Capítulo 14

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Por volta de três da manhã, o show da banda estava no auge e algumas pessoas arriscavam se levantar e ficarem dançando ao redor de suas próprias mesas. Maiara e Gustavo devoravam uma carne de onça, um petisco delicioso tipicamente irlandês. Falavam sobre trabalho e comentavam fofocas a respeito dos colegas de redação e da própria chefe. A banda deu um intervalo de quinze minutos no show, o que fez com todas as pessoas retornassem para seus assentos. Maiara correu os olhos por todo o recinto, tentando localizar o banheiro. Visualizou no canto direito, abaixo da escada, uma luz vermelha de onde várias mulheres saíam de batons retocados. Se tocou de que precisava ir ao banheiro imediatamente, não havia ido nenhuma vez naquela noite. Avisou Gustavo, que concordou com a cabeça e sorriu. Ela se levantou da mesa e sentiu-se levemente bêbada, mas não o suficiente para que as outras pessoas percebessem. Traçou uma linha reta da mesa até o banheiro e a seguiu fielmente. Atravessou o pub marchando em seus sapatos altíssimos, com suas pernas torneadas. Era um mulherão, chamava a atenção por sua postura e sua forma leve e incisiva de caminhar, de nariz empinado e peito estufado. Gustavo a observava de longe, discretamente encantado. Olhou ao redor. Todos os homens da boate que ele conseguia visualizar olhavam para Maiara. Alguns com um olhar de cobiça e, a grande maioria, com olhar de desejo. Aquilo o irritou de uma forma inimaginável. Se martirizava mentalmente por estar sentindo ciúmes dela, mas sabia que aquilo era reflexo de um sentimento que ele tentava com todas as suas forças sufocar dentro de si. Sentiu vontade de socar a cara de cada um deles, apenas por terem olhado-a, sem considerarem o fato de que ela poderia pertencer a outro homem. Gustavo riu de si mesmo, pois esse homem definitivamente não era ele. Pensou em como ela reagiria se pudesse ouvir seus pensamentos: "Eu pertenço apenas a mim mesma, seu machista!", era o que ela com certeza diria. Corria os olhos por todos os cantos atentamente. Viu quando um rapaz se levantou de sua mesa e caminhou até o balcão. Pegou duas bebidas e se recostou em um banco. Gustavo o fitava, observando cada movimentação dele. Presumiu do que se tratava aqueles dois copos de bebida, mas aguardou para ver no que daria. Viu Maiara sair do banheiro fechando o colchete da bolsa. Ela passou na lateral do palco e cruzou em frente ao balcão, onde se encontrava o rapaz sentado. Imediatamente, o homem se levantou e caminhou até ela. Ele abordou Maiara, que se virou para ele e sorriu enquanto recebia o copo de bebida das mãos dele. Gustavo sentiu seu coração quase saltar do peito. Ficaram por alguns poucos minutos frente a frente, conversando. Olhou para o rosto de Maiara, que gesticulava e dialogava com ele, aparentemente a vontade. Os olhos de Gustavo chamuscavam, enquanto ele balançava a perna sem parar de ansiedade. Percebeu uma tentativa de Maiara de devolver o copo a ele, mas sem sucesso. Ela dava passos para trás, em uma insistente tentativa de se desvencilhar dele, mas o rapaz persistia, cercando-a. Em um determinado momento, Maiara colocou o copo no balcão descartando-o e girou o corpo, ficando de costas para o homem, que segurou o braço dela, aparentemente tentando forçá-la a ficar ali. Gustavo sentiu o sangue subir até sua cabeça. Levantou-se da mesa atordoado e marchou até o balcão, cego de ódio. Parou ao lado de Maiara, tocou a cintura dela e sorriu para ela, dizendo:

                - Nossa! Como você demorou no banheiro! – e fitou o homem, com um olhar irado. Ele percebeu que ela estava acompanhada e imediatamente soltou o braço de Maiara e saiu de perto.

Maiara girou o corpo, ficando frente a frente para Gustavo. Os olhos dela vibravam, tamanha a raiva que sentia. Caminhou ventando até a porta da boate e sumiu das vistas de Gustavo. Ele correu atrás dela, desorientado, pensando na burrada que havia feito. Ou não. Correu até o exterior da boate. Viu que estava relampeando e o céu estava avermelhado, armando uma tempestade. Olhou para os lados. Viu-a na calçada, tentando sem sucesso encontrar um táxi. Caminhou até ela, que estava virada de lado para ele, mas mesmo assim o viu. Imóvel, ela deu apenas um aviso, sem olhar na cara dele:

                - Não encoste em mim. – falou pausadamente.

Gustavo sentiu um arrepio na espinha. "Meu Deus, o que foi que eu fiz?", pensou.

A aposta -  Adaptação maiotoOnde histórias criam vida. Descubra agora