Capítulo 39 - FINAL

258 29 9
                                    




O vendaval derrubava as folhas secas de uma árvore, em uma estrada de chão batido. No fundo, a luz do sol mesclada com a tonalidade das montanhas neblinadas, formavam uma bela obra abstrata da natureza.

Com uma camiseta amarela clara de mangas ¾, um jeans e óculos escuros, Gustavo dirigia em silêncio pela estrada. Apenas ouvia a melodia da música, que se encaixava perfeitamente no momento em que ele estava vivendo. Olhar pra frente, por aquele caminho que remetia a tantas lembranças, fazia com que ele se sentisse verdadeiramente emocionado. Se fechasse os olhos, ainda podia visualizar perfeitamente. Ela com um vestido vermelho ao seu lado e a música do Three doors down tocando no rádio... O local onde havia uma imensa poça d'água, onde o carro dele atolou. A chuva fria e intensa caindo sobre o seu corpo, enquanto ela se afastava lentamente, com os pés descalços. O cheiro, os sons e sensações ainda estavam muito reais em sua memória. Ele olhou pra ela, ao lado direito dele, sentada no banco do passageiro, exatamente no mesmo lugar que ela estava naquele dia memorável. Com os olhos vendados, ela repousava a cabeça no vidro. Mas resmungou, curiosa:

- Onde você está me levando, Gustavo?

Ele sorriu.

- Calma! Que desespero! Você já vai saber!

Ela sacudiu a cabeça.

- Calma? Eu estou com essa venda no rosto desde que saímos de casa, lá no Rio! Você não quis nem que eu visse pra que rodovia você iria!

- Lógico! É surpresa! TENHO CERTEZA que você nem imagina onde é!

Maiara bufou. Girou o pescoço pra trás. Tateou com a mão, até alcançar a cadeirinha de bebê. Segurou uma perninha.

- Oi filho! Seu pai é louco e botou a mamãe sem enxergar! – ela olhou pra Gustavo. – Você está de olho nele?

- Tô! O tempo todo pelo retrovisor.

- E se a chupeta dele cair? Você está dirigindo, não vai nem conseguir pegar! Vou tirar essa venda! – ela foi com as mãos em direção aos olhos.

- NÃO! – Gustavo quase deu um pulo. – NÃO TIRA! Não é pra tirar! Pô, amor, organizei com tanto carinho essa viagem, você vai estragar tudo?

Ela sacudiu a cabeça novamente.

- AI GUSTAVO, tomara que a polícia te pare na barreira, sabia? E te pergunte se você está me sequestrando. EU VOU FALAR QUE ESTÁ!

Gustavo riu.

- Ah, vai? E vai levar seu filho pra visitar o pai na cadeia?

- Lógico que não! Eu arrumo outro pai pra ele! – ela riu, provocativa.

Gustavo gargalhou.

- Ah, mas não arruma mesmo! Não é, filhão?

Ele falou, passando pelo exato local onde ele supunha ter acontecido o primeiro beijo. Tinha como referência uma árvore imensa, na qual os galhos balançavam absurdamente durante a chuva daquela madrugada. Gustavo sentiu seu coração disparar ao atravessar o portão. Olhou adiante e a viu. Ela estava EXATAMENTE igual há pouco mais de um ano atrás. As paredes estavam da mesma cor, o jardim tão bem cuidado quanto, a piscina cheia e até o clima estava parecido. Ele estacionou. Ordenou que Maiara não tirasse a venda e ficasse quieta. Desceu, abriu as portas traseiras e tirou Théo de dentro do carro. Com o filho no colo, ele olhou fixamente pro visual impactante daquela casa. Observou por alguns segundos, com os olhos marejados. Tentou não chorar com a força emocional que aquela casa representava pra ele. Engoliu seco e beijou o rosto do filhinho dos dois. Queria tanto que ele fosse um pouco maior, pra entender o tamanho da importância que aquele momento tinha pra ele..., mas não faltariam oportunidades. Ele cresceria conhecendo cada detalhe da história de amor dos pais.

A aposta -  Adaptação maiotoOnde histórias criam vida. Descubra agora