Capítulo 25

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A manhã na redação estava trivial, como todos os dias, não fosse por um detalhe: Lúcia estava de volta. Ela se reuniu com toda a equipe, agradeceu a compreensão de todos durante sua ausência. Anunciou que seriam seus últimos 15 dias no comando da redação e que, em breve, saberiam quem seria o substituto. Todos a abraçaram e desejaram um bom retorno a ela.

Em sua mesa, Maiara trabalhava concentrada quando viu Alice saindo da sala de Lúcia e lançando um olhar estranho a ela. Maiara sentiu um frio na barriga, mas ignorou e retomou com seu trabalho. No fim do expediente, Maiara organizava sua mesa enquanto todos saíam. Olhou para os lados e viu que Gustavo já tinha descido. Pegou sua bolsa no encosto da cadeira, atravessou o corredor e parou na frente do elevador. Esperava ansiosa, quando ouviu a voz de Lúcia.

- Maiara.

Ela olhou para o lado e viu a porta da sala de Lúcia aberta. Caminhou até lá, tentando entender o que estava acontecendo. A redação estava completamente vazia e já com as luzes apagadas. Entrou na sala de Lúcia devagar. Sorriu pra ela, que estava sentada em sua mesa.

- Pois não?

- Senta aqui, querida.

Maiara imediatamente obedeceu. Começou a perceber um clima estranho. Lúcia levantou da mesa e começou a andar pela sala. Maiara engoliu seco.

- Recebi uma denúncia hoje, por parte de um membro da equipe. Seria uma grande bobagem que não me diria respeito, não fossem as circunstâncias em que isso pode ter acontecido... – Maiara sentiu seu coração parar. "Alice!", pensou. Lúcia prosseguiu. – Você sabe que eu nunca, jamais interferi na relação dos meus funcionários, não sabe? – Maiara fez que sim com a cabeça. – Eu sei muito bem que muitos de vocês mantém uma amizade fora do ambiente de trabalho e isso é ótimo, influencia no rendimento de vocês... Já aconteceram casos de envolvimentos amorosos também... Que pra mim também nunca foi problema. Eu só não admito que isso extrapole os limites da ética e do profissionalismo. – Maiara ouvia muda, com o coração loucamente disparado. – Eu te pergunto, o que você tem a me dizer, Maiara? – Lúcia questionou, mas de forma tranquila e não acusatória.

Maiara pensou bem. Estava confusa.

- Por enquanto nada, eu não estou entendendo onde você quer chegar, Lúcia, desculpe. – Ela foi firme, mas delicada.

- Então vamos direto ao ponto. Corra os olhos rapidamente por esse artigo. Eu vou aguardar. – Lúcia estendeu uma pasta, entregando-a a ela e sentou-se na cadeira.

Maiara fitou a capa. Sentiu-se empalidecendo quando leu o título. "Avesso do avesso, por Gustavo Mioto." Folheou rapidamente, tentando fixar os olhos em frases-chave para o seu entendimento. Compreendeu o conteúdo. Sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos, mas reprimiu uma a uma. Ficou ofegante, mas disfarçou. Teve medo que seu coração saísse pela sua boca. Com as mãos e a boca trêmulas, folhava página por página, dando uma rápida olhada. Não podia ser verdade. Não podia acreditar no que estava vendo. Gustavo usou a história do romance dos dois em seu artigo. Claro que não usou seus respectivos nomes e nem a casa da serra. Mas cada fala, cada momento, cada beijo e cada transa. Ele não escreveu em formato de literatura, era tudo metafórico, era uma análise profunda. Mas eram eles. Era ela. Era o coração e as lembranças dela arreganhados em folhas de papel. "Avesso do avesso, meu Deus! A minha frase!". Suas pernas tremiam e ela tentava desesperadamente manter a calma na frente da chefe. Ele redigia interpretações próprias pra cada momento dos dois, como finalização de cada capítulo. As músicas... Eram as mesmas músicas, que só os dois saberiam. Ela rezou mentalmente pra que ela acordasse daquele pesadelo, mas infelizmente, era realidade. "Ele me usou. Ele me fez de cobaia. Foi isso que eu fui pra ele, um documentário próprio. Ele expôs nossa intimidade, ele... Meu Deus!" Maiara concluiu a última página, mergulhada em um completo desespero. Foi sugada de seus pensamentos pela voz de Lúcia.

A aposta -  Adaptação maiotoOnde histórias criam vida. Descubra agora