu o relógio, se passaram doze minutos. Deu uma última olhada no espelho, ajeitou os seios no bojo do vestido e desceu apressada. Olhou por toda sala. As luzes estavam apagadas, não notou movimento de ninguém. Lentamente, se esgueirou pela porta que dava acesso a varanda. Começava a se enfurecer fortemente ao presumir que Gustavo havia ido sem ela. Olhou para os dois lados e o viu no fundo da varanda, no escuro. Apenas a luz da lua clareava a casa. Encostado em um pilar, ele fumava imóvel. Maiara quase se arrependeu de estar ali, maquinou em sua mente uma forma de dar meia volta e sair dali, retornando para o seu quarto e retomando seu trabalho. Mas era tarde demais. Ele a viu. Apagou o cigarro imediatamente no cinzeiro. Maiara não se mexeu, ficou parada exatamente onde estava, com o coração disparado. Gustavo fitou-a.

A aposta -  Adaptação maiotoOnde histórias criam vida. Descubra agora