Capítulo 20

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Oito em ponto da manhã, o despertador ressoou no quarto de Gustavo. Ele abriu os olhos com dificuldade, remexeu na cama sonolento e exausto. Vestia apenas a bermuda de pijama que habitou o chão do quarto de Maiara por algumas horas na madrugada anterior. Ele puxou o celular para se certificar de que já era hora de acordar mesmo. Parecia que tinha dormindo por cinco minutos apenas, tamanho seu cansaço. Na noite anterior, ele se atirou na cama após se despedir dela. Inebriado de sono, sonhou que ela entrava no quarto dele completamente nua e dava continuidade a noite de sexo que interromperam. Acordou excitado, mas dormiu novamente. Agora não tinha a opção de retomar com o sono, precisava levantar e concluir seu artigo. Se arrastou até o banheiro, todo amarrotado e descabelado. Escovou os dentes, jogou uma água gelada no rosto pra despertar e se olhou no espelho. As marcas da intensa madrugada estavam por todo o corpo de Gustavo. Sinais das unhas de Maiara retalhavam as costas, o peito e os braços dele. Gustavo mordeu na boca e sorriu, olhando para os vergões avermelhados. Era a prova concreta de que ele havia feito-a sentir um prazer que não cabia nela. A lembrança de Maiara gemendo de olhos fechados e se contorcendo embaixo dele fez com que Gustavo se arrepiasse. Lembrou-se do cheiro e do gosto do corpo dela, que ele lambeu por inteiro. Nem o maior e melhor banquete desse mundo superava o sabor. Percebeu que estava excitado demais pra trabalhar, precisava se acalmar um pouco. Arrancou a bermuda e entrou debaixo do chuveiro gelado. Deixou que a água caísse sobre seu corpo inteiro. Fechou os olhos e desejou a si mesmo muita sorte para executar seu trabalho da melhor maneira possível.

                Maiara acordou mais tarde. Eram quase dez horas. Levantou da cama num salto. Nua, jogou a camiseta de Gustavo no encosto da cadeira da escrivaninha. Tomou um banho, vestiu um roupão e organizou suas coisas. Dobrou peça por peça em rolinhos, separou a roupa que iria vestir pra viajar e fechou o zíper da mala. Secou os cabelos, vestiu uma calça jeans justa e confortável, uma blusa e um tênis. Arrumou a cama, enfiou seus livros, rascunhos, estojo e o notebook dentro de uma pasta, reuniu tudo em um canto do quarto e desceu pra tomar café. Esperaria Gustavo dar as caras lá embaixo, no jardim. Pegou um copo de suco na mesa, sentou nas cadeiras de veraneio e respirou a brisa da serra olhando para a piscina. Pensou no dia em que colocou os pés naquela casa, há menos de um mês atrás. Nunca, JAMAIS imaginou que aconteceriam tantas coisas, como aconteceram. Lembrou-se de Gustavo jogando-a na piscina, quando ela desceu pra tomar um ar. "Idiota!", pensou e sacudiu a cabeça negativamente, sorrindo. Ela recostou a cabeça pra trás e fechou os olhos. Cada canto daquela casa refletia em uma lembrança. Aquele portão, por onde ela passou disparada em prantos debaixo de um temporal, após beijar Gustavo pela primeira vez. Aquela cozinha, onde deram o primeiro amasso mais quente. Aquela copa, onde trocaram farpas, onde ele a segurou pelo braço e ela sentiu seu coração disparar por ele. Foi ali que ele despertou nela um interesse, ainda oculto na época. Foi ali também que decidiram romper algo que mal tinha começado, mas sem sucesso. Aquelas cadeiras, onde conversaram sobre lealdade e honestidade. Ela soube muito dele, mesmo sem ele ter contado. Aquela piscina onde conseguiram dialogar pacificamente pela primeira vez e ela notou um olhar diferente dele pra ela. Ela olhou pra cima e viu as janelas dos quartos dos dois. São apenas duas esquadrias de vidro que se abrem ao meio, mas pra Maiara elas tem um significado muito mais forte. Funcionaram não como janelas e sim como portas de entrada pra muitos contatos de um com o outro se iniciarem ou mesmo se revelarem. Ela não conseguiu ver Gustavo na janela dele. Olhou no relógio e estava quase na hora do almoço. Torceu pra que ele não demorasse, ela estava muito ansiosa pra ir embora logo e abrir uma nova página de sua vida. Aquela casa representou muito pra ela, mas ela não conseguia pensar com clareza dentro dela. Não mais. Não dormindo ao lado de Gustavo, parede com parede. A tentação era grande, a confusão na cabeça e no coração dela também. Tentou pensar em outra coisa. Acabou se lembrando do cargo, que era pra ter sido o foco principal daquela estadia, mas acabou sendo jogado pra escanteio. Desejava TANTO aquele cargo, queria TANTO essa realização profissional, seria muito importante pra ela. Naquele quesito, seus interesses se esbarravam com o de Gustavo e ela sentiu um ligeiro aperto no coração por isso. Parecia que aquele cargo e sua relação com Gustavo eram dois extremos que nunca, jamais seriam paralelos. Doía fortemente pensar isso. Se tocou do tamanho da encrenca que tinha se enfiado. Chegou a esboçar um arrependimento e uma raiva, mas não eram sinceros. Não abriria mão de tudo o que viveu com ele apenas por uma incerteza. Decidiu na noite anterior, quando abriu a porta daquele quarto pra ir atrás dele, que não se acovardaria diante de uma situação que ela nem conseguia prever. Nunca mais deixaria de viver nada por medo. Nunca mais.

A aposta -  Adaptação maiotoOnde histórias criam vida. Descubra agora